Contagem confirma recuperação de baleias jubarte em águas brasileiras

Por Alice Sales para o EcoNorderdeste –  O mais extenso Censo Aéreo do Planeta para a contagem de exemplares da baleia jubarte confirmou a recuperação da espécie em águas brasileiras.  A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) por muito tempo esteve ameaçada de extinção e há 34 anos recebe esforços por parte do Instituto Baleia Jubarte (IBJ), sediado na Praia do Forte (BA),  para salvá-la.

Atualizado em 14/12/2022 às 11:12, por Redação Envolverde.

Por Alice Sales para o EcoNorderdeste – 

O mais extenso Censo Aéreo do Planeta para a contagem de exemplares da baleia jubarte confirmou a recuperação da espécie em águas brasileiras.  A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) por muito tempo esteve ameaçada de extinção e há 34 anos recebe esforços por parte do Instituto Baleia Jubarte (IBJ), sediado na Praia do Forte (BA),  para salvá-la.  Os resultados são animadores neste momento em que as entidades internacionais alertam para a crescente diminuição das espécies selvagens ao redor do mundo.

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O censo aéreo realizado em parceria com a empresa Socioambiental e com apoio financeiro da Veracel Celulose e da Petrobras, confirmou que a espécie está se aproximando da recuperação plena no País, após ter sido quase extinta pela caça indiscriminada ao longo de mais de 300 anos no Brasil e ao redor do mundo. A avaliação dos dados do censo aponta a existência de cerca de 25.000 jubartes nos mares brasileiros.

A bióloga Márcia Engel, que é co-fundadora do Instituto Baleia Jubarte, explica que para a realização do censo, são estabelecidos transectos (linhas) na área que será percorrida com a aeronave. As linhas vão desde a praia até o fim da plataforma continental, que é onde a jubarte, que é uma espécie costeira, costuma ser encontrada. “O avião vai percorrendo estas linhas e os observadores registram as baleias à direita e à esquerda da aeronave. “

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Márcia Engel explica, ainda, que o observador registra o horário, a posição do animal em relação à aeronave, a espécie, o número de animais, o comportamento e a presença ou não de filhote. Para isso são utilizados um gravador, relógio, GPS e clinômetro (equipamento que mede o ângulo do animal em relação à aeronave). “A informação é depois compilada para uma planilha. A partir disso é feita a estimativa do tamanho da população e das áreas de concentração. Abrolhos sempre é o local de maior concentração, com mais de 60% dos registros de ocorrência nesta área”.

O censo aéreo é considerado pelos pesquisadores como o mais extenso do mundo para o estudo de baleias e é realizado a cada três anos, há 21 anos. O levantamento cobriu nesta temporada de reprodução das jubartes numa distância de 6.204 Km, entre a divisa do Ceará e Rio Grande do Norte e o litoral norte de São Paulo, e abrangeu desde a linha de costa até uma profundidade aproximada de 500 metros, já que as jubartes preferem ficar sobre a plataforma continental quando chegam ao País para se reproduzir.

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Durante os sobrevoos foram avistados 643 grupos de baleias da espécie. Leonardo Wedekin, biólogo também responsável pela pesquisa, ressalta que, além de ser o mais extenso do mundo, o censo das jubartes no Brasil é também um dos mais longevos, com mais de duas décadas de trabalho contínuo.

“Cobrir a totalidade da área reprodutiva das jubartes no Brasil nos permite realizar um trabalho científico inestimável, com a realização de uma estimativa populacional mais precisa, um conhecimento melhor da distribuição das baleias e o entendimento da reocupação das áreas extremas dessa distribuição, como Rio Grande do Norte e São Paulo, onde um número crescente de avistagens confirma a expansão do uso de nossas águas pela espécie”, ressalta.

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Enrico Marcovaldi, um dos fundadores do Projeto Baleia Jubarte, relembra que, quando o trabalho começou, durante a implantação do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos,  na década de 1980, ainda não se tinha conhecimento da presença dessas baleias naquela área.  “Com a constatação de que havia uma população sobrevivente de talvez uns 500 espécimes na região é que se iniciou o Projeto Baleia Jubarte. Depois dessas décadas de atuação em prol da proteção delas, ver agora essa população quase totalmente recuperada dá uma enorme alegria e a sensação de dever cumprido. Quase, porque sempre temos que atuar para evitar que elas voltem a ser ameaçadas por impactos das atividades humanas”.

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Além de contabilizar os exemplares existentes nos oceanos, o censo aéreo também permite identificar e avaliar as áreas onde atividades humanas possuem mais potencial de interagir e impactar na presença das baleias. “O volume e a qualidade das informações científicas geradas pelo censo, combinadas com as demais atividades de pesquisa de campo embarcadas que o Projeto desenvolve, nos permitem prever as ações necessárias para assegurar que as jubartes brasileiras sejam protegidas adequadamente de novos impactos, como o emalhamento em redes e colisões com grandes embarcações, além de contribuir com nosso conhecimento para formular as políticas públicas adequadas para a proteção da espécie e seu ambiente”, detalha o diretor geral do Projeto Baleia Jubarte, Eduardo Camargo.

Áreas Importantes para Mamíferos Marinhos

Na última semana, a Praia do Forte, na Bahia, foi palco de um workshop voltado para definir Áreas de Conservação de Mamíferos Marinhos no Atlântico Sul.  O evento histórico foi uma realização do Instituto Baleia Jubarte e reuniu cientistas de todo o mundo para o diálogo sobre o tema. Entre as propostas, foi apresentada como uma dessas áreas o Banco dos Abrolhos, principal concentração reprodutiva de baleia jubarte e que tem também uma população do golfinho mais ameaçado de extinção do Brasil, a toninha (Pontoporia blainvillei), em sua porção sul.

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Além disso, o evento foi um momento de discutir e mapear a região do Atlântico Sul Ocidental com representantes do Brasil, da Argentina, da Guiana Francesa e do Suriname, identificando quais áreas são mais importantes para a conservação de baleias, golfinhos e peixes-boi marinhos. O encontro foi coordenado pela União Mundial de Conservação da Natureza (IUCN), com apoio do Instituto Tethys e da Whale & Dolphin Conservation, patrocínio do Ministério de Meio Ambiente da Alemanha e organização local pelo Instituto com recursos do patrocínio Petrobras ao Projeto Baleia Jubarte e do Projeto Un Solo Mar Brasil-Uruguai.

As Áreas Importantes para Mamíferos Marinhos (IMMA) são definidas como porções discretas de habitat, relevantes para espécies de mamíferos marinhos, que têm o potencial de serem delineadas e gerenciadas para conservação. Essas áreas consistem em espaços que devem merecer proteção e  monitoramento local. Após a identificação dessas áreas pelos grupos de especialistas, as IMMAs são adotadas como áreas prioritárias para conservação por tratados internacionais, como a Convenção de Espécies Migratórias, e também podem ser utilizadas pelos governos como subsídio para a criação de novas Áreas Marinhas Protegidas.

Esse trabalho vem sendo desenvolvido sob a coordenação do norte-americano Erich Hoyt e do italiano Giuseppe Notarbartolo di Sciara, duas das maiores autoridades mundiais em conservação marinha. A iniciativa reconhece o papel fundamental dos mamíferos marinhos como indicadores para apoiar a identificação de Áreas Marinhas Protegidas, já que são facilmente monitorados com relação à maioria dos outros vertebrados do mar. Além disso, há que se considerar a importância desses animais como espécies guarda-chuva, ou seja, espécies emblemáticas que ajudam a garantir que um plano de conservação adequadamente elaborado seja benéfico para todo o ecossistema em que vivem e influenciam para a sensibilização e criação de políticas públicas de conservação.

Para Enrico Marcovaldi, o vice-presidente do Instituto Baleia Jubarte, “receber esse workshop histórico no Brasil e em nossa sede da Praia do Forte foi um imenso privilégio e também um reconhecimento da importância que nosso trabalho, por meio do Projeto Baleia Jubarte, vem alcançando no plano internacional”. O Instituto é a única organização da sociedade civil brasileira a estar representado formalmente junto à Comissão Internacional da Baleia e a ter entre seus integrantes membros da Força Tarefa de Mamíferos Marinhos e Áreas Protegidas da IUCN, a qual originou o trabalho de definição das IMMAs em escala global.

O coordenador de desenvolvimento Institucional do IBJ, José Truda Palazzo Jr., que participa da Força-Tarefa e co-organiza o evento das IMMAs, reforça que “os resultados deste workshop interessam diretamente ao Brasil, que possui áreas extremamente relevantes para os mamíferos marinhos, como a região do Albardão (RS) e o Banco dos Abrolhos (BA). De acordo com ele, essas áreas precisam ter sua proteção urgentemente ampliada.

*Crédito da Imagem destacada: Estima-se que há 25.000 jubartes nos mares brasileiros, com destaque para Abrolhos, com 60% das avistagens | Foto: Instituto Baleia Jubarte

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