por Alice Marcondes, jornalista da Envolverde –

A falta de água é um limite para o crescimento econômico e alguns polos industriais começam a pagar o preço da imprevidência. A solução parece estar na “água de reúso”

Criado na década de 1950 e construído de acordo com as prioridades estratégicas daquela época, de forte apoio a industrialização e crescimento a qualquer custo, o polo petroquímico de Capuava, na região metropolitana de São Paulo, é um exemplo das limitações que a carência de recursos naturais pode impor ao desenvolvimento econômico. Quando ainda no começo de seu primeiro mandato, o presidente Lula autorizou a expansão desse complexo industrial, a limitada e cara disponibilidade de água foi um entrave. A falta de água passou a ser um impeditivo para aumentar o número de indústrias do complexo.

A busca por alternativas desaguou em uma solução aparentemente simples e que pode irrigar novamente as empresas da região com toda a água que necessitam. Ao planejar o tratamento de efluentes e esgotos da região, a Sabesp e a Foz do Brasil (empresa do Grupo Odebrecht), encontraram uma forma de resolver a questão de maneira sustentável e lucrativa: produzir até mil litros de água de reúso por segundo, para abastecer as indústrias do polo. Este tipo de água é obtido com o tratamento de esgotos que torna a água com qualidade para o uso industrial, mesmo que ainda não seja considerada potável.

Em 2008, ao receber a demanda de ampliação da oferta hídrica, a Sabesp procurou a Foz do Brasil, que é a concessionária de esgoto de Mauá, uma das cidades onde está situado o complexo industrial. “Foi criada então uma terceira empresa, que é a Aquapolo”, explica Guilherme Paschoal, diretor da Foz do Brasil. Para tornar o projeto realidade foram investidos R$ 364 milhões. Em 2011, teve início dentro da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) ABC da Sabesp, a construção da estrutura que captará o esgoto doméstico e, após um tratamento com filtragens refinadas, vai devolver água de reúso, que será levada por mais de 17 quilômetros de tubulações até o polo de Capuava. “A previsão é de que comece a funcionar em agosto desse ano. Inicialmente vamos produzir cerca de 650 litros por segundo, mas esta quantidade poderá ser ampliada, podendo chegar a até mil litros”, diz Paschoal.

De todo o volume produzido, aproximadamente 50% será consumido pela petroquímica Quattor, que foi recentemente adquirida pela Braskem. A outra metade será utilizada pelas demais indústrias. “Temos a garantia de compra dessa água de reúso pelo polo por 41 anos. A previsão de retorno de todo o investimento é de 13 anos”, comenta o diretor da Foz do Brasil.

Com uma equação estratégica de meio ambiente e negócios que tem resultados positivos para todos os envolvidos, o Aquapolo além de resolver o problema dos recursos hídricos do complexo industrial, vai reduzir a quantidade de efluentes que atualmente, após o tratamento, é despejado pela Sabesp no Córrego dos Meninos. Ampliar a oferta de água potável para os habitantes da região também será um efeito colateral benéfico do projeto, já que o suficiente para abastecer uma cidade de 500 mil habitantes, que atualmente é fornecido para estas empresas, deixará de ser utilizado em atividades como, por exemplo, o resfriamento das caldeiras das indústrias. Para as empresas do polo, o panorama futuro também é financeiramente favorável, já que pagarão por esta água tratada uma tarifa menor do que a cobrada pela água potável atualmente utilizada para estes procedimentos. (Envolverde)

* Alice Marcondes é jornalista da Envolverde.