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Haiti não sai das ruínas

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A reconstrução do Haiti segue lentamente em meio a problemas financeiros e políticos.
Nova York, Estados Unidos, 28/7/2011 – Enquanto o Haiti continua lutando para se recuperar do terremoto de janeiro de 2010, que matou mais de 200 mil pessoas e obrigou cerca de 1,5 milhões a viverem em acampamentos, o financiamento internacional ainda não atingiu as generosas promessas feitas no ano passado. Além disso, os problemas dentro do próprio governo haitiano estão dificultando o desembolso da ajuda.

“A quantidade de escombros que permanece nas ruas daria para encher oito mil piscinas olímpicas”, segundo afirma o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em um estudo apresentado em Nova York. A maior parte está na capital, Porto Príncipe, impedindo que seus habitantes regressem para suas casas, reiniciem suas vidas e participem de um verdadeiro processo de recuperação do país.

O custo estimado da reconstrução é de US$ 11,5 bilhões, “e as organizações que trabalham no Haiti precisam de contínuo apoio”, segundo o Pnud. Em março de 2010, os Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) prometeram mais de US$ 9 bilhões para reconstruir o país, incluindo US$ 5,3 bilhões para o período 2010-2011.

Entretanto, apenas US$ 352 milhões foram enviados ao Fundo para a Reconstrução do Haiti até agora, dos quais US$ 237 milhões desembolsados para 14 projetos, segundo o primeiro informe anual da entidade, divulgado no dia 22. Pelo menos 600 mil pessoas ainda vivem em barracas de campanha e mais de 5.500 morreram devido à epidemia de cólera registrada em outubro do ano passado.

Os esforços de reconstrução são liderados não apenas por países doadores, ricos e pobres, mas também por organizações internacionais com ONU, Banco Mundial, União Europeia, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Ibas (fórum formado por Índia, Brasil e África do Sul).

O embaixador da Índia na ONU, Hardeep Singh Puri, disse à IPS que seu país fez uma “modesta contribuição” de US$ 5 milhões imediatamente após o terremoto, seguidos de US$ 500 mil entregues ao Fundo Central de Emergências das Nações Unidas. “Também prometemos reconstruir um dos ministérios a ser indicado pelo governo haitiano”, acrescentou.

Além disso, o Ibas prevê expandir sua ajuda para proporcionar outros serviços aos haitianos, como abrigo, água potável e saneamento. Atualmente, os três países gastam mais de US$ 2 milhões nestas iniciativas, e também na reconstrução de uma clínica comunitária. Por outro lado, o Fundo para a Reconstrução do Haiti, criado em junho de 2010 pelo governo haitiano, o BID, a ONU, o Banco Mundial e outros doadores desembolsaram cerca de 71% dos US$ 335 milhões que recebeu.

Em seu informe anual, divulgado na semana passada, o Fundo diz que um forte apoio financeiro é essencial para garantir que o processo de reconstrução atenda as prioridades do Haiti, como agricultura, geração de empregos, investimentos, moradia e educação.

Consultado sobre os progressos feitos até agora, Josef Leitmann, gerente do Fundo disse à IPS que “temos de ser realistas e reconhecer que a reconstrução sob estas circunstâncias excepcionalmente difíceis vai demorar”. Citou como exemplo as dificuldades para reconstruir Aceh, na Indonésia, epicentro do terremoto e subsequente tsunami, em 2004, no Oceano Índico, e afirmou que a recuperação foi lenta inclusive nos Estados Unidos, após o Furacão Katrina em 2005. E os dois países têm governos centrais que funcionam corretamente, ressaltou.

“O terremoto de 2010 exacerbou os desafios existentes no Haiti: baixa capacidade do governo e falta de infraestrutura e serviços”, disse Leitmann. As grandes perdas humanas, econômicas e institucionais fazem com que a reconstrução seja uma tarefa de longo prazo, prosseguiu, mas, destacando que “vemos um importante progresso em áreas importante: reconstrução de moradias, remoção de escombros e educação”.

Segundo Leitmann, “este progresso é possível quando governo, comunidade internacional, setor privado e organizações não governamentais trabalham juntos colocando as pessoas em primeiro lugar”.

O Brasil foi o primeiro contribuinte do Fundo, com US$ 55 milhões, enquanto os Estados Unidos continuam sendo o maior doador, com US$ 120 milhões, seguido de Canadá, Japão, Noruega e Espanha, cada um com, pelo menos, US$ 30 milhões. Mas, também houve contribuições de nações em desenvolvimento e não ocidentais, como Colômbia, Nigéria, Omã, Tailândia, Chipre, Estônia e Letônia.

Quando o Conselho de Segurança da ONU recentemente exortou a comunidade internacional a aumentar sua ajuda para a recuperação do Haiti,, houve apoio tanto de nações pobres quanto das ricas. Talvez uma das promessas coletivas mais importantes – um reflexo de cooperação Sul-Sul – seja a da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que anunciou US$ 100 milhões de apoio financeiro ao Haiti.

Pelo menos 65% dos fundos já foram desembolsados e são coordenados pelo novo escritório da Unasul em Porto Príncipe. Enquanto isso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas cobrou do governo haitiano, do presidente Michel Martelly, maior dedicação a questões urgentes de reconstrução e a garantia da estabilidade e da vigência da lei no país.

No entanto, Martelly, que tomou posse em 14 de maio, enfrenta uma disputa com o parlamento – onde não tem maioria – que já rejeitou seu primeiro nome para o cargo de primeiro-ministro e se prepara para fazer o mesmo com o segundo indicado. Assim, o país continua sem ter um governo funcionando. Envolverde/IPS