Álcool em baixas doses também aumenta o risco de câncer de mama. Essa é a conclusão de uma pesquisa publicada esta semana pelo JAMA, periódico oficial da Associação Americana de Medicina.
A publicação é referente ao grande Estudo de Saúde de Enfermeiras dos Estados Unidos. Desde o ano de 1976, mais de 120 mil enfermeiras com idades entre 30 e 55 anos têm sido acompanhadas e reavaliadas a cada dois anos. Vários resultados desse estudo já haviam sido apresentados e nessa última análise os pesquisadores deram uma grande contribuição para o entendimento da relação entre álcool e câncer de mama.
Os resultados mostraram que as mulheres que consomem duas ou mais doses de álcool por dia têm um risco de câncer em dez anos de 4.1%, comparado ao risco de 2.8% entre as abstêmias. Já o consumo de uma dose diária de álcool aumenta o risco de câncer de mama em 10 anos para 3.5%.
Estudos anteriores já haviam demonstrado que uma dose diária já aumenta o risco do câncer. A presente pesquisa trouxe novas informações ao demonstrar que quantidades mais baixas ainda, como três doses por semana, aumentam de forma discreta a chance da doença. Mostrou também que tanto o consumo numa fase precoce da idade adulta como em fases mais tardias estão associados a um maior risco, e o efeito foi cumulativo. Além disso, o hábito de beber quatro ou mais doses no mesmo dia, mesmo que não seja de forma freqüente, também se mostrou associado a uma maior chance de desenvolver a doença.
Radiação ionizante e terapias com hormônios são os dois principais fatores ambientais associados ao câncer de mama. No primeiro caso, o desenvolvimento do câncer pode guardar relação com a exposição da radiação de 20 anos atrás ou até mais. Já o efeito da terapia hormonal parece ter seu efeito carcinogênico em poucos anos, e o risco começa a ser diluído após dois anos da sua interrupção.
Se a influência do álcool sobre o câncer de mama for semelhante à da terapia hormonal, a suspensão do álcool poderia também reduzir os riscos. Essa é uma hipótese que ainda não tem respaldo científico. Outra questão que ainda não tem resposta é se a proteção contra o câncer de mama que a abstinência promove chega a superar os benefícios cardiovasculares de uma dose diária.
* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.
** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.