Não há motivos para pessimismo

É fato que a economia brasileira desacelerou-se nos últimos trimestres, e o crescimento esperado para este ano está um pouco longe dos 4% imaginados no início do ano. Entretanto, não se deve desesperar, haja vista alguns dados apresentados por órgãos do governo e institutos de pesquisas até o momento.

Um dos principais motivos para não chafurdar no pessimismo é a taxa de desemprego continuar caindo. Ajustada à sazonalidade (ou seja, à flutuação de vagas característica do mês), a desocupação medida pelo IBGE chegou a 5,4% da população economicamente ativa em maio, contra 6% no mesmo mês de 2011. É a menor taxa da série histórica. Isto é um significado de que os capitalistas estão com a expectativa de aumentarem suas rendas no futuro, pois os gastos atuais e futuros dos(as) trabalhadores(as) representam a renda dos empresários.

Outro ponto a ser colocado para espantar o pessimismo de alguns é a questão do investimento. De acordo com estudo do Ministério da Fazenda, o custo do investimento no Brasil é o menor desde 1999. O preço relativo dos investimentos caiu 2,81% entre 2010 e 2011, terminando, no ano passado, no menor patamar em 12 anos. Portanto, as medidas de desoneração tributária tomadas pelo governo neste ano, somadas à redução dos juros, continuaram reduzindo o preço relativo dos investimentos em 2012.

É importante lembrar que o incremento dos investimentos na economia deveu-se às desonerações tributárias promovidas pelo governo. Estima-se que a desoneração tenha sido em torno de R$ 31 bilhões entre 2007 e 2011, sendo R$ 11,4 bilhões apenas no ano passado. Além disso, a valorização cambial entre o início da recuperação da crise, no fim de 2009, e o início de 2012, de certa maneira barateou máquinas e equipamentos importados.

Neste sentido, com a sofisticação do parque industrial nacional decorrente dessa incorporação de tecnologia mais barata, poderá impulsionar a produção interna, e, agora, estimulada pelo câmbio mais desvalorizado.

Mais um quesito para esquecer de vez o pessimismo é analisar os indicadores da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Há expectativas de retomada do setor para o quarto trimestre deste ano. O Índice de Expectativas (IE) calculado pela sondagem cresceu 0,8% em julho, na comparação com ajuste sazonal frente a junho deste ano. Esse resultado inverte o movimento apresentado no mês passado, quando as expectativas caíram 1,4% na comparação dessazonalizada contra maio.

Por fim, a última redução na taxa básica de juros está mostrando aos empresários que os juros no Brasil estão realmente caindo de forma consistente. Com essas consecutivas reduções, a tendência é que os empresários aumentem a sua renda, de forma a fazer seu investimento quando o custo do capital for o mais baixo possível. O capitalista olha para o futuro, no caso brasileiro, observam toda a vontade e disposição do governo de auxiliar e incrementar a riqueza, por isso, os tempos vindouros não serão nefastos para nós. Azar de quem apostar nisso.

* Paulo Daniel é economista, mestre em economia política pela PUC-SP, professor de economia e editor do blog Além de Economia.

** Publicado originalmente no site Carta Capital.