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Plantações de biomassa para iluminar a Índia

Shivganga, Índia, 30/5/2012 – Várias mulheres trabalham em um viveiro nesta árida região do Estado indiano de Tamil Nadu, no sul, ajudando a levar adiante a primeira plantação de biomassa para fins energéticos no país. Valli, de 50 anos, e Sarasu, de 60, trabalham para o Projeto de Plantações Energéticas Índia (EPPI) desde sua criação em 2007. O dinheiro que recebem nesse trabalho é parte integral dos orçamentos de suas famílias. E conseguem compatibilizar facilmente as tarefas domésticas com um emprego que lhes rende um salário, disseram à IPS.

Cerca de 20 mulheres dedicam-se à manutenção diária, enquanto outras 45 trabalham por safra. Chegam para trabalhar de madrugada e vão embora às 14 horas. Por meio período ganham 150 rúpias (cerca de US$ 3). “Organizamos os horários para nos adaptarmos às mulheres, porque vimos que são trabalhadoras sinceras. Elas são livres para irem embora à tarde e também para levar suas cabras para pastar em terras que reservamos para isso”, informou o diretor da EPPI, Sam Venkatesan.

As mulheres, que são metade da força de trabalho da empresa, estão felizes por terem uma renda garantida em troca de plantar e cuidar dos arbustos, e elaborar redes com as quais se abrigam do Sol, além de cuidarem de outras tarefas essenciais. O cultivo, onde foram plantadas sete espécies autóctones para produzir biomassa, é “uma das primeiras de seu tipo no mundo”, disse Venkatesan, que antes era executivo na Motorola, a gigante da telefonia celular com sede nos Estados Unidos.

Segundo Venkatesan, a plantação está biometricamente calculada para que o valor calorífico, o ritmo de crescimento e o rendimento por acre (quase meio hectare) abasteçam, por meio de gaseificação, sua própria central de eletricidade de dois megawatts, com sua própria biomassa. Mediante um aquecimento controlado, a gaseificação converte material orgânico ou fóssil em gás sintético, e a energia derivada da queima do gás é considerada renovável.

A plantação da EPPI, de 120 hectares, tem árvores de até sete metros de altura em terras degradadas que foram destinadas à conservação de bacias com reservas criadas para permitir a irrigação por gotejamento. As camadas subterrâneas ficaram mais superficiais, passando de 90 metros de profundidade em 2007, quando começou a plantação, para 24 metros atualmente, disse C. Lalrammawia, encarregado da área tecnológica. “As chuvas aumentaram de maneira semelhante, de 250 milímetros anuais em 2007, para 800 milímetros em 2011”, acrescentou.

Segundo a Comissão Nacional de Agricultura, a Índia tem 60 milhões de hectares de terras degradadas, florestais e não florestais, disponíveis para cultivo de árvores, incluídas as plantações de biomassa. Os “efeitos secundários” de semear para obter energia já são visíveis no projeto da EPPI, e incluem melhoria do microclima da região, com regeneração da biodiversidade. As reservas também dão de beber a veados e pássaros, que agora afluem em massa às terras antes áridas.

“Descobrimos que uma pequena floresta deste tamanho, com sua usina elétrica de dois megawatts, pode alimentar várias das torres de transmissão de telefonia celular da área”, apontou Venaktesan. Atualmente, essas torres consomem “2% do diesel subsidiado da Índia, representando, assim, uma enorme economia”, acrescentou. A plantação custa US$ 400 por acre, o que inclui toda a manutenção anual, e rende 50 toneladas de biomassa ao ano por igual superfície, em média.

A EPPI recebeu US$ 4 milhões como capital de risco para iniciar sua usina de dois megawatts, gerados a partir da gaseificação de sua própria biomassa. E há planos de ampliá-la para seis megawatts, aproveitando as florestas arrendadas com fins energéticos. O Ministério de Energias Novas e Renováveis da Índia, após sua inspeção e aprovação, concedeu US$ 272 mil à usina para cobrir os custos com equipamentos para cada megawatt produzido.

Deepak Gupta, que inspecionou a plantação durante sua gestão como secretário no Ministério, acredita que as pequenas centrais que funcionam com biomassa são ideais para fornecerem eletricidade localmente, bem como para gerar empregos, propiciar a regeneração natural e abastecer indústrias próximas. Uma usina desse tipo é a resposta para as necessidades locais da Índia, disse Gupta à IPS.

Quanto às regulações governamentais, a EPPI pode abastecer a rede elétrica nacional. Entretanto, a empresa optou por fornecer energia para aldeias próximas de suas terras. “Não podemos garantir eletricidade a cada família porque não controlamos a rede, mas, sem dúvida, isto garantirá o benefício local. Para nós, a inclusão social não é só responsabilidade corporativa, mas também nosso modelo empresarial”, destacou Venkatesan.

Calculando que são necessárias 26,4 toneladas de biomassa para produzir um megawatt diário, a empresa prevê uma capacidade de funcionamento entre 80% e 85%, que é melhor do que a média. Essa capacidade pode ser calculada de modo seguro “porque somos donos da plantação e temos controle sobre o fornecimento”, explicou Jayanth Ganapathy, encarregado das operações da companhia.

Segundo os gerentes da EPPI, a previsão de crescimento da plantação leva em conta fatores como eventos meteorológicos extremos ou uma mudança climática mais lenta, aumentando a escala de contingência em cada caso. Isto significa, por exemplo, que seria necessário mais terra por megawatt, observou Venkatesan. “Se tivesse que aceitar fatores como a mudança climática, as pestes e os caprichos do tempo, teria que renunciar. Contudo, a EPPI mostra ao mundo que uma empresa de plantações com finais energéticos é mais do que possível”, concluiu. Envolverde/IPS