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Uma nova mandioca possibilita independência às marfinenses

Variedade de mandioca Manihot esculenta crantz. Foto: Reprodução

Abidjan, Costa do Marfim, 28/9/2012 – Agricultoras da Costa do Marfim conseguem autonomia produtiva e independência econômica graças a novas variedades de mandioca, importante alimento de consumo diário neste país da África ocidental. No sul e leste deste país foram adotadas as variedades de mandioca (Manihot esculenta crantz) de grande rendimento, Bocou 1, 2 e 3, resistentes a doenças e pragas, disse Boni N’zué, coordenador do Projeto Mandioca, uma iniciativa lançada em 2008 pelo Centro Nacional para a Pesquisa Agrícola.

“Podem produzir entre 32 e 34 toneladas por hectare ao ano, bem mais do que as cinco toneladas colhidas com as variedades tradicionais”, acrescentou N’zué. Há oito anos, Henriette Adu recebeu um terreno de um hectare ao sul da aldeia de Dabu, após a divisão da propriedade familiar de dez hectares. Esta camponesa de 35 anos começou a plantar, mas, quando na temporada 2007-2008 não chegou nem a produzir três toneladas, abandonou a atividade por um ano.

“Alguns amigos me recomendaram utilizar novas variedades de mandioca, e testei na safra 2009-2010. Os resultados foram melhores do que eu esperava”, contou Adu à IPS. Em 2010 conseguiu colher 33 toneladas de Bocou 1; no ano passado cultivou Bocou 1 e 2 e produziu mais de 65 toneladas. A US$ 48 a tonelada, sua renda chegou a US$ 3 mil em 2011. Agora Adu pretende aumentar seu terreno. “Pedi aos meus irmãos para me deixarem plantar outro hectare, mas só um deles aceitou. Os outros disseram se negaram e disseram que não me cabe mais do que recebi quando a propriedade foi dividida”, lamentou.

Adu disse à IPS que economiza dinheiro para uma casa que espera terminar de construir após a venda da colheita do próximo ano. “Estou erguendo no meu ritmo, porque agora sou chefe de família”, disse, sorrindo. Suas ambições vão além de vender cada vez mais mandioca. Ela pretende processar e comercializar vários derivados deste cultivo, especialmente attieké (farinha úmida), muito popular na Costa do Marfim e em países vizinhos. “Espero começar a processar a mandioca dentro de dois anos”, disse à IPS.

Albertine Niamien, de 37 anos, leva certa vantagem sobre Abu. Pertence à Associação de Produtoras de Attieké (Apad) e também atribuiu seu bom momento às novas variedades de mandioca. “Há três anos que comecei a plantar Bocou 1 e 2. Quando ocupei três hectares da propriedade familiar, todos me apoiaram. Formamos duas equipes de cinco pessoas, algumas dedicadas ao processamento e outras à comercialização”, contou Niamien à IPS. Sua renda anual, entre US$ 4 mil e US$ 8 mil, segundo disse, lhe permite cobrir as necessidades básicas dos dez membros de sua família.

A Apad tem mais de 150 membros, segundo sua presidente, Veronique Lathe, que cuida de conscientizar para formar uma cooperativa de mulheres e conseguir manter a qualidade e apontar para uma maior industrialização da produção de attieké. “Há mais de mil mulheres cultivando mandioca e fabricando attieké. Devem unir-se à associação. Logo verão que conseguiremos vendas significativas, que nos permitirão ser independentes”, ressaltou.

Em Abenguru, leste da Costa do Marfim, Florence N’dri, de 40 anos, e Cecile Adjua, de 41, são duas das três mil produtoras das novas variedades de mandioca, e vendem quase toda sua produção para uma empresa estrangeira instalada no país. Cada uma delas cultiva em meio hectare e produz cerca de 20 toneladas de mandioca. “Esta pequena colheita nos rendeu US$ 800. Ainda não é suficiente, mas pude economizar um pouco”, contou N’dri à IPS.

Há três anos, as produtoras da região colheram 25 mil toneladas de mandioca no total. Em 2011, a produção foi de 32 mil toneladas, equivalentes a US$ 1,5 milhão. Três quartos foram vendidos para uma empresa estrangeira e o restante colocado no mercado local. “A garantia de ter mercado é muito motivador. Agora lutamos para que nossos maridos e pais nos deem mais terras”, contou Adjua, cujo marido fica de olho em seu terreno para ampliar a plantação de seringueira. Envolverde/IPS

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