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Mudanças geográficas jogam a favor de Obama

Washington, Estados Unidos, 27/9/2012 – Faltando seis semanas para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, analistas afirmam que as tendências demográficas, especialmente a imigração, tornam cada vez mais difícil um republicano conquistar a Presidência. O atual desafiante, Mitt Romney, do opositor Partido Republicano, não parece estar nem perto de reduzir a distância, ao menos para estas eleições.

Segundo acadêmicos e pesquisadores, a tendência complica não apenas as esperanças republicanas agora, mas também para os próximos anos, a menos que esse partido realize uma significativa reavaliação de suas políticas sociais e econômicas. Romney precisa de “margens exageradamente grandes para competir, e não está perto de consegui-las”, disse o acadêmico Ruy Teixeira, do esquerdista Center for American Progress, ao apresentar um novo informe, no dia 25.

No momento, a maioria das pesquisas mostra na frente o presidente Barack Obama, que supera Romney por três ou quatro pontos percentuais, inclusive em quase todos os Estados “oscilantes”, nos quais nenhum dos candidatos tem clara maioria. Para os republicanos, a dificuldade está em dois grupos do eleitorado que se voltaram contra essa força política nos últimos anos: as minorias e os brancos universitários, especialmente as mulheres.

Quando foi eleito em 2008, Obama obteve 80% dos votos das minorias e 52% dos votos das mulheres brancas com educação superior. Segundo as últimas pesquisas, sua penetração nesses dois setores permanece quase igual. Nas três últimas décadas, o voto das minorias quase duplicou, até chegar a 26% do total. No entanto, a quantidade de brancos educados também continuou aumentando, enquanto a de não educadas caiu, todos fatores que favorecem o governante Partido Democrata.

Na verdade, desde 2008 a quantidade de eleitores de minorias subiu 3% e em igual porcentagem caiu a de eleitores de origem anglo-saxã. Em razão dessas mudanças, se Obama conseguir novamente 80% dos votos de imigrantes, Romney deveria duplicar os votos de cidadãos brancos alcançados pelo candidato republicano de 2008, John McCain.

Algumas pesquisas estaduais ainda atribuem a Romney uma vantagem de 20 pontos ou mais, mas o estudo de Teixeira indica que isso não será suficiente. “Em parte alguma se vê essas enormes margens necessárias para ganhar diante de um Obama que aparece retendo o apoio dos eleitores de minorias e, inclusive, de uma parte dos eleitores brancos educados”, disse o acadêmico.

Se Obama conseguir atrair 80% dos votos dos não brancos, bastará a ele apenas 40% dos votos brancos para vencer. “Os números mostram, então, que Romney precisaria de dois terços de todos os outros eleitores para conseguir uma maioria nacional”, disse Ronald Brownstein, diretor de política da Atlantic Media. “Agora, ele pode fazer isto. Os republicanos já estiveram nessa vizinhança em 2010. Mas, dois terços de todos os demais eleitores foi o que conseguiu Ronald Reagan em 1984, na vitória mais categórica da história moderna norte-americana. Assim, é ladeira acima”, acrescentou.

“A atual coalizão republicana depende muito de uma parte do país que fica em situação incômoda neste novo cenário demográfico”, observou Brownstein. Por exemplo, “estão paralisados entre a compreensão intelectual de que devem ganhar o eleitor hispano (latino-americano) e a dificuldade que têm para decidir como fazê-lo”, acrescentou.

Para muitos imigrantes, a imigração é um obstáculo definitivo, a ponto de nem mesmo se inteirarem do restante da plataforma de Romney. Isto se deve ao fato de o candidato, empurrado pelos setores mais conservadores de seu partido, exibir uma agenda “radical” em matéria migratória. “Os republicanos pegaram uma bandeira à direita. E isto constitui um grande dano entre os hispanos”, disse Frank Sherry, diretor-executivo da America’s Voice e estudioso das questões dessa minoria. Embora os eleitores hispânicos atraiam hoje muita atenção da análise política norte-americana, a questão migratória geral tampouco favorece os republicanos.

Os norte-americanos de origem asiática acabam de superar os latino-americanos como a minoria de aumento mais veloz, pois em apenas uma década cresceram 46%. Nas eleições de 2008, cerca de 600 mil asiático-norte-americanos se registraram para votar pela primeira vez, e agora se espera um número semelhante.

“O acontecimento político e sociológico mais importante das últimas duas décadas talvez tenha sido a virada maciça das lealdades eleitorais desta população”, disse Karthick Ramakrishnan, diretor do National Asian American Survey, no lançamento de um informe detalhado também no dia 25. “Os asiático-norte-americanos deixaram de votar em menos de um terço em um candidato democrata em 1992 e quase dois terços em 2008”, afirmou.

E mais: o informe encontra um apoio anormalmente alto deste setor, comparado com o restante do eleitorado, a temas que se contam entre os redutos democratas, como meio ambiente, ações afirmativas, imigração ilegal e reforma do sistema de saúde. A pergunta, então, é quando o Partido Republicano dará resposta ao que poderia se converter muito rapidamente em um problema existencial. Este processo “poderia precipitar o debate dentro do partido”, disse Brownstein. “Um assessor de Romney me disse que “é a última vez que alguém tenta fazer isto: armar uma maioria nacional quase totalmente sobre as costas dos eleitores brancos”. Envolverde/IPS