Quem de nós nunca fez ou ouviu esta questão: uma única pessoa pode mudar o mundo? A resposta é SIM.
Não existem mágicas, evidentemente. Deixemos a ingenuidade nas HQs (que outrora chamavam-se gibis) do Mandrake e outros personagens largados em um ano qualquer do século passado. A vida real é diferente. Se alguém consegue multiplicar coisas de uma hora para outra, eu pessoalmente desconheço o milagreiro.
Mas não deixarei escapar o tema. Uma única pessoa pode mudar o mundo? Aposto que sim. São vários os heróis (e heroínas!) anônimos(as) desta pátria-mãe que se desdobram para operar verdadeiras e silenciosas revoluções, alfabetizando crianças, esticando orçamentos domésticos apertados, visitando doentes, fazendo caridades, limpando praças, promovendo cidadania e por aí vai. Gente que faz pelo prazer de atender a sua consciência, sem absolutamente nada em troca esperar.
No início dos anos 1990, o jornalista Heródoto Barbeiro (figura de proa na história do rádio e da TV brasileira) decidiu comprar um pedacinho de terra próximo à capital de São Paulo para passar os fins de semana respirando um pouco mais de oxigênio. Ele então comprou um sítio em Taiaçupeba, distrito de Mogi das Cruzes, a pouco mais de 50 quilômetros da paulicéia desvairada.
Rapidamente fez amizades e o relacionamento desta irrequieta e simpática figura expandiu-se por vários cantos de Mogi, Suzano e região. Atento a tudo, sempre, não tardou a perceber a especulação imobiliária que vinha se aproximando da região, como de resto em todo o Estado de São Paulo.
Com muuuuuuuuita luta – gosta de frisar – encontrou uma figura jurídica capaz de lhe dar o que procurava para caracterizar a luta. O seu sítio, caprichosamente denominado Reserva Mahayana, é hoje uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). Assim, nem ele nem seus descendentes poderão fazer qualquer alteração na reserva. “Aqui não se mata uma aranha”, adverte quem pisa aquela terra pela vez primeira.
Ao lado de voluntariosos membros da SAT (Sociedade Amigos de Taiaçupeba), trabalha fervorosamente pela sustentabilidade. Ações ambientais são validadas pela comunidade local, por outros moradores de “fim de semana”, e não raras vezes também encontram ressonância junto ao poder público. Paralelamente às ambientais, a SAT desenvolve ações sociais com a comunidade de Taiá (como é chamado o lugar pelos nativos), inserindo crianças e jovens na vida social e profissional, por meio de cursos profissionalizantes e práticas esportivas contínuas.
Entre 22 e 31 de julho, aconteceu o II Festival de Inverno de Taiaçupeba, ou simplesmente TaiáFest, com muita música, exposição de artistas plásticos locais, artesanato, culinária, vendas de mudas da Mata Atlântica, etc. Mas, sobretudo, com alto grau de politização, pois a SAT, em parceria com a Prefeitura de Mogi e empresas apoiadoras, está pregando a preservação e conscientização da população local e dos visitantes (que foram em número de 11 mil no ano passado), para que o slogan “Taiaçupeba, Distrito Natureza” se perpetue.
Pode não ser o único, mas certamente este é um caso vivo, recente, que pode servir de paradigma. Uma pessoa consciente pode criar um círculo de interessados que, por sua vez, funcionará com um voluntarioso corpo de agentes sociais e ambientais multiplicadores, emprestando cada qual e à sua maneira a contribuição para uma sociedade melhor. Foi assim que uma pessoa protegeu uma área de terra com mata nativa da devastação anunciada, propagou a ação por um distrito que, por sua vez, replicou para uma região.
Que a Reserva Mahayana seja o bom exemplo em nosso dia a dia, porque o Brasil não reúne apenas cobras jararacas e animais predadores em sua fauna. Há bem mais que isso nesta rica flora.
* Nelson Tucci é jornalista, sócio diretor da Virtual Comunicação e colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade.
** Publicado originalmente no site Plurale.