Livro conta a saga do projeto do motor a álcool

Por Júlio Ottoboni* Um dos mais ambiciosos e bem sucedidos programas em tecnologia de combustível limpo do Brasil e com imensa repercussão em todo mundo teve sua história detalhadamente recontada num livro reportagem.

Atualizado em 27/01/2017 às 12:01, por Júlio Ottoboni.

Por Júlio Ottoboni*

Um dos mais ambiciosos e bem sucedidos programas em tecnologia de combustível limpo do Brasil e com imensa repercussão em todo mundo teve sua história detalhadamente recontada num livro reportagem. O programa do motor brasileiro se revela em detalhes no livro “A Solução Brasileira: História do Desenvolvimento do Motor a Álcool no DCTA”. A publicação escrita pela jornalista Fernanda Soares Andrade traz um relato desde os primórdios do projeto até sua realização e os motores flex que são usados atualmente pelas montadoras de veículos.

/apidata/imgcache/c9086ef94dad4d18574aac51a8a0b2ce.png

Foram três anos de entrevistas, consultas aos jornais da época, comunicados internos, cartas, homenagens etc., no que resultou num acervo com milhares de informações.  O resultado é uma amostra do potencial brasileiro que existia em institutos como o antigo Centro Técnico de Aeroespacial (CTA), de São José dos Campos, berço do programa do motor brasileiro.

Todo o trabalho do livro, inclusive sua publicação, foi bancada pelo Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT), também sediado na cidade do Vale do Paraíba. E sua distribuição é gratuita pela entidade, que ainda digitalizou todo o arquivo gerado na pesquisa e é disponibilizado aos interessados.

“O idealizador da publicação foi o ex secretário-geral do Sindicato, Sérgio Rosim, que tinha como objetivo esclarecer a população sobre o funcionamento dos institutos de pesquisa”, explica a autora o que motivou a publicação.

Entre as funções do livro, além de resgatar informações mais precisas sobre a condução do projeto, Rosim viu como uma homenagem aos funcionários que estiveram envolvidos no projeto do motor brasileiro e o resgate mais fiel possível do ocorrido na época.

/apidata/imgcache/1bdafa2166b14962cb7735c80fd0ebfb.png

São 150 páginas com uma farta documentação histórica, fotos de época, o enfoque da imprensa, que apresenta um quadro contextualizado desde o final da década de 1970 até os dias de hoje. E mostra como a crise do petróleo colaborou para o início do desenvolvimento do motor a álcool no Brasil.

Carro a álcool. Frota Telesp Fusca. Foto: Divulgação

O livro aborda o protagonismo do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), como o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) era chamado na época. Além de mostrar como funcionava todo esse processo, as vantagens em relação à gasolina, o surgimento das novas usinas, também experiências com outros combustíveis e o retorno do uso do álcool nos carros flex. E conta o destino que levou os carros de teste, passagens curiosas e pouco conhecidas.

/apidata/imgcache/1fd4dd12a135f2a49158fe1f91cb23cf.png

Entre elas o problema com os carburadores dos fuscas da Telesp, numa frota de 400 veículos. A empresa adquiriu 10 motores reservas e mandou converter os que funcionavam com gasolina. Começaram a surgir inúmeros problemas que os engenheiros do CTA investigaram e resolveram. O mais frequente, no entanto, era o entupimento dos carburadores por um pó branco. Depois de pensarem em fazer até peças de vidro. Um mecânico descobriu a solução, a limpeza da peça com vinagre de cozinha.

Outra curiosidade, as bobinas dos carros queimavam com frequência. Ninguém conseguia descobrir o motivo, pois nunca ocorreu nos testes de bancada. A descoberta veio praticamente por acaso. Enquanto o técnico em telefonia fazia o serviço, o motorista ficava como rádio do carro ligado e gerando uma sobrecarga na bobina. A solução foi criar um circuito independente da ignição do veículo, que é utilizado até hoje pelas montadoras.

/apidata/imgcache/521ec81c01718c180929d2b052e93fce.png

A jornalista fez uma longa jornada atrás dos principais personagens deste projeto, indo para São Simão (GO), Goiânia (GO), Uberlândia (MG) e Brasília (DF), além de entrevistas e pesquisas em São José dos Campos.  Um dos pontos altos,  segundo a autora, foi a entrevista com o engenheiro Clóvis Michelan, conhecido por muitos como “pai do carro a álcool”.

“ O Clóvis foi um dos principais incentivadores da pesquisa, tendo disponibilizado seu acervo e seu tempo para conversar. Por causa de um câncer, não conseguiu concluir sua promessa de escrever o prefácio do livro. Foi internado logo após o pedido e veio a falecer três meses depois”, comenta sem esconder a emoção. O prefácio do livro ficou em branco, pois Michelan o redigiria.

/apidata/imgcache/6ab4f0e8b4287808ccf7582ab7f7b6fd.png

A primeira edição do livro teve a tiragem de 2000 exemplares, que foram distribuição de forma gratuita e dirigida, voltada principalmente para parlamentares, sindicatos e bibliotecas do Brasil. Agora a ideia é traduzi-lo para inglês, para que outros países tenham acesso ao conteúdo sobre o projeto se tornou a primeira experiência mundial em larga escala para se ter um combustível automotivo ecológico e sem emissão de poluentes. (#Envolverde)

* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais  e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente.  É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.


Júlio Ottoboni

Sem Descrição

Leia também: