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O Sol sorri no frio deserto da Caxemira

Mulas transportam um sistema de energia solar para uma região isolada da desértica Ladaj, na Índia. Foto: Athar Parvaiz/IPS
Mulas transportam um sistema de energia solar para uma região isolada da desértica Ladaj, na Índia. Foto: Athar Parvaiz/IPS

 

Leh, Índia, 26/2/2014 – Surendar Mohan, ajudante no restaurante da escola de Jawahar Navodiya Vidyalya, olha o Sol com total gratidão neste deserto elevado e frio no nordeste da Índia. “Agora as coisas estão bem fáceis para nós, trabalhadores. Antes, tínhamos que usar muitos pratos para cozinhar arroz, legumes e verduras, mas agora os grandes pratos solares facilitam muito nosso trabalho”, contou à IPS.

Um sistema de cozimento solar por vapor, que emprega cinco pratos, pode cozinhar para até 600 pessoas de uma só vez. Agora a região experimenta um significativo avanço de uma rede de energia solar. “Além de reduzir a carga de trabalho, cozinhar em pratos solares também melhora a qualidade dos alimentos”, explicou Mohan.

O sistema de cozimento por energia solar pode preparar até 150 quilos de arroz, 100 de verduras e 30 de legumes ao mesmo tempo. Mais de 570 estudantes e funcionários comem aqui. “Não só é muito fácil de operar como também nos fornece água quente para lavar os pratos na temporada de inverno”, detalhou Tashi, que trabalha na cozinha. Segundo Mohan, o sistema solar permite à escola economizar. “Cada dia economizamos três cilindros de gás”, afirmou.

Jigmet Takpa, diretor de projetos da independente Agência para o Desenvolvimento da Energia Renovável em Ladaj, que instalou este e outros sistemas de cozimento solar nesta região desértica, destaca que a escola agora pode economizar US$ 23 mil por ano. Nas últimas décadas, muitas pessoas desse altiplano árido no Estado indiano de Jammu e Caxemira usam geradores a diesel para iluminação, e querosene e lenha para cozinhar e esquentar água.

“Isso contaminou a atmosfera e também implicou enorme gasto em transporte de diesel, querosene e lenha para Ladaj, pois a localidade está isolada do resto da Índia e tem um terreno escarpado”, explicou Shahid Wani, que ensina ciências ambientais na Universidade da Caxemira. Atualmente a região testemunha o avanço significativo de uma rede de energia solar. Takpa disse que isso atenderá as necessidades energéticas dos moradores de Ladaj e também produzirá energia para outras regiões da Índia. Ladaj é rica em fontes renováveis e fica entre as áreas mais promissoras do mundo em matéria de desenvolvimento de projetos solares.

“Como Ladaj é um deserto frio, não temos nenhuma floresta. Assim, toda a madeira procede da Caxemira, enquanto o diesel e o querosene são da Índia, a um preço alto”, afirmou Takpa. Mas agora, após um projeto do Ministério de Energias Novas e Renováveis da Índia, no valor de US$ 87 milhões, em Ladaj, as coisas mudam muito rapidamente, acrescentou . O subsídio de 50% para artefatos operados com energia solar no contexto do projeto seduziu os habitantes de toda a região.

“Cada metro quadrado de nossa terra tem o potencial de gerar 1.200 watts de eletricidade a partir do Sol, que é o máximo na Índia”, explicou Lakpa. “Temos mais de 320 dias claros e ensolarados por ano. Além disso, a baixa temperatura exterior em Ladaj melhora ainda mais a eficiência dos painéis solares. Por este motivo nos consideram os melhores para a energia solar”, acrescentou.

Segundo Takpa, o programa do Banco do Deserto, do governo indiano, é o mais adequado para Ladaj. As autoridades fixaram o objetivo de gerar 400 mil megawatts (MW) de energia solar entre 2030 e 2050, dos quais cem mil MW serão gerados a partir de Ladaj, afirmou. “Até agora instalamos 137 pequenas centrais solares, para aldeões que vivem em zonas isoladas, monastérios, instituições de ensino e hospitais”, ressaltou. O impacto desta iniciativa de energia solar nas vidas dos habitantes de Ladaj já é visível.

Mais de 40 aldeias que não tinham eletricidade ou contavam com fontes energéticas pouco confiáveis agora dispõem de energia solar e aquecedores de água que também usam essa fonte. Praticamente todas as casas e o hotel de Leh, capital de Ladaj, têm um sistema de aquecimento de água com energia solar, e um aparelho solar para cozinhar pode ser visto no exterior da maioria das casas. “Tudo isso reduziu muito a dependência do diesel, do querosene e da lenha”, ressaltou Wani. Envolverde/IPS