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Bioeconomia, objetivos e oportunidades agora que a COP30 chegou

Dal Marcondes – Há muitas definições do que seja a bioeconomia. No entanto, já há alguns consensos sobre o tema, e o mais importante deles é que as oportunidades oferecidas pela bioeconomia no Brasil são estruturantes para o desenvolvimento do país neste século. Será preciso trabalho, investimentos e um forte processo de colaboração e compartilhamento de conhecimentos entre as populações tradicionais, organizações sociais, pesquisadores acadêmicos, empreendedores, governos e investidores.

Atualizado em 03/11/2025 às 18:11, por Dal Marcondes.

mesa com diversos produtos mda bioeconomia amazônica

por Dal Marcondes - 

Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a bioeconomia já movimenta no mercado mundial cerca de dois trilhões de euros e gera cerca de 22 milhões de empregos. Além disso, as atividades do setor estão no centro de pelo menos metade dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, desde a segurança alimentar até a garantia de acesso a energia e saúde.

A bioeconomia está na fundação e na história do Brasil. É a vocação de um país com seis grandes biomas e a mais preservada floresta tropical do planeta. Apesar de toda a riqueza de espécies nativas, a maior parte das atividades econômicas nacionais em bioeconomia baseiam-se em espécies exóticas: na agricultura, com cana-de-açúcar da Nova Guiné, café da Etiópia, arroz das Filipinas, soja e laranja da China, cacau do México e trigo do Egito; na silvicultura, com eucaliptos da Austrália e pinheiros da América Central; na pecuária, com bovinos da Índia, equinos da Ásia e capins africanos; na piscicultura, com carpas da China e tilápias da África Oriental; e na apicultura, com variedades de abelha provenientes da Europa e da África.

Esse cenário é parte de uma extrema pobreza nos cardápios da humanidade. Estudos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que 15 espécies (arroz, trigo, milho, soja, sorgo, cevada, cana-de-açúcar, beterraba, feijão, amendoim, batata, batata-doce, mandioca, coco e banana) representam 90% da alimentação mundial.

O Projeto Flora do Brasil, coordenado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, identificou 33 mil espécies de plantas com potencial de serem alimento para as pessoas. O mesmo estudo estimou que há ocorrência de pelo menos 3.300 espécies alimentícias nativas, nos diferentes biomas, entre frutíferas, hortaliças e oleaginosas como nozes e castanhas, que podem fornecer produtos com potencial comercial, como condimentos e polpas, entre outros.

Alimentos, medicamentos, cosméticos e uma enorme variedade de atividades culturais e turísticas estão aguardando pesquisadores, empreendedores e investidores em todos os biomas brasileiros. Afinal, a biodiversidade brasileira não é patrimônio apenas da Amazônia, temos ainda o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga, a Mata Atlântica e o Pampa.

Bioeconomia: história e ciclos de desenvolvimento 

Desde a chegada dos primeiros europeus, o Brasil exporta as riquezas de sua biodiversidade em ciclos econômicos que se sucedem.

1. Ciclo do pau-brasil – Teve seu auge entre os anos 1500 e 1530, sendo a exploração do pau-brasil, árvore nativa da Mata Atlântica, feita principalmente com mão de obra indígena.

2. Ciclo da cana-de-açúcar – Da segunda metade do século XVI até o final do século XVII, a cana-de-açúcar foi trazida do sul e sudeste da Ásia para ser um importante produto no Brasil. As primeiras plantações extensivas aconteceram em regiões dos estados de Pernambuco e Bahia.

3. Ciclo do algodão – Conhecido no mundo há mais de quatro mil anos, o algodão veio para o Brasil no início do século XVII e, até o final do século XIX, ajudou a alimentar as máquinas têxteis da revolução industrial inglesa.

4. Ciclo do café – O café chegou ao Brasil no final de século XVIII e teve seu auge no século XIX, quando sua produção e exportação construíram fortunas e poder político até a primeira metade do século XX.

5. Ciclo da borracha – No final do século XIX e início do século XX, a produção de borracha na Amazônia ganhou grande relevância por conta do crescimento da indústria automobilística nos Estados Unidos e na Europa. Foram anos de grande riqueza para Manaus (AM) e Belém (PA). Mas o contrabando de mudas deslocou o centro de produção de borracha para o sudeste asiático.

6. Ciclo da soja – A partir dos anos 1960, o Brasil introduziu a chinesa soja entre seus cultivos. Primeiro para alimentar os rebanhos de porcos e frangos que começavam a crescer no sul e, a partir dos anos 1970, para exportação, já que os preços internacionais começaram a subir. Com o crescimento da demanda global e especialmente da China, esse é um ciclo que se mantém.

O economista Ignacy Sachs, um estudioso da economia e da biodiversidade brasileira, alerta que o Brasil não participou de nenhuma das grandes revoluções econômicas dos últimos 500 anos, manteve-se na periferia dos eventos e, quando muito, ganhou algo vendendo seu clima ameno e grande disponibilidade de água e solo para a produção de insumos que contribuíram para o desenvolvimento de inovações no estrangeiro.

O país passou séculos apenas como consumidor de tecnologias e importador de conhecimentos. No alvorecer deste século XXI, Sachs realizou um ciclo de palestras pelo Brasil, nas quais fez um chamamento à inovação centrada na bioeconomia. O Brasil registra mais de 46 mil espécies de plantas e fungos em seu território, sendo que 43% dessas espécies são endêmicas, ou seja, só existem aqui. No entanto, em 2020, o IBGE registrou 3.299 espécies de animais e plantas ameaçadas de extinção, o que representa 19,8% do total de 16.645 espécies avaliadas pela pesquisa Contas de Ecossistemas: Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil 2014.

Os produtos florestais e os serviços ambientais prestados pelos biomas e pela biodiversidade não estão cotados em bolsa, e sequer contabilizados nos custos de produção de qualquer plantio de commodities. A contabilidade das commoditiesdeveria levar em conta que a Amazônia ainda é a maior floresta tropical parcialmente preservada do planeta e responsável pelo fluxo de água para a faixa agrícola mais próspera da América do Sul, que abarca Paraguai, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Paraná. Sem os rios voadores – que graças à Amazônia carregam água do Oceano Atlântico em direção aos Andes e fazem chover sobre o Pantanal e os campos das regiões Sul e Sudeste do Brasil –, haveria nessa região semiáridos e desertos, como acontece nesta latitude em todos os continentes.

 

A descoberta de oportunidades

As oportunidades oferecidas pelo clima ameno e pela biodiversidade no Brasil precisam ser trabalhadas para que a exploração econômica respeite os princípios básicos da sustentabilidade, explicitados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Em todo o mundo, as pessoas estão interessadas em produtos que ofereçam maior conexão com a natureza e que estejam de acordo com valores éticos. Os ODS, com suas 169 metas associadas, estão alinhados com esses desejos e oferecem aos empreendedores caminhos e oportunidades. Neste século, os negócios precisam mudar o eixo da competição para a colaboração e para o compartilhamento.

Há muitos conhecimentos dispersos sobre as oportunidades da bioeconomia. O Brasil oferece cenários distintos, nos quais a natureza é o principal capital para o desenvolvimento local, regional e nacional.

Envolverde