No extinto Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa (CAHMP) de São Paulo, em 2007, a diretora Cláudia Priscila criou um documentário sobre as mães presidiárias. Leite e Ferro estreia na próxima sexta-feira, 2 de dezembro, e mostra os quatro primeiros meses do nascimento dos bebês, quando as mães são permitidas a amamentar a criança.
Apesar do tema maternal, o documentário não é fácil de digerir. Os depoimentos das mulheres sobre maternidade, sexo, amor, fidelidade, violência policial e drogas fazem o espectador conhecer uma realidade difícil, e muitas vezes violenta.
Enquanto conviveu com as presidiárias, Cláudia documentou o dia a dia e o mundo em que viviam, sempre com foco em suas experiências enquanto mães, como quando sentiam desejos de gravidez que muitas vezes não podiam ser saciados, ou quando tiveram que se separar de seus filhos – que iriam para adoção.
Os depoimentos da presidiária Daluana, que ganhou o apelido por causa do envolvimento com o traficante Da Lua, são o fio condutor da narrativa. Ela conta a história, por exemplo, de como foi obrigada a tomar banho amarrada a uma corrente nos pés, após o trabalho de parto. “Era pesado e meus pontos da cesária abriram tudo”, disse.
O filme não poderia ter saido em momento mais propício, já que o uso de algemas em presas parturientes está em discussão no estado de São Paulo. “Inclusive a Defensoria Pública está preparando ações por danos morais contra o Estado. E o filme vai ser usado como instrumento nesse processo. Fico muito feliz do meu filme poder romper a barreira do cinema e ser de fato um documento”, afirmou Cláudia ao jornal Estado de São Paulo.
Além da contribuição para a sociedade, Leite e Ferro já recebeu outros reconhecimentos, mais ligados ao mundo do cinema. O filme foi premiado como melhor documentário e melhor direção do Festival de Paulínia 2010, ganhou o Grande Prêmio na Mostra Competitiva Internacional e foi destaque feminino na Competitiva Nacional do Festival Internacional de Cinema Feminino (Femina), ambos em 2011.
Assista ao trailer abaixo:
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* Publicado originalmente no site EcoD.