Opinião

ESG: uma sigla que diz muito sobre o negócio

por  Cristiane Cortez, assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP – 

A busca pelo equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente, mesmo sendo, hoje, o foco de atenção da maioria das empresas ao redor do mundo, é uma discussão recente. Muitos conceitos foram sendo construídos; enquanto outros já existiam, porém, restritos a um determinado nicho de mercado, como no caso dos fundos de investimentos ESG – Environmental, Social, Governance, (em português, ASG – Ambiental, Social e Governança).

Criado em 1970, o ESG ganhou atenção com a pandemia de covid-19 e o BlackRock, maior fundo do mundo – com US$ 7 trilhões –, avançando as fronteiras do setor financeiro.

A metodologia de investimento do ESG vem sendo aplicada nos mais diferentes modelos de negócios, refletindo nas formas de gestão e na cultura empresarial, ou seja, o desenvolvimento sustentável efetivamente posto em prática.

Uma boa novidade é que, no Brasil e no mundo, os fundos de investimento ESG e os índices das Bolsas de Valores com viés de sustentabilidade têm rentabilidades maiores – em junho de 2020, 80% destes ativos superaram índices tradicionais de referência de mercado. Há estimativas de que o ESG movimente um mercado de US$ 30 trilhões. Isso significa que, para o empresário, este é o momento certo para investir em ESG.

A base do conceito ESG está na governança, o que inclui as esferas de liderança, controle (riscos e compliance), garantia e direitos de acionistas e stakeholders: consumidores, funcionários, colaboradores, fornecedores, comunidades do entorno e todas as pessoas que, de alguma forma, estão relacionadas à empresa. Assim, temos como exemplo, a logística reversa obrigatória, estabelecida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei 12.305/2010), para embalagens, óleos lubrificantes, medicamentos, eletroeletrônicos, lâmpadas, entre outros.

Neste caso, ficam claros os papéis do consumidor, em providenciar o descarte correto de tais produtos pós-consumo, e dos comerciantes, distribuidores, fabricantes e importadores, em viabilizar este processo – do ponto de entrega à destinação final ambientalmente adequada –, por meio de sistema de logística reversa. Ainda assim, há muitos empreendimentos que não se adaptaram, aumentando as chances de prejuízos e perda de credibilidade.

Direcionar aporte a pagamentos pelos serviços ambientais que têm como objetivo manter em pé florestas e áreas de preservação ambiental é outro bom exemplo de como atuar dentro das práticas do ESG.

Infelizmente, potenciais investidores vêm manifestando preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil e alegando desinteresse em investir aqui e importar nossos produtos, sobretudo da agropecuária.

Por outro lado, há muitas outras medidas também consideradas de extrema relevância no compromisso com o aspecto ambiental, como a redução dos consumos de combustíveis, energia e água, por meio de manutenção adequada dos equipamentos, ou uso de aparelhos com mais eficiências energética e hídrica. Além do uso de combustíveis renováveis, fontes alternativas de água, geração distribuída de energia, etc.

A pandemia, no contexto do ESG, mostrou ainda a preocupação da sociedade em geral com a valorização dos direitos humanos, a promoção das igualdades de gênero e raça por mesmos salários e oportunidades, a diversidade, o fim do trabalho infantil, entre outras situações.

É inquestionável que o engajamento das empresas às práticas do ESG está cada vez mais presente no cotidiano empresarial. Há, sem dúvida, uma mudança na postura dos empresários em atribuir valor aos seus negócios, entre os mais importantes, os fatores ambiental e social. Uma jornada ainda desafiadora para muitos, porém, possível e necessária.

Cristiane Cortez é assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP. Graduada em Engenharia Química pela Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), mestre em Engenharia Química pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Energia da USP.