Novos conceitos em urbanismo

O crescimento das vendas de automóveis vem criando crescentes problemas de trânsito nas cidades, o que tem levado as administrações a tomar medidas restritivas como limitar a circulação em um ou mais dias da semana, na forma de rodízio pelo final das placas e, em algumas metrópoles, o pedágio urbano.

Uma das formas de reduzir esse inconveniente é alterar o planejamento dos novos bairros que estão sendo criados, particularmente nas cidades médias, onde as dificuldades ainda não são tão grandes, mas tendem a se avolumar, mantidos os atuais parâmetros. Isso não significa alterar o zoneamento de bairros residenciais pré-existentes, que se constituem em pulmões verdes das cidades onde foram implantados, como é o caso dos Jardins em São Paulo ou de similares em cidades menores a exemplo de Aruá em Mogi das Cruzes.

O conceito da proposta é “morar, trabalhar e ter lazer” no mesmo local, o que permite a economia de tempo e menos deslocamentos. Trata-se de uma alteração importante no conceito urbanístico, que até recentemente procurava criar áreas estritamente residenciais, outras comerciais e de serviços e, em separado, os distritos industriais. O que se propõe é o crescimento inteligente das cidades, fazendo com que os bairros permitam que as pessoas possam fazer quase tudo a pé, com grande redução do trânsito de automóveis. Para isso é necessário um uso misto entre residências, empresas, comércio, e muitas áreas verdes.

Oropeza, um dos promotores da ideia, a que chama Smart Growth, costuma dizer que é uma volta ao velho urbanismo, no qual as pessoas viviam e trabalhavam no centro da cidade, algo que foi abandonado, principalmente nos Estados Unidos, onde as pessoas residem longe dos locais de trabalho, do comércio e outras conveniências.

O Smart Growth segue dez princípios:

  •     Projetar casas menores;
  •     Variar as alternativas de projetos;
  •     Privilegiar o pedestre;
  •     Promover a colaboração comunitária;
  •     Incentivar nas pessoas o senso de pertencer ao lugar;
  •     Desenvolver decisões justas e aplicáveis à realidade da comunidade;
  •     Mesclar os usos entre residências, comércios, escritórios, etc.;
  •     Preservar espaços abertos e belos, além das áreas ambientais;
  •     Oferecer formas de transporte variadas;
  •     Direcionar o desenvolvimento para as comunidades existentes.

 

A nova tendência urbanística a criação bairros residenciais com lotes unifamiliares, busca fazer com que próximo a eles ou mesmo no seu contexto existam centros comerciais, escritórios e outros polos geradores de emprego e fornecedores de produtos necessários ao dia a dia das famílias. O mesmo vem ocorrendo em edifícios de moradia, com a construção em paralelo de outros prédios destinados a escritórios, shopping center e outras atividades.

Por outro lado, a abertura de novas áreas urbanas precisa ser feita de maneira regular e legal, evitando o que ocorreu na expansão das metrópoles brasileiras, com loteamentos irregulares, favelas e invasões. É necessário adequar as áreas disponíveis às necessidades da região e dos futuros moradores, identificando oportunidades de integração aos equipamentos públicos e serviços existentes ou, quando necessário, planejar condições para sua implementação na comunidade.

Saneamento, áreas preservadas, instalações comunitárias e outros investimentos são básicos para garantir qualidade aos moradores e benefícios também para a comunidade e a cidade.

Todo novo bairro implantado deveria seguir as mesmas regras adotadas por empresas de desenvolvimento urbano, dispondo de rede de água e de esgoto, ruas pavimentadas, escoamento de águas pluviais, áreas verdes, e outras realizações que trazem qualidade de vida, conforto e sustentabilidade.

Ciro Scopel é presidente da Scopel Desenvolvimento Urbano e vice-presidente de sustentabilidade do Secovi-SP.

** Publicado originalmente no site EcoD.