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Israel votou por mais do mesmo, mas quer mudanças

Jerusalém, Israel, 31/1/2013 – “Aquele que crê, não teme”, diz o reeleito primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, um ditado popular muito repetido por seus seguidores. De fato, fé é exatamente o que precisa por causa da queda de apoio popular registrada nas últimas eleições. “Teremos problemas na coalizão” de governo, disse um legislador do governante partido Lijud.

Netanyahu só conseguiu se manter no cargo por causa da redução dos votos obtidos pelo Likud nas eleições parlamentares, frente a um forte avanço dos partidários centristas que se voltaram para Yair Lapid, há apenas um ano uma celebridade da televisão, transformada em figura política, e agora uma pessoa influente que, possivelmente, mude o jogo político.

Agora, Netanyahu se dedica a construir uma coalizão de centro-direita que inclua Lapid. Resta saber se excluirá seus aliados naturais, o ultranacionalista partido A Casa Judia ou os ultraortodoxos.

“Os que votaram em nós escolheram normalidade, confiança mútua, educação e moradia, atenção para os mais necessitados”, disse Lapid quando deixou claro que seu partido, o Yesh Atid (Há um Futuro), ficou em segundo lugar nas eleições do dia 22. “O Estado de Israel enfrenta os mais complexos desafios. A crise econômica ameaça nossa classe média e o país está isolado devido ao impasse diplomático”, afirmou Lapid.

“O povo reclama justiça social” se converteu há dois anos no chamado da classe média para encontrar um estilo de vida que atendesse suas expectativas, normalidade. O protesto cedeu, mas os problemas sociais permanecem.

Atento às reclamações das pessoas, Lapid defendeu em sua campanha eleitoral uma redução do custo de vida, incluindo moradia econômica para os casais jovens, distribuição mais igual do peso da defesa, com a ideia de recrutar os ultraortodoxos, agora isentos do serviço militar, e o reinício das conversações de paz com o presidente palestino, Mahmoud Abbas.

Netanyahu escolheu ignorar essas reclamações e, por outro lado, reciclou velhas ideias. Seu inflexível e implacável slogan foi “um primeiro-ministro forte para um Israel forte”. Mas um déficit orçamentário de US$ 10,5 bilhões (4,2% do produto interno bruto) denuncia a vulnerabilidade de Israel.

Como das vezes anteriores em que assumiu o cargo de primeiro-ministro (1996 e 2009) diante do Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado do judaísmo, Netanyahu foi até esse local depois de votar como se ele próprio fosse o último muro contra a divisão de Jerusalém. Penso que defenderia sua importância política apenas mantendo o status quo da ocupação na Cisjordânia e reforçando as estacadas e os muros de Israel contra Síria, Egito e Faixa de Gaza. Negou-se a prosseguir com o processo de paz de Annapolis (2007-2008), iniciado nessa cidade norte-americana por seu antecessor Ehud Omert e, por outro lado, preferiu discutir novamente o começo das conversações de paz.

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

No começo de seu mandato anterior, em maio de 2009, em seu significativo discurso sobre sua política na Universidade Bar Ilan, se comprometeu com o princípio de um “Estado desmilitarizado” na Palestina. Depois concordou, com relutância, a impor moratória de dez meses na construção de assentamentos. Contudo, em lugar de seguir o conselho de Washington para prolongar a moratória por mais três meses, Netanyahu disparou a expansão de colônias na ocupada Jerusalém oriental e em partes da Cisjordânia.

Em sua campanha eleitoral, além do autodeclarado recorde em matéria de segurança, a única ação da qual se gaba foram as medidas promovidas por seu governo para criar um clima competitivo no mercado da telefonia celular, o que permitiu uma sensível redução das tarifas de telecomunicações.

Reeleito, embora com pequena margem, Netanyahu reformulou, com atraso, seus principais condutores. Embora “impedir que o Irã se dote da bomba atômica” continue sendo a “primeira prioridade”, a “busca da paz agora é a terceira”, afirmou Netanyahu. Também prometeu corrigir as desigualdades sociais. além disso, a ameaça de um ataque unilateral contra instalações nucleares da República Islâmica fica reduzida às habituais discursos vazios, a julgar pelas declarações do legislador do Likud, Tsahi Ha-Negbi. “Netanyahu tem muito claro que, a menos que o mundo evite que o Irã tenha a bomba atômica, nós teremos que tomar a iniciativa”, pontuou Ha-Negbio.

O editor de notícias da televisão pública, Uri Levy, disse que “não há diferença entre direita, centro e esquerda, todo mundo sabe que o Irã é uma ameaça. Netanyahu tem assim, consenso para qualquer coisa que fizer a respeito. Naturalmente, dependerá do que o Irã fizer”. No entanto, quanto a Netanyahu manter o conflito com os palestinos ou tentará resolvê-lo, mostrou cautela. “Uma esmagadora maioria dos israelenses espera um grande compromisso, desde que existe a mesma compreensão e compromisso histórico dos palestinos”, ressaltou.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pode se permitir um sorriso. É que Netanyahu desejará melhorar sua relação e formará uma coalizão moderada. Ha-Negbi opinou que agora será mais fácil para o primeiro-ministro manter Israel no mesmo status quo e falta de iniciativas.

Caso se mantenha fiel a si mesmo, Netanyahu se afastará de alguns dos defensores da anexação favorável à ocupação e da direita religiosa, se aproximará do centro e, talvez, de uma modesta paz de dois Estados que derive em uma divisão do território, mais ou menos em dois. Entretanto, entre o antigo Netanyahu de “muito barulho e pouco resultado”, que não fez quase nada em seu mandato anterior, e o novo, que enquanto forma uma coalizão faz o que pode para sobreviver, os críticos já preveem eleições antecipadas. Envolverde/IPS