Tabagismo: tratamento é fundamental para parar de fumar

Pela primeira vez, o número de fumantes permanece em queda no Brasil. A afirmação foi revelada pela pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2011, realizada pelo Ministério da Saúde. Segundo o estudo, de 2006 a 2011, o percentual de fumantes passou de 16% para 14,8%. A frequência é menos da metade do índice de 1989, quando a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou 34,8% de fumantes na população.

Os dados mostram que a estatística de que há mais ex-fumantes do que fumantes no país contribuíram efetivamente nessa redução. Segundo o médico da Divisão de Controle de Tabagismo do Inca Ricardo Meirelles, as pessoas fumantes precisam entender que tabagismo é uma doença, uma dependência química, e alerta: a melhor opção para parar de fumar é o tratamento com profissionais de saúde capacitados. Foi o que aconteceu com a garçonete Eliete Alves. Ela fumou durante 22 anos e conseguiu parar há cinco. “Comecei a fumar aos 16 anos, por influência de amigos. Fumava por brincadeira e quando vi já estava totalmente dependente, fumando duas carteiras por dia. E aí meu marido é cardiopata e vivia tendo crises dentro de casa, com falta de ar. Aí juntou a fome com a vontade de comer e decidi parar totalmente”, relata Eliete.

A garçonete conseguiu ajuda em programa oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que consiste na realização de reuniões em grupos com dependentes e disponibilização de medicamentos. “Eu fiz uma vez e desisti no meio do caminho. Na segunda vez, a médica me deu muito apoio e mudou a medicação. Eu tinha apoio do grupo, onde eu ia e conversava, expunha minhas dificuldades e ouvia as dificuldades dos outros. Além disso, o medicamento tinha um site no qual a cada dia eu recebia uma palavra de conforto para estimular a largar o cigarro”, detalha.

O médico Ricardo Meirelles explica que a maior dificuldade de parar de fumar é a de se manter sem cigarro. “Por isso a importância do tratamento, pois é nele que o paciente vai receber medicamento, que tem a função de reduzir a volta da nicotina no cérebro. Como o cérebro de dependentes de qualquer outra droga, o do dependente da nicotina também sente falta. Então quando o paciente para de fumar, o cérebro sente falta e aí o ex-fumante fica agressivo, irritado, muitas vezes pode ficar depressivo, e com dor de cabeça. E o medicamento vem facilitar esse trabalho, fazer com que o cérebro não sinta falta da nicotina”, afirma.

A nicotina, encontrada em todos os derivados do tabaco (charuto, cachimbo, cigarro de palha etc), é psicoativa, isto é, produz a sensação de prazer, o que pode induzir ao abuso e à dependência. Ao ser ingerida, produz alterações no Sistema Nervoso Central, modificando o estado emocional e comportamental dos indivíduos, da mesma forma como ocorre com a cocaína, heroína e álcool. Depois que a nicotina atinge o cérebro, entre sete a nove segundos, libera várias substâncias responsáveis por estimular a sensação de prazer explicando-se assim as boas sensações que o fumante tem ao fumar. Com o passar do tempo, o fumante passa a ter necessidade de consumir cada vez mais cigarros. Com a dependência, cresce também o risco de se contrair doenças debilitantes, que podem levar à invalidez e à morte.

Sintomas de abstinência – De acordo com o médico Ricardo Meirelles, durante a abstinência o ex-fumante tende a sentir sintomas. “Primeiro há uma grande fissura por cigarro, uma enorme vontade de fumar para repor a nicotina que o cérebro não está tendo naquele momento. Então ele fica com compulsão para fumar. E aí pode sentir dor de cabeça, tonteira, formigamento na mão, tossir. Mas alguns desses sintomas são positivos. Por exemplo, o formigamento das mãos é porque tem uma circulação de sangue na periferia dos dedos que você já não tinha mais. Algumas pessoas nem chegam a sentir os sintomas, mas em média eles diminuem depois de um mês”, diz.

Para Eliete, todo empenho para conseguir parar de fumar valeu a pena. Ela se considera uma nova pessoa, que cheira e sente o gosto das comidas melhor, e dá o seu conselho: “Os fumantes precisam buscar força interior e ter um objetivo. No meu caso, foi minha família, a saúde do meu marido. É necessário focar em um objetivo. Se você tem um objetivo e correr atrás, você consegue alcançá-lo. Basta ter a força de vontade”.

* Publicado originalmente no Blog da Sáude.