Abbottabad, Paquistão, 5/5/2011 – A morte de Osama bin Laden não provocou protestos públicos nem demonstrações de ódio no Paquistão, país de 170 milhões de habitantes onde o líder da Al Qaeda supostamente gozava de apoio popular. Pelo contrário, a operação das forças especiais norte-americanas, realizada no dia 1º nesta cidade ao Norte de Islamabad, na qual consta que Bin Laden morreu, parece ter confirmado que sua popularidade estava em baixa.
“Esperávamos enormes manifestações e incêndios em edifícios do governo por pessoas enfurecidas. Para nossa grande surpresa, nada ocorreu e tudo está normal”, disse o comerciante Mustafa Khan. O vendedor recordou que a invasão norte-americana de 2001 no Afeganistão para derrubar o movimento islâmico afegão Talibã desatou maciços protestos no Paquistão. “Ainda recordo que milhares de estudantes e outras pessoas invadiram as ruas de Peshawar e em outras partes do país para condenar as ações e expressar sua solidariedade com o Talibã”, acrescentou.
“Em um país como o Paquistão, as manifestações sobre cada pequeno e grande tema estão na ordem do dia. O tremendo apoio público que gozava Osama bin Laden há uma década se desfez”, disse Javid Ali, estudante do Instituto de Tecnologia da Informação, próximo à Academia Militar Paquistanesa de Abbottabad, e da casa onde se escondia Bin Laden.
Antecipando-se aos protestos, Washington anunciou o fechamento de sua embaixada e de seus consulados no Paquistão. Contudo, no dia 2, reabriu suas missões diplomáticas ao ver que a situação era normal. A notícia da morte de Osama parece não ter provocado o impacto temido por Washington.
Taj Muhammad, ativista político do Partido Nacional Awami (PNA), disse que a população agora sente rejeição em relação à Al Qaeda e ao Talibã por causa dos ataques com bomba que cometeram contra bazares, mesquitas e funerais, bem como contra escolas e prédios públicos. O próprio PNA foi vítima de atentados do Talibã.
“As vítimas dos ataques do Talibã eram, na maioria, inocentes e pobres, incluindo mulheres e crianças”, disse Muhammad. “Raramente atacavam norte-americanos e europeus, os quais consideravam inimigos do Islã. Eram os paquistaneses pobres que sofriam”. Bashir Bilour, líder do PNA e ex-ministro da província de Khyber Pakhtunkhwa, disse que atacar mesquitas com bombas era a pior demonstração de terrorismo. Acrescentou que a popularidade do Talibã caiu desde que começou a matar as pessoas e pendurar seus cadáveres em postes de iluminação.
“Osama foi o maior terrorista do mundo e o que provocou inumeráveis noites de vigília entre os pobres habitantes das Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata, fronteiriças com o Afeganistão) e da vizinha Khyber Pakhtunkhwa”, disse no dia 2 a assembleia provincial. Não só os paquistaneses, mas também os afegãos mostraram indiferença com a morte de Bin Laden. A situação era diferente há alguns anos, quando Al Qaeda e Talibã eram venerados. “Gozavam de grande respeito e estima e eram vistos como defensores do Islã”, disse Khan.
Um professor de inglês no Colégio Governamental de Charsadda concordou com Khan, e disse à IPS que a invasão norte-americana de 2001 no Afeganistão ajudou grupos religiosos a reunirem contribuições em nome do Islã. “A maioria das pessoas fez doações generosas aos grupos religiosos e partidos políticos. No entanto, ninguém sabe para onde foi essa grande soma coletada com o argumento de que o povo sentia um grande amor por Bin Laden”.
Amjad Ali, do PNA, disse que os partidos políticos religiosos, incluindo o Jamiat Ulemai Islam ou Jamaat Islami, foram os mais beneficiados pela Al Qaeda. “A aliança destes partidos obteve 70 assentos na Assembleia Nacional e conseguiu formar governos nas províncias de Balochistão e Khyber Pakhtunkhwa nas eleições de 2003, graças ao seu apoio às ações antinorte-americanas da Al Qaeda e do Talibã”, explicou Ali. Esses partidos aproveitaram em seu momento os sentimentos da população contrários aos norte-americanos, mas agora estão, misteriosamente, em silêncio, acrescentou.
Nas eleições de 2008, somente obtiveram um punhado de cadeiras nas assembleias provinciais e na nacional. Jan Alam, professor de História no Colégio Governamental de Mardan, disse que o assassinato de Osama é visto como uma vergonha pelos grupos religiosos. Houve alguns protestos pequenos em Quetta, capital do Balochistão, mas o resto do país permanecia em calma. Envolverde/IPS