Por Mônica Nunes, Conexão Planeta – 

A foto da onça-pintada com as patas queimadas é de cortar o coração. Ela foi feita por Ailton Lara, cinegrafista e diretor de uma agência de ecoturismo do Pantanal, um dos voluntários que se embrenhou na mata do Parque Estadual Encontro das Águas – um santuário onde vive a maior população dessa espécie no mundo – para tentar impedir que o fogo avançasse e proteger os animais feridos. Junto com outros voluntários, Lara encontrou o macho Donal, assim, prostrado. e rapidamente chamou um grupo de veterinários.

Donal é um dos muitos animais resgatados com vida dos incêndios que já destruiram mais de 2,3 milhões hectares do Pantanal: 1,25 milhão de hectares no Mato Grosso (MT) e 1,08 milhão de hectares no Mato Grosso do Sul (MS). Isso equivale a dez vezes os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, ou 12% a 15% do bioma.

Todos os anos, acontecem queimadas no Pantanal – como também na Amazônia e no Cerrado – e cerca de 90% são provocadas pela ação humana, que pode ser acidental, mas também criminosa. Mas o fato é que nunca se viu nada igual na região, nessas proporções.

Desmatamento, descaso e a pior seca

Foto: Pantanal Relief Fund

O Pantanal vive a pior seca dos últimos 47 anos, intensificada pelo desmatamento na Amazônia, responsável pela umidade e pelas chuvas que banham o centro-oeste e o sudeste do país. Mais: no ano passado, o bioma perdeu 16,5% de sua área florestada original devido aos incêndios.

Os focos de incêndios no período de janeiro a junho deste ano, aumentaram muito em relação ao mesmo período no ano passado, de acordo com o INPE: em 2019, foram 2.557; em 2020, 4.218. Com um detalhe: os piores meses da seca são setembro e outubro. A situação pode piorar.

Assim, áreas que, geralmente, alagam – criando um espetáculo único que atrai turistas de todo o mundo -, este ano não foram inundadas. E a matéria orgânica seca disponível torna o fogo das queimadas ainda mais intenso.

As regiões mais atingidas pelas chamas este ano foram a Serra do Amolar (Corumbá), Poconé e Nabileque. O fogo chegou à região do Porto Jofre, no MT, vindo dos dois lados (avançou pela Rodovia Transpantaneira (única estrada que corta o Pantanal), ao norte, e do Mato Grosso do Sul) e atingiu o Parque Estadual Encontro das Águas, como noticiamos aqui.

Esse parque é um santuário de vida selvagem, que abriga a maior população de onças-pintadas do mundo por km2 (a maior fica na Amazônia, que não é uma reserva). De acordo com informações do LASA – Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Metereologia da UFRJ, a reserva já teve cerca de 60% de sua área consumida pelo incêndio.

Onças-pintadas têm sido encontradas mortas ou muito feridas, como Amanaci – resgatada e tratada com células-tronco, como noticiamos aqui -, mas também jacarés, lontras, cobras diversas, tuiuiús, antas, araras azuis, entre outras espécies, que morrem queimadas pelo fogo, asfixiadas pela inalação da fumaça ou, ainda, devido à dificuldade de se alimentar e de se abrigar.

Foto: Pantanal Relief Fund

Esse triste cenário também é fruto do descaso do governo com o meio ambiente e no combate ao fogo. Além de desestruturar os órgãos de fiscalização e combate, como Ibama e ICMBio, e de cortar 58% da verba de combate a incêndios, o governo – leia-se Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão – nega que os biomas estejam queimando, principalmente a Amazônia, que é o mais pop.

Agentes do Ibama e do ICMBio – os poucos que ainda restam e são comprometidos com conservação – estão em campo, com o apoio do Corpo de Bombeiros e de órgãos ligados ao governo estadual e municipal. Mas, sem o trabalho de voluntários de diversas organizações, que também tentam impedir que o fogo se alastre ainda mais e salvar parte da fauna exuberante da região, a situação seria ainda mais dramática.

O fogo queima incessantemente. Nem os rios são páreo para a fúria das chamas. Por isso, é imprescindível doar dinheiro para essas instituições.

Para onde doar

Foto: Fundação Ecotrópica/Divulgação

Fiz uma pequena lista de organizações que atuam diretamente no combate aos incêndios e no salvamento de animais no Pantanal, ou promovem campanhas, assumindo a administração do dinheiro arrecadado, distribuindo-o entre os voluntários. Mas ela pode ser atualizada e ampliada a qualquer momento. Se você conhecer alguma iniciativa que vale destacar aqui, indique nos comentários.

Entre as ONGs mais atuantes no Pantanal está a FUNDAÇÃO ECOTRÓPICA, que precisa muito de doações em dinheiro para prosseguir com esse trabalho. Qualquer quantia pode ser doada de três maneiras:

– crowdfunding na plataforma Vakinha, onde o doador encontra informações mais detalhadas sobre o trabalho da organização;
– transferência/depósito em conta bancária (Banco Santander, Agência 4604, conta corrente 130026370 para Ecotropica Fundação de Apoio À Vida nos Trópicos, CNPJ 32.983.785/0001-56) ou
– doação in loco: Rua 03 (Sebastiana Paes de Barros), n° 391, Boa Esperança, cep 78.068-375, Cuiabá/MT.

Informações sobre a Ecotrópica e os incêndios podem ser obtidas por WhatsApp (65 98155-4190, com Carla Bragma) ou por e-mail: [email protected]. Acompanhe a fundação pelo Instagram.

A SOS PANTANAL não atua diretamente no combate aos incêndios, mas administra os recursos arrecadados para cobrir custos de logística e operação de brigadistas voluntários e instituições que estão na linha de frente. As doações podem ser feitas via PagSeguro e PayPal. Acompanhe a ONG pelas redes sociais: Instagram, Facebook e YouTube. E anote também o endereço do site.

Já a AMPARA ANIMAL está envolvida diretamente com o resgate e a reabilitação de animais silvestres nos incêndios do Pantanal. Até criou um crowdfunding na plataforma Voaa para arrecadar R$ 1,1 milhão até 30 de setembro, com o objetivo de “manter a operação do PAEAS Pantanal funcionando, garantindo os suprimentos necessários para resgate e reabilitação dos animais, para que tenham chance de voltar ao seu habitat posteriormente”. Acompanhe suas ações pelas redes sociais: Instagram e Facebook.

PANTANAL RELIEF FUND é um Fundo de Emergência para o Pantanal criado, este ano, por duas biólogas que trabalham no Pantanal há muitos anos – April Kelly, da Climb for Conservation e Abbie Martin, do Jaguar Identification Project (Projeto de Identificação de Onças-pintadas) -, em parceria com a ONG Panthera, para combater a Covid-19 e os incêndios florestais na região. Assista ao vídeo que elas produziram para justificar o crowdfunding na plataforma GoFundMe  e acompanhe notícias do fundo pelas redes sociais: Instagram e Facebook.

Em seu perfil no Instagram, a ONG Onçafari publicou uma nota de esclarecimento – foi um dos lugares mais atingidos pelas queimadas no ano passado –, na qual declarou:

“O Pantanal passa pela sua fase mais crítica das últimas décadas e, em uma de suas maiores secas da história recente sofre com o desmatamento e tem o pior período de queimadas desde o fim dos anos 90. Felizmente o Onçafari ainda não foi acometido pelas queimadas atuais, mas nossa equipe, em conjunto com a do Refúgio Ecológico Caiman, está monitorando a situação dado que estamos sujeitos a esses acontecimentos a qualquer momento”.

E aproveitou para avisar que não está arrecadando fundos para ajudar diretamente nas queimadas, mas se solidariza com “as instituições acometidas pelo fogo, e que estão lutando para salvar o bioma e os animais que sofrem com este cenário”.

Para doações, recomenda as seguintes instituições: SOS Pantanal (sobre a qual falamos acima) e o Instituto Arara Azul (atingido pelo fogo, como noticiamos aqui, e que mantém campanha de doação intermitente). E ainda lembra do Instituto do Homem Pantaneiro e da Acaia Pantanal, que não estão realizando campanhas específicas neste momento, mas são super atuantes no bioma.

Pouca intervenção para salvar espécies
Os voluntários da Fundação Ecotrópica procuram dar condições de vida ou de sobrevida às espécies, tanto terrestres, como aquáticas e aéreas, que incluem ainda bovinos e cavalos já que há inúmeras fazendas na região.

Na entrevista que deu ao programa de Fátima Bernardes, na TV Globo, Ilvanio Martins, diretor da Ecotrópica (na foto, acima), ele explicou que biólogos e pesquisadores avaliam as condições do animal. Se ele tiver condições de ser apenas realocado, é o ideal porque “a menor intervenção humana é o melhor caminho para você salvar uma espécie” (no final deste texto, reproduzo o post que divulga essa conversa).

Quanto mais rápido, o animal for devolvido a seu habitat, melhor. Mas se for necessário, ele será levado para tratamento, medicação e recuperação – o acompanhado de veterinários – e depois devolvido ao Pantanal. Por isso, trata-se de “um trabalho temporário“, destacou Martins.

Ilhas de alimentação na recuperação

Também foram criadas ilhas de alimentação (acima), com alimentos doados – o mais próximo possível de sua cadeia alimentar – “para que cada animal consiga se fortalecer e fazer seu ciclo, passando por esse período crítico: a queimada e seus efeitos no Pantanal”. No final deste post, reproduzo o vídeo produzido pela Ecotrópica, que mostra a instalação dessas ilhas de alimentos.

Martins destacou, ainda, que, mesmo que a chuva venha e amenize os incêndios e a fumaça, a recuperação do local queimado e, portanto, dos alimentos, não acontecerá rapidamente. “A preparação da terra para a próxima etapa, que seria a florada, não vai acontecer. Sem florada, não haverá disposição de alimentos para os animais, não teremos abelhas, nem sementes, o que leva, em cadeia, ao retardamento da reposição natural desse ambiente”.

Assim, o trabalho dos pesquisadores vai até que “a condição natural se restabeleça”. Ele conta que é mantida a rotatividade de voluntários, que levam doações – alimentos e mantimentos – não só para os animais, mas também para as pessoas que vivem na região e perderam seus recursos, suas casas, seus animais. E as doações são imprescindíveis para que a vida possa continuar.

Abaixo, assista ao vídeo do The Intercept Brasil que mostra a busca pelos animais feridos em meio ao fogo no Pantanal. A seguir, em outro vídeo, entenda como são feitas as ilhas de alimentação e, ainda, a entrevista com Ilvanio Martins, da Ecotrópica, na qual ele explica como é feito o trabalho em campo no Pantanal.

https://www.instagram.com/tv/CFAaV-EFM5m/?utm_source=ig_embed

Fontes: SOS Pantanal, Fundação Ecotrópica, Inpe, Pantanal Relief Fund, LASA/UFRJ, UOL

Foto: Ailton Lara (destaque)

Matéria publicada em 14 de setembro de 2020

Mônica Nunes
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.

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