Seul, Coreia do Sul, 6/7/2011 – As mulheres jovens da Coreia do Norte são vendidas como noivas para agricultores chineses das aldeias fronteiriças, enquanto as mais velhas trabalham em restaurantes ou salas de karaokê. Isto faz com que atravessem cada vez mais para as cidades fronteiriças do norte da China, onde superam em número os homens.
“As mulheres representam cerca de 70% dos aproximadamente 200 mil norte-coreanos que fugiram de seu país com destino à China nos últimos anos”, disse à IPS Kim Tae Jin, um desertor da Coreia do Norte que lidera uma organização não governamental para proteger os direitos humanos de seus compatriotas.
Os homens norte-coreanos se veem menos tentados a cruzar a fronteira porque, com poucas ligações locais na China, é fácil os guardas de segurança os localizarem, prender e enviar de volta ao seu país, disse Kim. “além disso, os norte-coreanos praticamente não podem competir com os chineses pelos poucos empregos disponíveis”, acrescentou.
“Estimamos que cerca de 80% das mulheres norte-coreanas que fugiram de seu país são vendidas como noivas para homens chineses”, afirmou Kim. “Uma vez na China, o medo de serem mandadas de volta ao seu país toma conta delas, o que as deixa silenciosas e obedientes, sem importar os abusos que tenham de suportar”, ressaltou.
Algumas ex-noivas voltaram à Coreia do Norte. “Meu marido chinês frequentemente me lembrava o quanto havia pago por mim. Me sentia sua propriedade”, contou uma norte-coreana. O preço pago por cada jovem norte-coreana com cerca de 15 anos oscila entre US$ 463 e US$ 1.500, dependendo de seu estado físico.
“Quando visito as aldeias do norte da China é comum ver um grupo de adolescentes norte-coreanas convertidas em noivas de chineses”, disse Kim. “Se reúnem em volta do poço de uma aldeia, conversando e rindo. Muitas dessas noivas devem ficar ali por medo de serem capturadas pelos guardas norte-coreanos e mandadas de volta ao seu país”, acrescentou.
Em vista da dura realidade que vivem na China, algumas mulheres chegam a pensar em voltar. “Quando cheguei à China passei vergonha, medo e humilhação. Perdi até minha casa em meu país natal, onde, embora passasse fome, pelo menos era cidadã. Na China tinha de ser invisível e muda”, contou Yoh Su-Wa, uma mulher que fugiu da Coreia do Norte e chegou à Coreia do Sul após quatro anos na China.
Na Coreia do Norte a situação é difícil. Ser mulher nesse país implica ser dura e valente, lutando contra todas as dificuldades em um país pobre que dá prioridade aos testes nucleares e mísseis, em lugar de cuidar da alimentação de seus 23 milhões de habitantes, afirmam desertoras norte-coreanas.
A fome obrigou as mulheres a irem às ruas após o colapso do sistema de racionamento de alimentos, durante a fome da década de 1990. Surgiram mercados por todo o país e a população comprou e vendeu tudo o que podia. Com a redução da comida em suas casas, a única maneira de sobreviver era se desfazer dos seus pertences, vendendo no mercado negro em troca de alguma coisa para comer.
Nos lares norte-coreanos, em geral, a mãe é mais dominante do que o pai, dizem as desertoras. O comum é a mulher chefiar o lar, enquanto o homem permanece principalmente ocioso, longe das fábricas do Estado, que fecharam ou quase nunca funcionam.
Muitas mulheres que chegam à Coreia do Sul conseguem emprego como faxineira em edifícios ou trabalhando como camareiras ou domésticas. “As mulheres tendem a ser mais rápidas do que os homens para se adaptar a uma vida nova na Coreia do Sul”, disse Kim. Embora os norte-coreanos consigam trabalho, muitos desistem pouco depois, acrescentou. “É difícil para eles se adaptar a uma cultura trabalhista diferente no Sul, onde os homens são tratados de maneira diferente dependendo de seu desempenho e seus esforços”, explicou. Envolverde/IPS
Autor: Ahn Mi Young, da IPS