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Nem democratas, nem republicanos

Atlanta, Estados Unidos, 28/2/2012 – Muitos dos maiores eleitores nos Estados Unidos se identificam como independentes do que como simpatizantes do governante Partido Democrata ou do opositor Partido Republicano, segundo o livro Apartisan American (Norte-Americano Apartidário), de Russel Dalton, professor de ciências políticas na Universidade da Califórnia. A obra revisa as tendências de várias pesquisas, com as da consultoria Estudos Eleitorais Nacionais Norte-Americanos, que revelam que a porcentagem de cidadãos autodefinidos como independentes quase duplicou, passando de 23%, em 1952, para 40%, em 2008. A maior parte desse crescimento se deveria ao fato de muitos democratas passarem a se definir como independentes.

“No passado, os independentes costumavam atrair pessoas à margem da política, com menos instrução e menos interessados, que não votavam, pessoas na periferia”, contou Dalton à IPS. “O que provocou o aumento de 20% para 40% foi o crescimento da população jovem, com estudos, politicamente envolvida, que se afastou dos partidos políticos. Não votarão por lealdade, mas por assuntos (que os preocupam). Isto adicionou efervescência à campanha presidencial”, explicou. “A imprevisibilidade das eleições e a disposição da população em mudar de partido aumentaram”, indicou o autor.

Esta tendência não está circunscrita aos Estados Unidos, mas é percebida em todas as grandes democracias onde há ampla informação sobre pesquisas, mesmo em países onde é mais fácil partidos pequenos conseguirem representação legislativa. Dalton destacou, por exemplo, que o crescimento do Partido Pirata da Alemanha e de seu par na Suécia, que promovem uma reforma das leis de propriedade intelectual, é uma evidência de que as novas gerações se distanciam de uma lealdade acrítica das forças políticas tradicionais.

De fato, há um grande número de partidos políticos pequenos nos Estados Unidos, além do Democrata e do Republicano, embora nem todos tenham plena presença nas urnas. Cada Estado possui suas próprias disposições para que um partido possa disputar eleições. São conhecidas como as regras de “acesso à cédula” (ballot access), e algumas delas são muito complexas.

O Partido Verde já está em processo de escolher seu candidato presidencial. Alguns nomes são Roseanne Barr, Kent Mesplay e Jill Stein. Barr é uma atriz reconhecida neste país por seu programa na televisão Roseanne, que apresentava uma imagem nada idealista de uma família da classe média na década de 1990. Entretanto, Barr ingressou tarde na disputa, não tem uma campanha organizada e não conseguiu amplo acesso à papeleta em nível nacional, como Mesplay e Stein. Este último aparece como o favorito para a candidatura do Partido Verde. Já ganhou as primárias em Illinois, Maine, Minnesota e Ohio.

Como o Partido Verde não conseguiu acesso às papeletas em todos os Estados, algumas de suas primárias são realizadas por outros meios. “Illinois teve primárias via internet. Ohio realizou um encontro estadual, Maine faz reuniões em várias partes do Estado”, detalhou à IPS o porta-voz, do partido, Scott McLarty. Esta força política já está presente nas papeletas de 20 Estados. Suas entradas mais recentes aos padrões eleitorais foram em Arkansas e Tennessee, destacou McLarty. “Nossa meta é ter candidatos em pelo menos 46 (das 50) papeletas estaduais”, afirmou.

Enquanto isso, embora o Partido Democrata continue se movendo para o centro (em alguns países seria considerado de centro-direita), as diferenças entre verdes e democratas continuam crescendo. “O mais dramático é que o Partido Democrata é viciado em dinheiro corporativo, em doações dos comitês corporativos de ação política”, disse McLarty. “O Partido Verde está contra a guerra. Nos opusemos muito à invasão do Iraque e do Afeganistão, e, de maneira geral, criticamos os democratas por ajudarem George W. Bush a levar os Estados Unidos a estas guerras”, acrescentou o porta-voz. “O governo de Barack Obama abraçou a ideia do carvão limpo e é a favor da perfuração mar adentro em busca de petróleo. O Partido Verde se opõe às duas coisas”, ressaltou.

Embora o progresso seja lento, os verdes conseguiram alguns êxitos políticos nos últimos anos. Em Richmond, Estado da Califórnia, foi eleita uma prefeita do Partido Verde, Gayle McLaughlin. Dos eleitores do Maine, 3% se registraram como verdes e, no Distrito de Columbia, o Verde é o segundo maior partido. O papel dos candidatos independentes e de partidos menores é cada vez mais importante com vistas às eleições presidenciais de 6 de novembro. Por exemplo, analistas continuam especulando se o pré-candidato republicano, Ron Paul, acabará se apresentando como independente. Embora oficialmente seja republicano, sua ideologia se assemelha à do Partido Libertário, do qual foi líder.

Paul se opõe às intervenções militares norte-americanas no exterior, bem como à chamada “guerra contra as drogas”, e quer colocar fim à maioria dos programas de bem-estar social, inclusive acabar com várias agências federais. Paul negou interesse em se apresentar como independente e já é muito tarde para se inscrever com tal em vários padrões estatais, mas a porta está entreaberta.

Por outro lado, um misterioso grupo político com um importante poder financeiro chamado Americans Elect (Os Norte-Americanos Elegem) trabalha para ter acesso às papeletas dos 50 Estados, e investiu US$ 10 milhões em sua campanha. “É um grupo de republicanos liberais que não acatarão o Partido Republicano”, explicou à IPS o analista Richard Winger, editor do Ballot Access News. “Creio que as pessoas temem que o Partido Republicano apresente alguém inadequado. Querem alguém de qualidade, equilibrado e inteligente em sua corrida contra Obama”, disse Winger. O Partido Libertário poderia estar presente nas papeletas dos 50 Estados e seu candidato seria Gary Johnson, ex-governador do Novo México, enquanto o Partido Constituição estaria presente em 40 Estados e teria como candidato o ex-congressista Virgil Goode, previu Winger. Envolverde/IPS