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A necessidade de novos líderes climáticos na América Latina

A verdadeira mudança climática na América Latina não se mede apenas em graus ou tempestades, mas em ideias, em liderança, em quem toma a palavra e para quê. Enquanto os efeitos do aquecimento global se intensificam, uma nova geração de líderes climáticos surge, propondo soluções reais a partir de seus territórios. Jovens, mulheres, comunidades indígenas, tecnólogos e ativistas não apenas denunciam problemas, mas criam caminhos concretos para enfrentá-los.

Atualizado em 23/10/2025 às 11:10, por Redação Envolverde.

Imagem de uma bolha de sabão com um árvore dentro sustentada por uma mão.

Por Claudia Daré, cofundadora e diretora da Latam Intersect - 

Esse movimento tem nome: liderança de pensamento climático (Climate Thought Leadership). Ele coloca a América Latina não como vítima passiva da crise global, mas como fonte ativa de inovação, resiliência e visão estratégica. Não se trata mais de esperar ajuda ou repetir discursos prontos, mas de liderar com propostas, alianças improváveis e uma narrativa própria.

Vi isso de perto em Belém do Pará, cidade amazônica que sediará a COP30. Ali, onde a floresta respira vida, política e ciência ao mesmo tempo, floresce uma das expressões mais fortes dessa nova liderança. A escolha de Belém não é casual: é um símbolo de urgência, mas também de possibilidade. Estar ali é entender que a solução climática não virá “de fora”, mas de quem vive e conhece o território.

Para esse novo tipo de liderança, é necessário ter visão e saber romper com velhos padrões. Precisamos de líderes que construam pontes, comuniquem com impacto, inspirem ação e desenhem soluções replicáveis. Líderes capazes de traduzir complexidade em mudança.

A COP30 não deve ser apenas um fórum de escuta, mas uma plataforma de transformação, onde ideias se tornem ação.

Durante minha visita à região onde ocorrerá a COP30, caminhando pela floresta, navegando pelos rios e observando os preparativos para o evento, identifiquei seis pontos-chave para consolidar essa nova liderança climática na América Latina:

Ir além da denúncia: destacar o que funciona, como comunidades rurais no Peru que usam sensores de baixo custo para monitorar a água, ou cooperativas agroecológicas no Brasil que restauram solos e fortalecem economias locais.

Construir alianças entre setores: governos, comunidades, empresas e sociedade civil precisam colaborar de forma estratégica e horizontal, com base na confiança.

Comunicar com impacto: projetos relevantes precisam de boas narrativas que conectem e mobilizem públicos fora do debate tradicional.

Impulsionar projetos replicáveis: experiências bem-sucedidas devem ser documentadas e adaptadas a outros contextos regionais.

Unir atores sob uma visão comum: a fragmentação é um risco; é preciso alinhar objetivos entre movimentos, governos e empreendedores, buscando convergência, não uniformidade.

Escalar o impacto: soluções locais devem inspirar políticas públicas, financiamentos e colaborações que transformem iniciativas pontuais em mudanças estruturais.

A América Latina abriga mais de 50% da biodiversidade do planeta, mas também sofre intensamente os efeitos dos eventos extremos. Essa combinação de riqueza e vulnerabilidade nos obriga a repensar nosso papel. Temos o que é necessário para liderar: conhecimento ancestral, capital humano criativo e urgência.

A COP30 será um marco decisivo. Oferecendo mais do que discursos, o perfil essencial será o de quem conseguirá influenciar e transformar. Porque a liderança climática que a América Latina precisa já está em marcha, só falta amplificá-la.

Envolverde