Por Dal Marcondes, da Envolverde*
Um debate presente em qualquer roda de jornalistas é sobre a sobrevivência dos jornais. No entanto, não importa qual será o suporte da notícia amanhã, se estará em uma folha de papel, em um tablet, em um celular ou projetada diretamente na retina.
Também não importa se estará representada em um vídeo, em um podcasts ou em texto. O que realmente importa é se ela terá um compromisso claro com o desenvolvimento da humanidade em um planeta que caminha para 9 bilhões de pessoas em pouco mais de 20 anos. O jornalismo é parte fundamental da construção do processo civilizatório, com ele a democracia ganhou um olho vigilante ao longo dos séculos, e sua desconstrução não interessa a nenhuma sociedade.
O jornalismo que se necessita para as transformações de modelo econômico e socioambiental demanda recursos que o atual modelo de financiamento dos meios não é capaz ou não deseja oferecer. Aliás, independente do jornalismo que se pratique, atualmente existe uma crise que se alastra pelo modelo de negócio de empresas de comunicação em detrimento da oferta de informação.
Por toda parte no Brasil se vê jornais e revistas e sites de internet em crise financeira, não importa o direcionamento do jornalismo que pratiquem. Os mais comprometidos são certamente aqueles que atuam com a cobertura de políticas públicas, principalmente em meio ambiente, educação, saúde e outros temas de desenvolvimento humano.
O desafio para os jornalistas nessas áreas não está apenas em oferecer conteúdos de qualidade para a sociedade, mas também em encontrar modelos para financiar o trabalho jornalístico, desde a reportagem até a entrega para o público, seja em que formato for.
O jornalismo vive um paradoxo interessante. Nunca foi tão fácil oferecer conteúdos à sociedade, seja em textos, vídeos, podcasts ou mídias sociais. A internet abriu um universo de possibilidades para a criação de novos meios e modelos para informar. No entanto, essa facilidade para contornar principalmente os antigos meios caros e de logística complicada, acabou por desconstruir também os modelos de negócios que tradicionalmente financiam o jornalismo. Então, o jornalismo ficou mais fácil por um lado e difícil por outro.
A produção de reportagens de boa qualidade apresenta custos, principalmente em um país continental e que tem metade do território coberto pela maior floresta tropical do planeta. Além disso, é sempre necessário lembrar que o jornalismo, considerado por alguns como um sacerdócio, é também uma profissão, um ganha pão que precisa ser remunerado.
Mesmo que alguns profissionais que cobrem meio ambiente encarem o exercício do jornalismo como uma espécie de militância ambiental, posição que não subscrevo, se não houver fontes de financiamento para a busca e apuração de reportagens, será um trabalho sem o fôlego necessário para oferecer à sociedade opções de informações consistentes e que sirvam como base para a tomada de decisão pelos leitores.
Há que se ter em conta que uma das principais funções do jornalismo é oferecer à sociedade informações de qualidade para que as pessoas possam se basear nelas para tomar decisões do cotidiano.
O exercício do jornalismo na área ambiental não se diferencia do trabalho de informar em qualquer outra área de políticas públicas e de interesse para o processo civilizatório das nações. É preciso ter profissionais qualificados e remunerados para o trabalho que exercem. A sociedade demanda jornalismo, de informações qualificadas, checadas e baseadas em pautas relevantes.
* Dal Marcondes é jornalista, passou por diversas redações como repórter e editor de economia e desde 1995 dirige o Portal Envolverde, publicação dedicada ao Jornalismo & Sustentabilidade.