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COP30: entre entregas incompletas e a Amazônia que nunca falha

Volto de Belém com aquela sensação agridoce que costuma acompanhar quem acompanha de perto as COPs: a certeza de que ainda entregamos muito menos do que o planeta exige – mas também a convicção de que há sementes potentes sendo plantadas, sobretudo quando a sociedade civil se organiza, se apoia e se fortalece.

Atualizado em 24/11/2025 às 21:11, por Reinaldo Canto.

Banner de apresentação da Casa do Jornalismo Socioambiental em Belém

Por Reinaldo Canto*, enviado especial da Envolverde a Belém para a cobertura da COP30 - 

Participei da COP30 representando a Envolverde, em parceria com o CicloVivo, e posso afirmar sem exageros que esse encontro consolidou uma das colaborações mais produtivas e afinadas do jornalismo socioambiental brasileiro. Entre coletivas, entrevistas, análises e muitas horas de sala de imprensa improvisada, reforçamos uma cobertura complementar, plural e comprometida. Em tempos em que a informação confiável é patrimônio e trincheira, essa parceria mostrou força, consistência e – por que não? – afeto pelo ofício.

A Casa do Jornalismo Socioambiental: mais que hospedagem, um território de sentido

Nossa estadia na Casa do Jornalismo Socioambiental foi outro marco dessa COP. O espaço, que reuniu repórteres, fotógrafos e comunicadores de várias partes do país, virou um laboratório permanente de trocas, reflexões e descompressão. Ali se cozinhavam reportagens e tapiocas, análises e risadas. Era impossível não sentir que estávamos participando de algo maior do que a mera cobertura de mais uma conferência climática.

Foi naquela casa que percebemos com mais clareza a potência de estarmos juntos: profissionais experientes dividindo o mesmo teto com comunicadores indígenas, jovens repórteres, pesquisadores e ativistas. Aquelas noites de conversa eram tão importantes quanto os painéis oficiais da conferência.

A COP que não entregou tudo – e a cidade que entregou mais do que prometeu

É verdade que a COP30 ficou devendo. O mundo chegou a Belém com urgências que já não cabem mais no futuro, e diplomacias que se acomodam melhor nas notas de rodapé do que na linha de frente das decisões. Faltou ambição, faltou coragem e, principalmente, faltou reconhecer que a conta ambiental já venceu há muito tempo.

Mas Belém… ah, Belém entregou.

A cidade mostrou uma Amazônia vibrante, generosa, orgulhosa de si e de seu povo. Entre sumaúmas que sombreiam as ruas, o Ver-o-Peso e a Estação das Docas pulsando aromas impossíveis de esquecer e um fervilhar de sotaques e línguas estrangeiras, prevaleceu o calor humano que nenhuma agenda oficial é capaz de traduzir, Belém nos lembrou a razão de tudo isso: proteger a vida em sua forma mais exuberante e essencial.

A hospitalidade foi um capítulo à parte. Nunca faltou uma explicação, um sorriso, uma história. Nos barcos, nas vans, nos bairros, nos mercados, nos auditórios e nos lares improvisados para jornalistas e participantes, o povo paraense mostrou ao mundo que a Amazônia não é cenário: é sujeito.

Muito ainda por fazer – mas o Brasil está de parabéns

Se a COP não nos deu tudo o que queríamos, Belém nos deu mais do que esperávamos.

Volto com a convicção de que o Brasil mostrou, nesta conferência, não apenas seu papel estratégico, mas sua alma: múltipla, forte, diversa, acolhedora e absolutamente indispensável ao futuro climático do planeta.

Falta muito – sabemos. Mas também sabemos reconhecer quando um país acerta o tom, quando uma cidade abraça um evento global e quando uma parceria jornalística floresce na adversidade.

A COP30 pode não ter sido perfeita. Mas o Brasil, Belém e a Amazônia estão de parabéns. E nós, comunicadores comprometidos com a causa socioambiental, seguimos firmes, juntos e ainda mais certos da importância de contar essas histórias.
 

Envolverde