Expansão de dados sobre produtos da biodiversidade

Por Maria Fernanda Ziegler || Jornalista da Agência FAPESP, de revista Eco21 –  Mais de 54 mil compostos oriundos de produtos naturais da biodiversidade brasileira estão sendo reunidos em um banco de dados com informações sistematizadas sobre ocorrência, estrutura química e relação de artigos publicados.

Atualizado em 22/04/2020 às 16:04, por Redação Envolverde.

Por Maria Fernanda Ziegler || Jornalista da Agência FAPESP, de revista Eco21 – 

Mais de 54 mil compostos oriundos de produtos naturais da biodiversidade brasileira estão sendo reunidos em um banco de dados com informações sistematizadas sobre ocorrência, estrutura química e relação de artigos publicados. A coleção foi criada a partir do acordo firmado entre o Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-UNESP) e o Chemical Abstracts Service (CAS), uma divisão da Sociedade Americana de Química (American Chemical Society).

Com base em informações contidas em mais de 30 mil artigos publicados em revistas científicas, chegou-se ao total de 51.973 compostos de plantas nativas do Brasil. Somam-se a esses compostos outros 2.219 que vêm sendo sistematizados no banco de dados do Núcleo de Bioensaios, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais (NuBBE Database), da UNESP.

/apidata/imgcache/c9086ef94dad4d18574aac51a8a0b2ce.png

A compilação de informações de produtos naturais vem sendo realizada há seis anos pela pesquisadora Marilia Valli, sob a supervisão da coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biodiversidade e Produtos Naturais (INCT-BioNat), Vanderlan Bolzani.

Borboleta e folhas – Foto: Lúcia Chayb

“O acordo permitirá a criação do primeiro banco de dados certificado com informações sobre produtos naturais da biodiversidade brasileira. Ter essas informações organizadas em uma base de dados ampla e aberta para a comunidade científica é de extrema importância, pois vai facilitar o trabalho de pesquisa e criação de novos produtos químicos ou medicinais”, disse Bolzani, professora titular do IQ-UNESP, em Araraquara, e membro do Conselho Superior da FAPESP.

/apidata/imgcache/1bdafa2166b14962cb7735c80fd0ebfb.png

Com a iniciativa, serão reunidas em um único banco de dados as substâncias isoladas da biodiversidade brasileira e identificadas em todos os laboratórios do país. “Poderemos vislumbrar tudo o que já foi feito no Brasil de forma organizada. Isso é extremamente importante tanto para a Academia quanto para as empresas”, disse Bolzani, que também é membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.

A partir de uma lista de artigos científicos compilada pela equipe do NuBBE, o CAS – que tem uma equipe ampla e dedicada à criação de banco de dados – fez a seleção das informações, a ligação com a fonte de referência bibliográfica, a identificação das moléculas e a preparação de arquivos de transferência de dados, para que seja possível incorporar esses dados ao NuBBE Database.

/apidata/imgcache/1fd4dd12a135f2a49158fe1f91cb23cf.png

Assim, ao fazer uma busca pelo nome da molécula, propriedades ou por sua estrutura, por exemplo, o sistema recupera todas as informações disponíveis na literatura científica, de forma organizada. “O grande diferencial do acordo é que o CAS está fazendo o licenciamento [doação] para a base de dados do NuBBE, que é de acesso público. Dessa forma, a base de dados ficará mais ampla”, disse Denise Ferreira, gerente nacional do CAS no Brasil.

De acordo com Ferreira, em função da experiência do CAS com seleção e curadoria de dados de substâncias químicas, será possível ter maior detalhamento das substâncias. A gerente nacional do CAS ressalta o ineditismo da doação, pois normalmente a entidade cobra pelo acesso aos seus bancos de dados. “A doação surgiu de uma contrapartida para o apoio da ciência brasileira, após o Museu Nacional no Rio de Janeiro ter sido destruído por um incêndio, em 2018”, disse.

/apidata/imgcache/521ec81c01718c180929d2b052e93fce.png

O Brasil reúne aproximadamente 20% de todas as espécies do Planeta. Em razão de sua rica biodiversidade, o país conta com um enorme potencial para a produção de conhecimento e de produtos com valor agregado – incluindo medicamentos naturais ou derivados, suplementos alimentares, cosméticos e materiais para controle de pragas e parasitas agrícolas.

Bolzani ressalta também a importância desse sistema para a formulação de políticas públicas. “Com a base de dados, será possível perceber que os estudos tendem a focar sempre nas mesmas espécies, sendo que há uma diversidade enorme a ser estudada”, disse Bolzani.

Bolzani disse à Agência FAPESP que a inspiração para criar essa base de dados surgiu quando participou de um congresso científico na China, em 2005. “Fiquei fascinada com a base de dados sobre produtos naturais usados pela medicina chinesa. Decidimos, então, tentar criar uma base de dados robusta sobre a biodiversidade brasileira”, disse.

A sistematização teve como base o NuBBE Database, criado há seis anos por meio da colaboração entre o núcleo da UNESP e o Laboratório de Química Medicinal e Computacional (LQMC), liderado por Adriano D. Andricopulo, do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP).

/apidata/imgcache/6ab4f0e8b4287808ccf7582ab7f7b6fd.png

“Nosso intuito com a parceria é que o banco de dados cresça o suficiente para representar a biodiversidade brasileira. Começamos a base de dados com informações sobre o que era descoberto em nosso laboratório. O uso por diversos outros pesquisadores nos motivou a expandir o conteúdo para abranger toda a biodiversidade brasileira. Entramos em contato com o CAS, que tem boa parte desses dados já compilada, e conversamos sobre este projeto que está sendo executado”, disse Valli.

#Envolverde


Leia também: