IPS - Ativistas entram em confronto com a segurança contra a COP30
Se eu pudesse encontrar o presidente da COP, falaria com ele sobre a necessidade de preservar o meio ambiente, de preservá-lo de verdade, junto com os povos indígenas. Também falaria sobre a necessidade de colocar a vida acima do lucro. — Jeane Carla, ativista na COP30
Um protesto pacífico na COP30 em meio à intensificação das manifestações. Houve até quatro protestos vibrantes por dia, reivindicando apoio para diversas causas. Crédito: Joyce Chimbi/IPS

por Joyce Chimbi para a IPS -
BELÉM, Brasil (IPS) - Diferentemente das três COPs anteriores, no Egito, Dubai e Azerbaijão, houve manifestações cada vez mais intensas de ativistas no local da COP30, em Belém, capital do estado do Pará, no norte do Brasil.
Em alguns momentos, chegam a ocorrer até quatro protestos em um único dia. Pelo menos um deles ganhou as manchetes, e houve momentos de pandemônio na noite de terça-feira (11 de novembro), quando dezenas de ativistas indígenas e não indígenas invadiram o local da COP30 na capital do estado do Pará, no norte do Brasil, enquanto milhares de delegados deixavam o local após o término das atividades do dia.
A situação ficou tensa na entrada, com uma multidão de manifestantes gritando e entoando cânticos, e que conseguiram arrancar uma porta das dobradiças e ferir pelo menos dois seguranças no confronto.
A invasão de terça-feira à noite foi a mais intensa até agora e pareceu ser um grande protesto composto por vários pequenos grupos, todos exigindo com raiva acesso ao local da COP30.
Após o incidente, a entrada principal da COP30 ficou em obras até altas horas da noite. O governo brasileiro tem incentivado a liberdade de expressão e disponibilizado espaços maiores para atividades em defesa dos direitos civis.
A IPS encontrou um grupo de manifestantes que ainda estavam do lado de fora do local da COP30 momentos depois de os manifestantes terem sido expulsos do local.
Entre eles estava Jeane Carla, uma ativista de 24 anos e membro da CST UIT-QI, que se refere à Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST) ou cadeia socialista dos trabalhadores, e é a seção brasileira da organização socialista revolucionária internacional Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI). Esta é uma organização social que promove fortemente os valores socialistas.
“Estamos protestando aqui em Belém pela saúde climática. Queremos falar sobre a catástrofe ambiental que estamos vivendo hoje, em nossa época. Por isso, viemos a pé, junto com os indígenas e os jovens, e atravessamos vários bloqueios, inclusive o bloqueio do próprio exército”, disse ela.
“Houve até repressão, mas estamos aqui”, continuou ela, “comparecemos perante a COP30 para apresentar aquilo em que acreditamos. A necessidade de lutar em defesa dos sistemas climáticos vai além da defesa dos povos indígenas e da defesa do meio ambiente e, infelizmente, a COP30 precisa começar a oferecer uma saída, pois ainda não o fez. Precisa fazê-lo.”
Carla listou suas prescrições para COP30.
“Antes de mais nada, a COP30 deve ser um espaço formado pelos trabalhadores e pela juventude, para que possamos apresentar alternativas concretas e reais para reverter a crise climática. Em nossa perspectiva, seria necessário construir um novo modelo de sociedade e uma nova ordem mundial, para destruir o sistema capitalista, que é o eixo da destruição ambiental.”
“Com a máxima urgência, a COP30 deve travar uma luta real contra as mudanças climáticas.”

“Se eu pudesse me encontrar com o presidente da COP, falaria com ele sobre a necessidade de preservar o meio ambiente, de preservá-lo de verdade, junto com os povos indígenas. Também falaria sobre a necessidade de colocar a vida acima do lucro.”
“Precisamos urgentemente de uma transformação efetiva do ambiente, que vá além da luta e da organização dos povos indígenas, dos trabalhadores e da juventude, para que possamos lutar por um mundo melhor. Um mundo que supere a exploração e a opressão. Acredito firmemente que essa mudança só pode acontecer com um governo dos trabalhadores e da juventude.”

O grupo socialista não foi o único. Havia também aqueles com bandeiras amarelas protestando contra a perfuração de petróleo na Amazônia. O IBAMA, órgão ambiental brasileiro, concedeu à Petrobras, Corporação Brasileira de Petróleo, uma licença para explorar petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, rica em biodiversidade marinha. Essa área abriga comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais que dependem da Amazônia costeira para sua sobrevivência. A licença foi emitida menos de um mês antes da cúpula climática da ONU na cidade amazônica de Belém.
Outro grupo carregava uma grande bandeira palestina. Outros protestavam contra a atividade industrial e os empreendimentos em curso na floresta amazônica. A floresta amazônica é conhecida por sua imensa biodiversidade, abrigando 10% das espécies conhecidas da Terra, e por seu papel na regulação do clima global, armazenando vastas quantidades de carbono.
A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, com um impacto significativo nos padrões climáticos regionais e lar de muitos povos e culturas indígenas. Seu rio é responsável por 15 a 16% do total de água que deságua nos oceanos em todo o mundo. O Rio Amazonas percorre mais de 6.600 km.
Mais importante ainda, a Amazônia abriga milhões de indígenas, que somam pelo menos 2,2 milhões e fazem parte de mais de 300 grupos étnicos distintos. Essas comunidades vivem na Amazônia há milênios e seus territórios ancestrais são cruciais para a biodiversidade da região e para o clima global.
Abrangendo 6,7 milhões de km², ou o dobro do tamanho da Índia, o Bioma Amazônico, uma vasta comunidade natural de flora e fauna que ocupa um importante habitat, é simplesmente incomparável. Havia uma faixa com os dizeres: "Nossas florestas não estão à venda". Outros usavam camisetas com a inscrição "Juntos".

De modo geral, a calma foi rapidamente restabelecida e o incidente, sem dúvida, influenciará significativamente o discurso em uma COP que conta com um número recorde de participantes indígenas, estimado em cerca de 3.000 representantes de todo o mundo.
A COP30 registrou a maior mobilização indígena da história das conferências da ONU sobre mudanças climáticas, e por uma larga margem. A alta participação é resultado de um esforço conjunto do governo brasileiro e de organizações indígenas para colocar as vozes indígenas no centro do debate climático.
No total, mais de 1.000 líderes indígenas estão participando das negociações oficiais dentro da “Zona Azul”, ou área de acesso restrito para delegados, com outros 2.000 na “Zona Verde”, aberta ao público.
Além disso, a Presidência da República do Brasil estabeleceu uma “Vila COP” na Universidade Federal do Pará (UFPA) para servir de alojamento e espaço para atividades culturais e políticas dos participantes indígenas, fomentando o convívio e o diálogo.
A Presidência da República do Brasil também criou o “Círculo dos Povos” como mecanismo oficial para garantir a participação significativa da sociedade civil, incluindo povos indígenas e comunidades tradicionais, nos debates da conferência. Essa presença expressiva destaca o papel amplamente reconhecido dos povos indígenas como guardiões essenciais da biodiversidade e parte crucial da solução para a crise climática.
IPS/Envolverde





