Arquivo

Consumismo infantil na contramão da sustentabilidade

Este é o tema do suplemento lançado pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Instituto Alana. Para a coordenadora de mobilização do Alana, “o consumismo infantil preocupa os pais, mas não é só responsabilidade deles. Precisamos de políticas públicas, do apoio nas escolas e da responsabilidade das empresas”

Quem tem filho ou convive com crianças sabe o quanto é difícil dizer não para certas vontades. Brinquedos, passeios, viagens, roupas, sapatos, computadores, acessórios e, claro, guloseimas. O consumo também faz parte da realidade dos pequenos, que estão aprendendo cada vez mais cedo a querer isso e não aquilo.

“Meu filho de dois anos e meio aprendeu a palavra ´comprar’. Agora tudo o que ele quer diz: mamãe, compra pra mim. Outro dia, vendo televisão, ele viu um personagem voando e pediu para eu comprar uma roupa daquela que voa para ele”, conta a empresária Maria Lucia Almeida dos Santos.

De fato, a influência dos meios de comunicação na vida das crianças tem sido cada vez maior. De acordo com dados do Ibope, o público infantil passa mais de cinco horas por dia na frente da televisão. Pesquisa feita pelo Instituto Alana mostra que 64% de todos os anúncios veiculados nas emissoras de TV, monitoradas às vésperas do Dia das Crianças de 2011, foram direcionados ao público infantil.

Olhando para esse cenário, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançou no dia 31 de outubro, em parceria com o Instituto Alana, o suplemento Consumismo infantil: na contramão da sustentabilidade, da série Cadernos de Consumo Sustentável. O material traz sugestões e dicas para pais, professores e responsáveis por crianças e jovens sobre o consumo de lanches mais saudáveis, por exemplo, feitos em casa e que geram menos embalagens descartáveis e resíduos. A publicação incentiva os pais a criarem alternativas interessantes e que envolvam as crianças, como a prática da troca de brinquedos em vez da compra de novos e a reflexão a respeito do ato da compra.

A coordenadora de mobilização do Instituto Alana, Gabriela Vuolo, explica que hoje as crianças recebem estímulos indiscriminados, que levam ao consumismo e a uma conduta insustentável. “Direcionar campanhas de marketing para o público infantil é se aproveitar da vulnerabilidade da criança para estimular um público que não tem condições de refletir sobre o que e como está consumindo. É fomentar um padrão de comportamento totalmente inconsciente”, afirma a coordenadora.

“É um material para o público adulto, repleto de conteúdos e dados. Tem como objetivo levar à reflexão e à mudança de comportamento. Fizemos um pôster com dicas práticas, bem lúdico, que pode ser trabalhado com as crianças”, conta Gabriela.
Luciene Custódio tem um filho de 12 anos e está vivendo um momento importante na criação dele. A administradora de empresas trabalha o dia todo e o filho, quando não está na escola, está no computador. “Agora estou propondo a prática de basquete e coloquei como regra que ele vai me ajudar em algumas tarefas da casa. Não é fácil agradá-lo, mas não quero meu filho o dia todo jogando e conversando com os amigos no computador. Isto me preocupa muito”, analisa.

A coordenadora do Instituto Alana comenta que os pais acabam sofrendo muito com tudo isso. Muitos dizem que não querem excluir seus filhos do que os outros fazem e que não querem criá-los em uma bolha. “Mas, quando percebem que o hábito está fazendo mal precisam colocar limites e, acima de tudo, dar o exemplo, propondo alternativas adequadas”, explica Gabriela.

Ela avalia que é muito difícil competir com as todas mídias disponíveis, “especialmente porque as mídias estão dizendo sempre ‘sim’ para tudo – sim, pode comprar, sim pode ter, sim pode ser”. E Gabriela vai além dizendo que o consumismo infantil não é só uma responsabilidade dos pais. “Precisamos de políticas públicas, do apoio nas escolas e da responsabilidade das empresas.”

Políticas públicas

A secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (Saic) do Ministério do Meio Ambiente, Samyra Crespo, afirma que, entre os temas prioritários da sua gestão, está o consumo consciente com foco nas crianças. “Este é um diferencial deste ano. Faremos uma campanha de conscientização da população sobre a importância do tema, prevista para 2013, e distribuiremos dez mil exemplares do material”. Durante o evento de lançamento do suplemento, Samyra propôs a criação de um Grupo de Trabalho (GT) Intersetorial sobre consumismo infantil, afirmando que o tema precisa permear todo o trabalho do governo.

O Ministério da Educação também contribuirá, distribuindo 70 mil exemplares do suplemento Consumismo infantil: na contramão da sustentabilidade. Já a Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares) distribuirá 15 mil exemplares em todo o território brasileiro.

A ideia do caderno surgiu no final de 2011, depois de o MMA solicitar contribuições do Alana para a elaboração do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS). “O resultado é um material desenvolvido com todo cuidado para ser uma ferramenta capaz de ajudar pais e educadores a abordarem de forma leve temas tão importantes”, ressalta Gabriela.

A publicação pode ser baixada no link http://biblioteca.alana.org.br/banco_arquivos/Arquivos/downloads/ebooks/caderno.pdf.