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Praias, a invasão sem limite

Havana, Cuba, 1/9/2011 – Menos de um metro separa uma pessoa de outra, tanto no mar quanto na areia das áreas mais atraentes. Como a cada verão, milhares de pessoas fogem diariamente das altas temperaturas e das tensões urbanas para buscar refúgio e relaxar nos 12 quilômetros das populares Praias do Leste. “Quando era adolescente, vinha com minhas amigas todos os dias de julho e agosto. Quando acabavam as aulas e até recomeçarem. Agora o transporte está mais difícil, a praia tem menos condições, mas, mesmo assim, não posso deixar de vir”, conta à IPS Liana Méndez, de 36 anos.

Liana, como tantas outras pessoas nesta ilha, faz coincidir as férias no trabalho com as férias escolares do verão. “Alugamos uma casa particular para toda a família durante uma semana, ou a gente vem cada vez que podemos na “guagua” (ônibus urbano), de táxi ou no trem de Guanabo”, acrescenta. Cerca de 200 mil pessoas podem chegar em um único dia de verão às Praias do Leste de Havana, uma verdadeira invasão que gera colapso no transporte público e muda a vida dos 25 mil habitantes do lugar.

Se, há mais de 30 anos, a Direção Provincial de Transporte de Havana reforçava as linhas de ônibus para toda a região de praia, há mais de uma década os esforços se voltam sobretudo para Guanabo, uma comunidade com escassas ofertas estatais para o turismo internacional e alta concentração de visitantes nacionais. Assim, a cada mês de agosto se programa a saída do Terminal Central de Ferrovias de Havana de uma locomotiva puxando cinco vagões com capacidade para 300 pessoas. “Às vezes dá medo ver a quantidade de pessoas que descem desse trem pela manhã”, afirma María Díaz, moradora do bairro La Conchita.

Como outros moradores da área, María coloca um cartaz na porta de sua casa para afastar os visitantes, com os dizeres: “Não tem água, não tem banheiro, tem cão”. Porém, não faltam as famílias que durante anos viveram de fornecer serviços durante o verão: desde o melhor negócio de aluguel de casa até a venda de água potável. “Aqui tem uma família que construiu sua casa vendendo empanada de milho na beira da praia. Demoraram 15 anos, mas conseguiram”, disse María.

No trem de Guanabo, grupos de jovens conversam e causam alvoroço enquanto uma mãe amamenta o bebê, que antes do primeiro ano de vida gozará de um banho de mar. Não faltam os tradicionais vendedores de amendoim e balas, nem a polícia, que tenta garantir a ordem em um período no qual aumentam as indisciplinas sociais pelo consumo de álcool. As marcas da “avalanche” diária são vistas no final do dia. Restos de comida, latas de cerveja, copos e sacos plásticos, camisinhas, garrafas de rum, entre uma imensa variedade de lixo, inundam a areia, apesar das lixeiras rústicas instaladas em quase toda a orla. À noite, as ondas levam parte desse lixo mar adentro.

Quando chega o meio-dia, a professora universitária Tania González, de 46 anos, e seu marido, Ricardo Herrera, de 48, buscam algum lugar para se abrigar do Sol. Optaram pelo ônibus para saírem de madrugada do município 10 de Outubro em Havana com seus dois filhos, Liz e Adrián, e fazer uma viagem que pode durar várias horas devido à crise do transporte.

“Há áreas bastante destruídas”, afirma Tania, recordando do “verde-azul” destas águas de quando seus pais a traziam ainda criança. As palmeiras e demais vegetação costeira escasseiam depois da tendência durante anos de construir instalações de serviços e moradia na beira mar. A linha da costa recua quase um metro a cada ano devido à erosão. Durante quase duas décadas as dunas eram cobertas por florestas de casuarinas, árvores semelhantes ao pinheiro e introduzidas no lugar. Seu corte foi de 1981 a 1985.

Os dois erros contribuíram para a erosão costeira e a perda de altura ou desaparecimento das dunas, conclui um estudo do Instituto de Oceanografia de Cuba. Publicado em 2010 na série Oceanologia, um coletivo de autores liderado pela geóloga Magalys Sosa conclui que “nos últimos 27 anos as Praias do Leste evoluíram para a recuperação da morfologia (forma) de dunas que existia originalmente”. Contudo, é preciso trabalhar mais no resgate de seu ecossistema, alerta.

“Viemos cedo e vamos cedo. Não é recomendável passar o meio-dia e a tarde ao Sol. Não há quase palmeiras e as poucas que vimos estão muito longe”, disse à IPS Adanet Rodríguez, uma estudante de 15 anos que, ao contrário de gerações jovens anteriores, começa a ter consciência sobre os riscos do bronzeado excessivo. No entanto, pesquisas do Centro de Engenharia e Manejo Ambiental de Baías e Costas alertam que a principal contaminação é de origem fecal, que chega ao mar por canais e através de rios como o Guanabo e o Itabo. Além disso, foram detectadas substâncias nocivas derivadas do vazamento de petróleo.

A população autóctone ama a praia. Vários projetos ecológicos surgiram nestas localidades, como o desaparecido em 2006 Comitê Sibarimar da Sociedade Cubana para a Proteção do Meio Ambiente – Pronatureza. Este grupo promoveu, desde 1994, o manejo participativo e comunitário da área, além da educação ambiental. Porém, desde o fim do projeto, “são realizadas apenas ações ecológicas pontuais” na área, afirmou à IPS Ángel Valdés, presidente da Pronatureza. Em 2012, uma nova iniciativa ecológica deverá beneficiar a localidade de Guanabo junto com outras 30 populações da costa do país, anunciou o ativista. Envolverde/IPS