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“Juvenistão”, o eleitorado no qual todos apostam na Índia

Um ato do Partido Bharatiya Janata em Bhubaneswar. Boa parte da campanha eleitoral, particularmente a dirigida aos jovens, se desenvolve cada vez mais na internet. Foto: Manipadma Jena/IPS
Um ato do Partido Bharatiya Janata em Bhubaneswar. Boa parte da campanha eleitoral, particularmente a dirigida aos jovens, se desenvolve cada vez mais na internet. Foto: Manipadma Jena/IPS

 

Bhubaneswar, Índia, 9/4/2014 – Nas 16ª eleições gerais na Índia, que acontecem entre 7 de abril e 12 de maio, os jovens, que representam quase a metade dos 814 milhões de eleitores do país, podem ser decisivos. E a internet é usada cada vez mais para se chegar aos jovens no maior exercício democrático do mundo. A Índia tem 383 milhões de eleitores entre 18 e 35 anos. Para destacar sua importância, os pesquisadores dão a esse enorme segmento o nome de “juvenistão”, ou nação da juventude.

Não é apenas que as promessas eleitorais são desenhadas para atrair esse setor da população, mas também, pela primeira vez, a campanha busca dar participação aos eleitores pela internet, especialmente das redes sociais. “Há participação, e também os políticos estão ouvindo e respondendo aos jovens eleitores pelos meios sociais”, disse à IPS Sunil Abraham, do Centro para a Internet e a Sociedade, uma entidade sem fins lucrativos com sede em Bangalore.

O envio de mensagens de texto, usado para chegar aos eleitores nas últimas eleições, em 2009, agora deu lugar a uma cesta tecnológica de celulares, campanhas por e-mail, sites de “conheça seu líder” e de partidos políticos, mensagens por telefones inteligentes, contas interativas no Facebook e Twitter, consultas frequentes no buscador Google e vídeos no YouTube.

Profissionais das redes sociais dizem que pelo menos 10% dos US$ 664 milhões que formam o orçamento publicitário total dos partidos políticos provavelmente são destinados a empresas dedicadas a esses tipos de plataformas na internet. A base de usuários da internet na Índia é estimada em 205 milhões, os usuários do Facebook em 65 milhões, os do Google+ (a rede social do buscador) 36 milhões e os do Twitter 16 milhões.

No documento Meios Sociais e Aplicação da Lei, o Escritório Central de Investigações da Índia projeta que o número total de usuários chegará a 243 milhões em junho deste ano, dos quais 192 milhões serão ativos (usam a internet pelo menos uma vez por mês), 56 milhões deles rurais. Entre 50% e 60% dos usuários atuais da internet estão na faixa de 18 a 35 anos, segundo Abraham. Os políticos estão aproveitando essa base de eleitores jovens, que é enorme e está crescendo, não só para potencializar seu alcance, mas também para monitorar a participação e desenvolver campanhas mais efetivas.

“Os políticos nos contratam para saber o que estão dizendo sobre eles os líderes de opinião no Twitter, e nós classificamos os twittes positivos e negativos para sua análise”, explicou à IPS Jwalant Patel, na faixa dos 30 anos, cofundador da Meruki Analytics and Reporting Services, firma especializada em redes sociais. São considerados líderes de opinião, ou “influenciadores”, os que têm pelo menos dez mil seguidores no Twitter, detalhou.

Dos 70 mil influenciadores que a empresa identificou para seus 11 clientes nas primeiras semanas após o início de suas operações, 90% têm entre 18 e 40 anos. Patel disse que 160 dos 543 distritos eleitorais que concorrem às urnas serão “os dos meios sociais”, onde os resultados serão impactados pela participação dos políticos na internet.

O candidato do primeiro-ministro pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), Narendra Modi, de 63 anos, tem 3,66 milhões de seguidores no Twitter, enquanto o líder do Partido Aam Aadmi (AAP), Arvind Kejriwal, de 45 anos e cuja plataforma anticorrupção se acredita que gere interesse político entre os jovens indianos, tem 1,58 milhões. Pelo Partido do Congresso, Rahul Gandhi, de 43 anos, não tem conta oficial no Twitter.

A participação sustentada dos jovens em protestos, após a violação que aconteceu em dezembro de 2012 em Nova Délhi, e a favor do projeto de lei anticorrupção Lokpal, foram fatores fundamentais no ativismo político da juventude nessas eleições, disseram analistas.

A dinâmica do processo eleitoral mudou na Índia, que tem 1,2 bilhão de habitantes. Abraham concorda que a internet em geral, e as redes sociais em particular, têm um efeito democratizante, mas alerta que, uma vez que a competição fique mais dura, os líderes políticos podem recorrer a batalhas nas quais manipulem as campanhas eletrônicas, em oposição às campanhas físicas mais transparentes. “Como se pode estar seguro de que todos os ‘curtir’ do Facebook são partidários genuínos?”, questionou.

Muitos dos jovens parecem ter claros os assuntos que importam para eles. “A maioria dos principais partidos promete empregos para os diplomados, mas quando um partido está há vários anos no poder diz ‘daremos trabalho’, nós perguntamos: ‘o que estiveram fazendo todos estes anos?’. Se um partido novo faz a mesma promessa, dizemos: ‘deem uma oportunidade a eles’”, pontuou à IPS o estudante Siddhant Sadangi, de 20 anos, em Bhubaneswar, capital do Estado de Odisha.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem da Índia, um em cada quatro graduados está desempregado. Os números são piores para as mulheres. Cada vez mais homens de aldeias preferem a educação superior ao trabalho agrícola, e isso significa que, no futuro próximo, haverá mais demanda por empregos de alta qualidade.

Em Estados afetados por conflitos, o cinismo é evidente entre os jovens. O Manipur Talks, um vibrante fórum da internet que conecta a diáspora no Estado de Manipur, satiriza as promessas pré-eleitorais. O site chama essas eleições de “Expo 2014 da Varinha Mágica: a maior exposição de artigos de bruxaria do mundo”, como paródia do popular personagem infantil Harry Potter.

As comunidades do nordeste estão protestando contra a discriminação que sofrem no restante da Índia. “Os políticos perderam credibilidade aqui e, pior, não se faz nada para ajudar a diáspora de jovens de Manipur a votar”, argumentou à IPS a ativista social Chitra Ahanthem, radicada nesse Estado.

As campanhas da Comissão Eleitoral da Índia para alistar jovens eleitores, fazendo com que se registrem pela internet, conseguiram uma expectativa de participação nas urnas de 70% nacionalmente, segundo o comissário eleitoral Harishankar Brahma. Contudo, boa parte dos 30% dos que votarão serão os jovens de Estados problemáticos.

“Os jovens de Jammu e Caxemira estão isolados, alienados, indignados”, destacou à IPS Bashir Ahmad Dabla, que está à frente do departamento de sociologia e trabalho social da Universidade da Caxemira. “Aqui, ao contrário de outras partes, a necessidade de estabilidade política tem precedência sobre assuntos econômicos. Emprego, educação, água, eletricidade, estradas são importantes, mas não são prioridade na Caxemira”, acrescentou.

As últimas eleições na Caxemira contaram com apenas 31% de eleitores. Cerca de 50% do eleitorado local têm entre 18 e 35 anos. Saba Firdous, com diploma universitário, de 25 anos, desse Estado, não votará desta vez e não será por boicote por parte dos separatistas da Caxemira. “Os principais problemas para os jovens aqui consistem em revogar a Lei de Poderes Especiais para as Forças Armadas no Vale da Caxemira, frear a intimidação e as matanças de civis, e resolver o conflito sem fim. Os partidos políticos dominantes que irão para o parlamento farão nada a propósito desses assuntos, como sabemos”, afirmou à IPS. Envolverde/IPS