Economia Circular e Mitigação da Crise Climática: Como a COP30 Pode Redefinir a Ação Climática Global
por equipe de redação Linkarme – A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) será sediada pela primeira vez na Amazônia, posicionando o Brasil como centro das negociações climáticas globais.
por equipe de redação Linkarme –
A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) será sediada pela primeira vez na Amazônia, posicionando o Brasil como centro das negociações climáticas globais. A relevância do local não é apenas simbólica, a floresta amazônica é um dos principais ativos ambientais do planeta, e a sua preservação está diretamente ligada à estabilidade climática global.
Segundo o relatório “Completando a figura: como a economia circular ajuda a enfrentar as mudanças climáticas”, da Fundação Ellen MacArthur, estratégias de economia circular podem reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em até 45% nos setores de produção de cimento, aço, plástico, alumínio, alimentos e têxteis, todos altamente emissores. Já a transição para fontes de energia renováveis pode tratar dos outros 55% das emissões.
Somadas, essas duas estratégias oferecem um caminho completo para alcançar as metas climáticas da ONU, mostrando que a economia circular e a descarbonização da matriz energética são indissociáveis.
Nesse sentido, a COP30 tem potencial para reforçar a importância de avançar nessas duas frentes de forma integrada, se tornando um marco na consolidação de compromissos regulatórios e financeiros não só referentes às energias renováveis, mas também voltados à ampliação da economia circular em escala global. Espera-se que os países apresentem novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), incorporando princípios de circularidade como eixo estruturante das suas estratégias climáticas.
Continue lendo para entender melhor o cenário do Brasil e o papel estratégico da economia circular na COP30.
O papel da COP30 em um cenário de urgência de ações climáticas efetivas
Diante das lacunas deixadas por edições anteriores, especialmente pela COP29, a COP30 concentra grandes expectativas quanto ao avanço de mecanismos concretos para a mitigação da crise climática. Espera-se que o encontro resulte no fortalecimento de instrumentos regulatórios e financeiros que estimulem modelos produtivos regenerativos e de baixo carbono.
Na COP29, embora a economia circular não tenha sido central nas negociações oficiais, ela se destacou como um dos principais pilares das propostas apresentadas por empresas e organizações brasileiras. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) , a circularidade foi apontada como um dos quatro eixos estratégicos para a transição verde da indústria nacional, ao lado da transição energética, do mercado regulado de carbono e da conservação florestal.
Esse protagonismo do setor privado brasileiro evidenciou o potencial transformador da economia circular nas cadeias produtivas e reforçou a urgência de sua incorporação formal nas estratégias climáticas multilaterais. A expectativa é que a COP30 avance no reconhecimento institucional desse tema, estabelecendo métricas, metas e mecanismos de financiamento capazes de transformar a circularidade em política pública global.
Compromissos da COP29 e expectativas para a COP30
Na COP29, a economia circular teve uma presença periférica, limitada a declarações de intenção e compromissos voluntários. Faltaram metas quantificáveis, mecanismos de monitoramento e estruturas de financiamento específicas. Países como Chile e Colômbia avançaram por meio de articulações regionais, como a Latin American and Caribbean Coalition on Circular Economy , mas sem o respaldo financeiro e institucional necessário para escalar suas ações.
O papel do Brasil na economia circular durante a COP30
O Brasil já dá passos concretos rumo à circularidade, com iniciativas nos setores de alimentos, embalagens, construção civil e gestão de resíduos sólidos. Além disso, desde 2022, o Brasil vem avançando na consolidação de políticas públicas voltadas à economia circular.
Entre os principais marcos, destacam-se a tramitação do Projeto de Lei 1.874/2022, que propõe a criação da Política Nacional de Economia Circular; a Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC), que define a visão de longo prazo e as prioridades do país para a transição circular; e o Plano Nacional de Economia Circular (PLANEC), que detalha a implementação das diretrizes da ENEC e organiza as ações concretas necessárias para viabilizar essa transformação.
Para além da reciclagem, as iniciativas brasileiras em economia circular estão ancoradas em seus três pilares fundamentais: a não geração de resíduos e poluição, a manutenção de materiais e produtos em seus mais altos níveis de valor e a regeneração dos sistemas naturais. Juntas, essas diretrizes apontam para um caminho de desenvolvimento econômico duradouro e de baixo carbono, alinhado às necessidades ambientais, sociais e econômicas do país.
Compromissos internacionais atuais com a economia circular
Cada vez mais países vêm incorporando princípios da economia circular em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No entanto, esses compromissos ainda são incipientes, carecem de metas robustas e sofrem com a ausência de métricas padronizadas que permitam seu monitoramento efetivo.
A Fundação Ellen MacArthur destaca, em seu relatório “Financiamento Financiamento da economia circular: Aproveitando a oportunidade”, a urgência de desenvolver instrumentos financeiros específicos para alavancar o investimento privado em soluções circulares, apontando a necessidade de integrar a circularidade ao sistema financeiro internacional.
A economia circular como pilar da ação climática global
Apesar de ganhar espaço nas negociações multilaterais, a economia circular ainda não é tratada com a centralidade estratégica que exige a emergência climática. Para alcançar a neutralidade de carbono até 2050, será indispensável adotar a circularidade como pilar estrutural das políticas climáticas.
A COP30 representa uma oportunidade histórica para que as lideranças globais reconheçam oficialmente o papel estratégico da economia circular na agenda climática, estabelecendo compromissos mais ambiciosos e mecanismos de implementação que a integrem de forma estrutural às NDCs, com metas claras e alinhadas à neutralidade climática.
Espera-se o avanço de marcos regulatórios que incentivem o ecodesign, a logística reversa e a responsabilidade estendida do produtor, bem como a criação de mecanismos de financiamento climático voltados a iniciativas circulares locais, especialmente em países em desenvolvimento, garantindo escala, equidade e impacto nos territórios.
A perspectiva do Sul Global sobre a economia circular
O Sul Global enfrenta desafios de infraestrutura, mas também tem oportunidades únicas. O potencial de reaproveitamento de materiais, valorização de resíduos e modelos baseados na economia informal pode ser uma vantagem competitiva, se apoiado por políticas públicas e financiamento internacional.
1. O Brasil como liderança no Sul Global
Ao sediar a COP30, o Brasil tem a chance de se posicionar como protagonista na construção de soluções circulares adaptadas à realidade do Sul Global. Sua biodiversidade, matriz energética renovável e potencial logístico o colocam como um hub de inovação circular.
2. Oportunidades para economias emergentes
Iniciativas de financiamento climático, como as propostas pela Fundação Ellen MacArthur, podem gerar novas oportunidades para startups circulares, infraestrutura verde e inovação em cidades latino-americanas. É nesse contexto que ganha destaque o papel de consultoria em RSC na América Latina , apoiando empresas e governos na transição justa e inclusiva.
O caminho da economia circular e mitigação da crise climática
A COP30 será um marco decisivo para conectar os conceitos de economia circular e mitigação da crise climática em políticas concretas, com aplicação global. Com o apoio de organizações como a Fundação Ellen MacArthur e a liderança de países como o Brasil, o mundo tem a chance de redefinir os rumos da ação climática. Para isso, é necessário coragem política, compromisso financeiro e uma visão sistêmica que reconheça a circularidade como um pilar essencial para um futuro resiliente.
A adoção plena da economia circular e mitigação da crise climática não é mais opcional, é estratégica, urgente e possível. E a COP30 pode ser o palco para essa virada histórica.
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