Foto: http://www.shutterstock.com/
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“Nossos alunos precisam ser ensinados que o crescimento econômico – quando acontecer – deve vir em conjunto com a justiça social, sempre resguardando a proteção do meio ambiente”, propõe o economista Marcus Eduardo de Oliveira .

Ao desconsiderar o sistema ecológico em toda sua amplitude na peculiar relação que mantém com o sistema econômico, a teoria econômica tradicional ignora assim, de fato e de direito, o que se sucede em termos de movimentação dentro da atividade econômica produtiva, a saber: entra (materiais) e sai (resíduos); entra matéria e energia, sai ejetada poluição e detritos.

Dessa forma, fluxos de entrada (materiais e energia) e de saída (produtos e resíduos) precisam ser considerados, e não relegados ao esquecimento, como tem sido comum pelas lentes míopes da economia neoclássica, envolta numa macroeconomia que não mantém vínculos estreitos com as coisas da natureza.

Trata-se, portanto, de enorme equívoco enxergar a atividade econômica de forma isolada, sem interação com o meio ambiente. Cabe aqui contextualizar que a economia é apenas uma parte de um todo; o todo é o meio ambiente.

Nesse sentido, o diálogo entre essas duas ciências (sociais e naturais) é cada vez mais necessário. A “conversa” entre a Economia e a Ecologia tem obrigatoriamente de acontecer para que a conscientização ecológica se faça presente, até mesmo porque “não existe sociedade (e economia) sem sistema ecológico, mas pode haver meio ambiente sem sociedade (e economia)”, como bem asseverou o professor Clóvis Cavalcanti.

De forma inequívoca, o processo de produção econômica vem necessariamente acompanhado da geração de resíduo e poluição. Logo, toda a produção econômica “carrega” consigo elementos do processo ecológico.

De toda sorte, essa relação entre a economia e o capital natural, cada vez mais emblemática, envolve alguns aspectos pertinentes: alterações do clima que são potencialmente provocadas pela ação do homem-econômico; exagero de produtos tóxicos ejetados no meio ambiente como resposta às políticas de crescimento da economia sem o menor respeito aos limites físicos da natureza; a falta de energia e matéria para lidar com as manifestações e os desejos da sociedade de consumo que são cada vez mais intensos e seguem sendo ilimitados.

Percebe-se assim que cada vez mais esses “fatos” apontam para a necessidade de se consolidar um novo modo de pensar a atividade econômica a partir da perspectiva da inserção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos (equilíbrio climático, fotossíntese, oferta de solos, ciclos geoquímicos, água limpa e outros) no conjunto da análise econômica moderna, superando, pois, o caráter reducionista presente nas análises neoclássicas.

Todavia, isso só será possível mediante o estabelecimento, em definitivo, de um diálogo entre os dois sistemas: o econômico e o ecológico.

Como estabelecer esse diálogo? Uma boa resposta para isso vem mediante a implantação daquilo que Fritoj Capra chama de ecoalfabetização. Isso proporcionará (e possibilitará) condições essenciais para o desenvolvimento de um novo modo de pensar a atividade econômica.

Estamos convencidos que, enquanto não mudarmos a forma de produção, respeitando, prioritariamente, os ciclos da natureza, longe ficaremos da condição de se alcançar bem-estar humano sustentável e, cada vez mais aprofundaremos o crescimento econômico fútil, baseado no consumo material, em geral, recheado de suntuosidades.

Combater os excessos e entender que o progresso humano não pode ser confundido com o crescimento material é uma primeira e decisiva etapa para a consolidação de uma ecoalfabetização.

Se almejarmos obter uma vida mais tranquila num mundo mais bem desenvolvido, chegou a hora de pôr um fim na dilapidação que vem sofrendo o capital natural por conta das atividades econômicas exercerem forte pressão sobre os recursos da natureza.

Para isso, é fundamental disseminar essa espécie de “consciência ecológica”. Essa consciência ecológica passa por eliminar o “analfabetismo ecológico”, termo criado por Capra – visando praticar a ecoalfabetização.

Para tanto, desde a base, ou seja, a partir dos primeiros anos de ensino-aprendizagem, se faz necessário colocar nossos alunos em contato com os valores que norteiam às ciências ecológicas.

Em paralelo, há de se desenvolver uma política nacional de educação ecológica, uma verdadeira ecoalfabetização que seja capaz de sensibilizar a todos para a importância que representa o sistema ecológico em nossas vidas.

Nossos alunos precisam ser ensinados que o crescimento econômico – quando acontecer – deve vir em conjunto com a justiça social, sempre resguardando a proteção do meio ambiente.

Faz-se necessário ainda, nesse rol de ações, desenvolver plena consciência de que a natureza é a provedora inicial das necessidades humanas e dela dependemos para sobreviver.

* Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana – Cuba.

** Publicado originalmente no site Adital.