Levantamento da agência 3mais analisa a questão da sustentabilidade no Carnaval e aponta caminhos para tornar a maior festa do Brasil também a mais limpa e consciente.
O Carnaval, maior festa popular do Brasil, é sinônimo de alegria e celebração pelas ruas de todo o País. São dias – e até mesmo semanas – em que boa parte da população deixa um pouco de lado os percalços do cotidiano para descarregar a energia entre o samba e o suor do verão. Já é possível perceber que, aos poucos, nascem iniciativas unindo diversão e práticas sustentáveis a fim de minimizar o impacto ambiental provocado pelo Carnaval.
Recentes levantamentos realizados pela agência de publicidade 3mais, com sede no Rio de Janeiro, apontam que o faturamento com o Carnaval cresceu 13% entre 2023 e 2024, totalizando R$ 25 bilhões movimentados nas principais capitais: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Recife (PE), Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA). A previsão para este ano é de um aumento de 20% em relação ao anterior, em áreas como bares, restaurantes, hotéis e turismo, entre outras, direta ou indiretamente ligadas. No entanto, esse crescimento tem um custo ambiental.
Durante os dias de folia, no ano passado, em todo o Brasil, foram geradas mais de 5 mil toneladas de resíduos. Só no Rio de Janeiro, foram 1,4 mil toneladas, incluindo, fora outras localidades, 454 toneladas no Sambódromo e 738 toneladas nas ruas. Salvador gerou ainda mais lixo: 1,8 mil toneladas devido ao alto número de foliões nas suas ruas. São Paulo, apesar de ter produzido menos resíduos, também registrou mais de mil toneladas de lixo recolhido.
“O Carnaval no Brasil tem se tornado cada vez mais grandioso, por isso é crucial que essa celebração, que movimenta bilhões de reais, também adote práticas sustentáveis. Uma maneira viável de equilibrar diversão e responsabilidade vem de soluções inovadoras que ajudam o meio ambiente e abrem portas para marcas que buscam se associar a causas ecológicas. O desafio de diminuir o impacto ambiental existe e estamos convictos de que é possível festejar com consciência, contribuindo para um futuro mais sustentável”, afirma Rômulo Vieira, gerente de Inteligência e Estratégia de Marca da agência e também responsável pelo diagnóstico.
Alternativas sustentáveis – Segundo ele, várias iniciativas já estão em andamento em todo o País, demonstrando que sustentabilidade e inovação podem caminhar juntas. É o caso, por exemplo, do Bloco do Pedal, em São Paulo, onde a energia do próprio evento é gerada pelo pedalar dos foliões. Outra iniciativa leva assinatura da Carnicycle, empresa que, desde 2018, promove a reciclagem de fantasias de Carnaval em todo o mundo, conectando a festa à sustentabilidade com o lema “No planet, no carnival”.
Essa conscientização, destaca Vieira, deve ser compartilhada por todos: organizadores, blocos, escolas de samba, foliões e o poder público. Em Brasília, a prefeitura criou, em 2024, a campanha “Folia Limpa”. Nessa edição, o número de garis aumentou nas ruas e mais de 20 mil papeleiras foram instaladas nas ruas. Além disso, em parceria com o Serviço de Limpeza Urbana, foi criado o Prêmio Folia Limpa, que reconheceu os dez blocos mais limpos de 2024.
Os foliões também podem fazer sua parte. Como explica Vieira, tanto quem vai participar do Carnaval quanto quem apenas assistir pode colaborar, desde que adote práticas simples, como jogar lixo no lugar certo, reciclar e reaproveitar materiais. No caso da reciclagem, por exemplo, reinventar fantasias contribui para um Carnaval mais sustentável.
Exemplos no Rio de Janeiro – O Carnaval do Rio de Janeiro tem se destacado como modelo de responsabilidade socioambiental. Em uma ação no Esquenta Carnaval de 2024, foram descartados corretamente 500 kg de resíduos, evidenciando a importância de uma gestão adequada.
Além disso, a Liga RJ, organizadora dos desfiles da Série Ouro, criou, em 2024, uma diretoria de sustentabilidade. Sua principal ação é a compensação de carbono das apresentações, neutralizando as emissões por meio de projetos ambientais na Amazônia. O projeto “Quem Samba Recicla” recolheu mais de 41 toneladas de resíduos da Marquês de Sapucaí, transformando materiais descartados em roupas e peças de artesanato, promovendo a economia circular.
O projeto Sustenta Carnaval, criado em 2023, foca na coleta e reaproveitamento dos resíduos gerados durante os desfiles, transformando tecidos descartados em novas fantasias e incentivando o consumo consciente. As escolas do Grupo Especial também demonstram que é possível preservar a tradição do Carnaval enquanto se reduz o impacto ambiental, utilizando materiais reciclados e gerenciando resíduos de forma responsável.
Na opinião de Flávio Medeiros, diretor de Criação da 3mais, o estudo revela que, apesar dos desafios, é viável transformar o Carnaval em um evento mais sustentável. “Sob a ótica da sustentabilidade, misturando samba e meio ambiente, muitas ideias inovadoras podem ser aplicadas com a colaboração de foliões, marcas e organizadores. Iniciativas como reciclagem, compensação de carbono e uso de recursos sustentáveis são alternativas viáveis para um Carnaval mais limpo e consciente”, conclui.