Fatores psicológicos como fatalismo podem fazer a diferença no risco de uma pessoa vir a desenvolver um derrame cerebral. Essa é a conclusão de um estudo recém-publicado pelo periódico Stroke da Associação Americana de Cardiologia.
Cerca de 700 americanos internados por terem sido acometidos por derrame cerebral foram submetidos a uma entrevista com escalas que avaliam o estado psicológico antes do derrame cerebral, com ênfase no grau de otimismo, fatalismo, espiritualidade e sintomas depressivos.
Os resultados apontaram que um maior componente de fatalismo esteve associado ao risco de morte e à chance de um novo derrame cerebral. A escala que avalia o fatalismo aborda três diferentes dimensões: 1) pré-determinismo – percepção de que a saúde é uma questão de destino e que não há o que fazer para mudar; 2) sorte – tendência a vincular o estado de saúde à sorte; 3) pessimismo – expectativas negativas quanto ao futuro. A mesma associação com mortalidade e chance de recorrência do derrame cerebral foi demonstrada no caso de sintomas depressivos. Além disso, a influência do fatalismo sobre a mortalidade foi maior entre os pacientes que não apresentavam sintomas depressivos.
Esse é o primeiro estudo a associar o componente de fatalismo com o prognóstico de um derrame cerebral. O impacto negativo do fatalismo já havia sido demonstrado em condições como o câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e comportamentos de risco. A hipótese que melhor explica essa relação é uma pior aderência a tratamentos propostos e maior dificuldade em assumir hábitos de vida saudáveis.
* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.
** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.