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Jovem ugandesa cria frangos para sair da pobreza

Eunice Namugerwa, moradora do assentamento irregular de Kinsenyi, na capital de Uganda, começou a criar frangos para ajudar no sustento da família. Foto: Amy Fallon/IPS

Kampala, Uganda, 27/6/2013 – Eunice Namugerwa, de 18 anos, moradora do assentamento irregular de Kisenyi, na capital de Uganda, decidiu iniciar um negócio para ajudar sua família. Escreveu três ideias em um pedaço de papel: criação de porcos, de frango ou uma loja de roupas. Nunca suspeitou que seu espírito empreendedor a levaria a receber um convite para falar em um encontro de Tecnologia, Entretenimento e Projeto, destinado a difundir e compartilhar ideias, para inspirar outras pessoas.

Namugerwa começou seu negócio por necessidade. Seu pai, o sustento da família, morreu de aids em 2004. Em 2012, sua mãe estava muito doente para continuar trabalhando. “Foi realmente muito difícil, porque encontrei muitos obstáculos”, contou à IPS sobre sua experiência desde que, em agosto do ano passado, colocou suas ideias no papel. “Há abuso infantil. O ambiente em que vivemos não é bom, muito sujo. Sempre aparece alguma doença. Poderíamos ter morrido de fome em casa. Não queria isso, nem mendigar, e busquei uma saída”, explicou.

As três ideias eram difíceis e Namugerwa teve que superar várias barreiras antes de poder concretizar uma. Apesar de ter sido obrigada a abandonar várias vezes a escola porque sua família não podia pagar, aprendeu a tocar flauta e violão graças ao Projeto Mariposa, que capacita os jovens para iniciarem um negócio próprio. Após descobrir seu talento para o canto, o projeto decidiu financiar seus estudos na Escola de Música de Kampala.

Em 2011, começou seu próprio projeto de ajuda a meninos e meninas pobres, ensinando-os a cantar, dançar, atuar e praticar esportes. Mas seu empreendimento seguinte teve de ser para sua família. Realizou três orçamentos para cada uma de suas ideias. A jovem não estava segura de haver mercado para uma loja de roupa e pensou que comprar leitões para criar sairia muito caro. Assim, decidiu-se pela criação de frangos por exigir menos capital.

Naquela época conheceu Tiarna Elmer, uma professora britânica e voluntária da Mengo Youth Development Link, que trabalha em favelas de Kampala melhorando a educação e a formação esportiva das crianças. Elmer deu a Namugerwa o equivalente a US$ 576 para comprar frangos e alugar um pequeno terreno no distrito de Wakiso, a 30 minutos do assentamento onde vive.

Nos últimos dias do ano passado, comprou frangos e, depois, poedeiras. “Atualmente, em Uganda os ovos custam caro”, cada um chega a US$ 0,15, contou Namugerwa. Agora ela tem 200 frangos e trabalha no criadouro nos finais de semana e nas férias. Nos outros dias, seu irmão de 23 anos cuida da criação. O aluguel do terreno lhe custa US$ 11 por mês. Além disso, junto com uma irmã de 22 anos, iniciou um negócio de DVD perto da granja.

A empreendedora ainda não obteve lucro, mas espera começar a receber cerca de US$ 385 mensais dentro de uns dois meses. O dinheiro será para sua mãe, que antes sustentava a família com a fritura de batata, que vendia em um mercado local. Mas agora está de cama. “Continua muito doente, mas disse que está contente com a ideia porque já não temos que nos preocupar com a comida”, detalhou Namugerwa, que continua vivendo em Kisenyi. “A maioria dos meus amigos está orgulhosa do que faço, e alguns dizem que querem fazer o mesmo que eu”, afirmou.

No entanto, não é fácil. Namugerwa enfrentou vários desafios, como as doenças dos frangos e o elevado custo da ração. “Gostaria que houvesse mais mulheres trabalhando em granjas e cuidando de negócios. Gosto de incentivar as ugandenses a encontrarem soluções para seus problemas. É muito importante que as jovens possam se sustentar”, afirmou a jovem. Muitas de suas amigas deixaram a escola e engravidaram.

Estima-se que quatro em cada cinco mulheres trabalham no setor agrícola em Uganda, segundo uma Pesquisa de Produtividade e Gênero, realizada pelo Centro de Pesquisa em Política Econômica, em 2008. A organização britânica Send a Cow, que oferece capacitação, gado, sementes e apoio familiar em sete países africanos, afirmou que a maioria dos agricultores é de mulheres, pois são elas que tradicionalmente se dedicam à terra e ao sustento da família.

Richie Alford, diretor de impacto e desenvolvimento da Send a Cow, disse à IPS que criar frangos é uma boa forma para crianças órfãs melhorarem e diversificarem sua dieta com proteína animal e começarem a gerar uma renda sustentável a partir de ovos e frangos. “As fezes do frango também podem servir de adubo nos jardins, pois aumenta a fertilidade do solo e sua retenção de água”, explicou.

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, José Graziano da Silva, declarou, no começo do ano, durante visita ao país, que se dá pouca atenção ao papel das camponesas em garantir o sustento de suas famílias, apesar de desempenharem um papel fundamental na produção agrícola e na alimentação de seus familiares.

A popular artista ugandense Annet Nandujja é um exemplo para Namugerwa. Esta mulher dedicada à música, com cerca de 50 anos, teve uma granja de frangos em Kampala por oito anos. Em geral, os músicos não gostam de se envolver com o pouco charmoso mundo da agricultura, disse à IPS. “Todos os dias incentivamos as mulheres dizendo que não esperem sentadas seus maridos darem o que precisam. Devem abrir caminho fazendo algo assim. Uma mulher pode querer ficar em casa, mas também pode fazê-lo dedicando-se a isto”, acrescentou. Envolverde/IPS