/apidata/imgcache/043bddef810cc1ae242d5408f289bd7b.jpeg

Polo Sul tem aquecimento recorde

Por Observatório do Clima –  Temperatura nos últimos 30 anos subiu três vezes mais rápido do que no resto do mundo; fenômeno tem ligação com frentes frias anormais no sul do Brasil O último lugar da Terra que os cientistas julgavam intocado pelo aquecimento global também está esquentando. E rápido.

Atualizado em 01/07/2020 às 15:07, por Redação Envolverde.

Por Observatório do Clima – 

Temperatura nos últimos 30 anos subiu três vezes mais rápido do que no resto do mundo; fenômeno tem ligação com frentes frias anormais no sul do Brasil

O último lugar da Terra que os cientistas julgavam intocado pelo aquecimento global também está esquentando. E rápido. Um grupo internacional de pesquisadores noticiou nesta segunda-feira (29) que o polo Sul esquentou três vezes mais rápido do que o resto do mundo nos últimos 30 anos.

As temperaturas na estação antártica americana Amundsen-Scott, localizada no polo Sul geográfico, subiram 0,6oC por década entre 1989 e 2018, contra 0,2oC da média mundial. Em 2018, o polo bateu um recorde de calor, com 2,4oC acima da média histórica (dois outros recordes seriam batidos no ano seguinte).

/apidata/imgcache/82f987f3939054a6d9fc18ca763064bf.jpeg

As medições foram publicadas por Kyle Clem, da Universidade Victoria em Wellington, Nova Zelândia, e colegas dos EUA e do Reino Unido no periódico Nature Climate Change.

Não está claro ainda o que isso significa para o futuro da Antártida (e da humanidade, já que o manto de gelo antártico poderia elevar os oceanos em 60 metros caso derretesse), nem se a tendência veio para ficar.

“Mas a real lição de Clem e colegas é que nenhum lugar é imune à mudança climática”, escreveram os geocientistas Sharon Stammerjohn e Ted Scambos, da Universidade do Colorado (EUA), em comentário ao estudo na mesma edição da revista.

Os registros consistentes de temperatura na Antártida têm apenas 63 anos. Eles começaram a ser feitos em 1957, quando a estação americana foi construída. De lá para cá houve muita variabilidade, inclusive com uma onda de frio anormal no começo da década de 1980.

O polo, além disso, era um lugar que ninguém imaginasse que fosse aquecer, devido à maneira como a Antártida está reagindo às mudanças do clima: o buraco na camada de ozônio, unido ao aquecimento global, tem deixado os ventos mais fortes no entorno do continente e mantendo o frio “engarrafado” em seu interior. O resultado disso é que a Península Antártica é um dos lugares que mais esquentam no mundo, mas o oeste antártico, que é mais alto e tem mais gelo (onde fica o polo) tem regiões que esfriaram.

Nos últimos 30 anos, porém, dois elementos têm concorrido para quebrar essa imunidade do polo Sul ao aquecimento: um fenômeno cíclico conhecido como Oscilação Interdecadal do Pacífico, no qual o oeste daquele oceano apresenta uma tendência de longo prazo de aquecimento, e o chamado SAM (Modo Anular do Hemisfério Sul), uma espécie de “campo de força” que regula as trocas de ar entre a Antártida e o restante do hemisfério Sul.

Nas últimas décadas, o SAM tem ficado positivo, por conta do aquecimento dos trópicos e do resfriamento do interior antártico por conta do buraco no ozônio.

O climatologista Francisco Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostrou em 2012 como o SAM positivo tem aumentado a formação de ondas de frio anômalas que atingem o sul do Brasil de tempos em tempos. O outro lado desse fenômeno é que as mesmas massas de ar que trazem o frio da Antártida carregam mais calor tropical para o continente. Clem e colegas mostraram que esse calor está chegando até o polo Sul.

Como o clima no interior antártico é muito variável, dizem Stammerjohn e Scambos, ainda não se pode discernir o sinal da interferência humana claramente em meio ao ruído da variabilidade natural. Outras regiões do continente, porém, já apresentam clara tendência de aquecimento, como o oeste anártico, onde quatro supergeleiras já entraram em colapso.

“A menos que tomemos medidas para achatar a curva das emissões de carbono, a contribuição da Antártida para um mundo mais quente e para o aumento do nível do mar poderia ser catastrófica”, escrevem.

#Envolverde


Leia também: