Notícias sobre as eleições para o Parlamento Europeu confirmam: o Partido Verde tornou-se uma força política expressiva na Alemanha e França e a tendência é firmar-se como expressão política da juventude em boa parte da Europa.
A pergunta que não quer calar é: por que o Partido Verde nunca decolou no Brasil?
Por que mais de 20 anos após sua fundação – por uma turma promissora que se tornou política profissional – o partido permanece nanico e nunca apresentou condições de ser mais do que é?
Por que hoje não é uma força unificadora dos ambientalistas, quando a área vem sendo duramente atacada pelos atuais governantes?
Um dos leitores assíduos desta série que venho publicando, jornalista e morador de Brasília faz um diagnóstico desalentador: “… lideranças caudilhescas que se eternizam na direção do partido, militância local e dispersa”, etc.
No bastidor se diz que os líderes do PV – os mais conhecidos eram maiores que a sigla. Sirkis, Gabeira, Juca Ferreira (que foi ministro da Cultura de Lula e Dilma), Gilberto Gil.
No Rio onde conheço um pouco a história dos militantes vi muitas brigas intestinas e muita gente se bandeando para outros partidos. Caso do André Corrêa, Maurício Lobo (ambos foram secretários de meio ambiente a despeito do PV a que pertenciam).
Em termos políticos a proposta do PV nunca foi clara.
Tentaram aplicar um certo pragmatismo que os fizeram se aliar a deus e o diabo (assim com minúsculas mesmo). Lizst Vieira eclipsou-se. Aspásia Camargo perdeu as eleições. Acho que sobrou Axel Grael em Niterói, liderança sóbria que talvez leve a estrela do PV adiante. A ver.
Depois de anos à frente da direção nacional do Partido Sirkis cedeu à liderança a José Sarney Filho, que é sabido e ressabido foi ministro do Meio Ambiente duas vezes, graças ao prestígio do velho Sarney e ao clã político que domina o Maranhão.
Não que tenha sido um mau ministro. No primeiro mandato (anos 90) até se destacou em várias questões – como por exemplo pedir vistas no processo que queria colocar a usina de Angra dos Reis como alternativa – durante a crise energética.
Também criou no Ministério a SQA Secretaria de Qualidade Ambiental – com a intenção de ajudar as prefeituras com aterros sanitários e manejo do lixo. Na época decisão bem acertada.
Portanto, não estou discutindo o talento nem a competência do ex-ministro. Mas o fato é que foi ministro do Michel Temer e não se firmou como uma liderança capaz de alavancar o PV. Tira-lo da atual desimportância política.
A última tentativa de tornar o PV uma expressão política nacional foi na campanha da Marina contra a Dilma para a presidência. Tentou unir o partido em torno do seu nome e não deu pé. Fábio Feldmann entrou e saiu mais depressa do que entrou.
Nas pesquisas que fiz, de 1991 a 2012 – permanecia a convicção de muitos de que ‘o meio ambiente não deve ser partidarizado’. A doutrina aqui é que ninguém devia falar exclusivamente sobre a causa. Melhor que todos os partidos pudessem ter seus políticos simpáticos à nossa agenda. De certa forma todos os partidos, e as principais centrais sindicais criaram núcleos de meio ambiente desde os finais dos anos 80.
Mas estes núcleos nunca conseguiram atuar programaticamente, com exceção do PT que criou uma coordenação nacional ( a SEMADS) e gozou de uma certa influência nos governos Lula e Dilma (primeiro mandato).
A política frentista mostra agora seus limites. Há mais de 10 anos presidindo a Frente Parlamentar Ambientalista – com mais de 200 deputados inscritos – o PV nunca conseguiu de fato esses votos em nenhum projeto de lei. Quem acompanhou a discussão do Código Florestal pode atestar o que estou dizendo.
Ao contrário, as bancadas que se fortaleceram no Congresso foram a dos predadores e contrários aos interesses ambientalistas. Os ruralistas estão mandando e desmandando. O atual Ministério do Meio Ambiente atua como sucursal do Ministério da Agricultura.
Em síntese, a doutrina da transversalidade da agenda ambiental e o pragmatismo político, impediram todos estes anos que o PV tivesse uma identidade clara e atraente.
Pena. Talvez caiba uma pergunta final: o que vão fazer os verdes – lideranças e militância – diante deste momento tão crucial?
Este texto faz parte da série sobre o ambientalismo brasileiro que venho publicando, desde abril, no site Envolverde/Carta Capital
Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.