Itamaraty abre diálogo com a sociedade civil para a COP-20

Na foto, o Embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho conversa com a imprensa sobre a Conferência de Clima de Varsóvia, em novembro de 2013.
Na foto, o Embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho conversa com a imprensa sobre a Conferência de Clima de Varsóvia, em novembro de 2013.

A incoerência entre o discurso internacional e as políticas nacionais adotadas pelo governo federal (redução do IPI, Código Florestal, Pré-Sal, etc.) foi o que sobressaiu entre os temas levantados pelos representantes da sociedade civil que atenderam à convocação do Ministério de Relações Exteriores para uma reunião durante o dia 26 de fevereiro. O objetivo era avaliar a COP-19, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas que aconteceu em novembro, em Varsóvia, e a preparação para a COP-20, prevista para dezembro deste ano em Lima. O chefe da delegação brasileira, embaixador José Marcondes, participou apenas da abertura dos trabalhos e se ausentou durante a maior parte da reunião, que durou das 9h às 17h, no Itamaraty, e foi conduzida pelos diplomatas Everton Lucero e José Raphael de Azeredo.

A transmissão online e a possibilidade de participação remota, com o envio de perguntas para os negociadores brasileiros que compunham a mesa, causaram boa impressão em relação ao encontro. A sugestão para a transmissão foi feita por organizações de jovens. O vídeo será editado e disponibilizado pelo canal do MRE no Youtube.

Após um breve relato das negociações em Varsóvia, o microfone foi aberto à participação dos mais de 50 presentes. A proposta de mensurar as responsabilidades históricas de cada país, bloqueada pelos países desenvolvidos durante as negociações em novembro, foi uma das questões mais criticadas, ao lado da incoerência entre o discurso dos representantes brasileiros as políticas do governo. Foram tantas as críticas a esse respeito que o ministro Everton Lucero chegou a pedir ao público para se ater aos temas de política internacional.

Na parte da tarde, os diplomatas voltaram a convidar os presentes a levantarem propostas e soluções concretas para avanças nas negociações internacionais, em vez de continuarem a  interrogar e insistir em pressionar o governo sobre pautas de interesse localizado, como aconteceu na maioria das intervenções. A proposta de realização de consultas nacionais sobre o acordo de 2015 foi feita pela representação brasileira em Varsóvia. O formato está aberto a sugestões da sociedade civil.

Assim como em Varsóvia, a participação da juventude nos debates foi apontada como de extrema importância pelos presentes. A representação dos jovens – entre as quais a do Engajamundo – formalizou a queixa sobre a falta de apoio para acompanhar as negociações, apesar das tentativas de obter, junto aos Ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, apoio financeiro para acompanhar essa reunião. Os diplomatas agradeceram a presença dos jovens – que estiveram em Brasília por conta própria – e prometeram fazer o possível para mudar essa situação nos próximos encontros. Os grupos de jovens consideram fundamental viabilizar a participação da juventude que vive nas comunidades tradicionais afetadas diretamente pela mudança do clima.

A disposição do Itamaraty para ouvir a sociedade civil, mais do que expor políticas já decididas, é uma fórmula que merece elogios e deve ser seguida por outras instâncias do governo brasileiro para manter um diálogo fértil com os grupos interessados nesse tema crucial para a sustentabilidade. Às ONGs e movimentos sociais cabe, porém, apresentar mais propostas e soluções nesses raros espaços de participação direta para ter mais consistência ao pressionar o governo na formulação de políticas que atendam aos interesses de toda a sociedade.

* Raquel Rosenberg é coordenadora do Engajamundo, uma organização de liderança jovem que acredita no poder da juventude para superar os desafios contemporâneos e busca aproximar os jovens brasileiros das conferências internacionais.