Em 1922, Fernando Pessoa escreveu O Banqueiro Anarquista, do qual destaco: “As injustiças da natureza, vá: não as podemos evitar. Agora as da sociedade e das suas convenções – estas, por que não evitá-las?”. Recomendo lerem o pequeno tesouro.

Em 1971, o presidente Richard Nixon liquidou o acordo de Bretton Woods, acabando com a conversibilidade do dólar em ouro. Na ocasião, o economista James Tobin sugeriu um novo sistema e a taxação das transações financeiras internacionais para evitar o que hoje se assiste. Em 1981, Tobin recebeu o prêmio Nobel de Economia.

Em 1997, a fumaça é sentida e volta a ser cogitada a implementação da taxa Tobin. O lobby do “clube”, altamente infiltrado nos governos, impede. Hoje os movimentos de rua, da CSI (Central Sindical Internacional, maior associação sindical de nosso planeta) e algumas lideranças políticas, como Sarkozy e Merkel, trabalham para a imediata aprovação da taxa Tobin.

Há muito que o sistema financeiro, especulativo e predador, faz fumaça. Hoje é incêndio, já grande, muito grande, alastrando-se para fora do controle dos bancos, dos bancos centrais, dos governos. As toalhas molhadas, as dezenas de novas regulamentações diárias, não são mais suficientes para apagar o fogo. O mundo, especialmente Estados Unidos e Europa, começa a sofrer queimaduras sérias.

Leis como a Dodd-Frank, aprovada nos Estados Unidos, passaram a premiar todo aquele que denunciar fraudes do sistema financeiro com até 30% dos prêmios obtidos pelas agências de fiscalização, pelo fisco ou outras entidades. Uma nova era nasce.

A era da transparência, do cidadão fiscal, de uma nova democracia, real e mais direta, vai redefinir valores, garantias e direitos fundamentais e naturais do cidadão. Acreditamos que a ética passará a ser ensinada nas escolas, junto com o escrever, o ler, o contar, o desenhar. O sigilo, o secreto, os paraísos fiscais, as sociedades secretas, não mais serão admissíveis na nova democracia.

Há muito é sabido que dinheiro não tem pátria e que banqueiro não tem coração. Chegou o momento da grande decisão: tratar os bancos como qualquer outra empresa ou estatizá-los? Governar é pedir ao povo o suor do trabalho e nunca o sangue do trabalhador, especialmente quando for para alimentar vampiros.

Suor, sim. Sangue, não.

* Valdemiro A. M. Gomes – valdemiro@interconect.com.br.