Por Martha San Juan*
Protagonista de um dos maiores escândalos políticos e econômicos do país, a Petrobras busca se reinventar, resgatar sua imagem e restaurar suas finanças em uma situação adversa para a indústria mundial dos combustíveis fósseis. A crise gerada pelos preços em queda, o acordo climático de Paris e consequentemente um movimento propondo o uso de fontes mais limpas e renováveis de energia, já levou as maiores empresas do mundo a deixar de lado grandes projetos de exploração de petróleo.
Segundo a consultoria norueguesa Rystad Energy, desde que os preços do petróleo começaram a cair, há quase dois anos, a indústria petrolífera já suspendeu projetos da ordem de US$ 270 bilhões. A anglo-holandesa Royal Dutch Shell PLC, a americana Chevron e a australiana Woodside Petroleum anunciaram o cancelamento ou adiamento de projetos de alta tecnologia antes considerados vitais para sustentar a oferta do produto.
“Está havendo uma mudança estrutural na economia mundial, os países ricos estão se esforçando para se tornarem mais eficientes e usar menos petróleo”, afirma o físico José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e um dos maiores especialistas em produção de energia no Brasil. “Nos países da OCDE, o consumo caiu na ordem de 21% ao ano há dez anos. O que a Petrobras deveria fazer e outras companhias petrolíferas estão fazendo, inclusive nos Estados Unidos, é se concentrar nas regiões do pré-sal onde já encontrou petróleo, e abandonar os planos mirabolantes de se tornar grande exportadora de petróleo.”
O plano de reestruturação da Petrobras aprovado em 28 de abril pelos acionistas da companhia, indicou mudanças no estatuto social, corte de custos e cargos destinadas a tornar a empresa mais enxuta e eficiente. O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, tem reiterado que a produtividade nas áreas de exploração do pré-sal permanece como foco prioritário da companhia, e não fala em mudança a longo prazo diante do quadro de transição para uma economia de baixo carbono.
“O movimento atual reflete mais um momento específico do que mudança de longo prazo de estratégia”, comenta Leonardo Letelier, fundador e CEO da Sitawi, consultoria escolhida pelo think-tank inglês Carbon Tracker para uma análise das perspectivas do país em cenários restritivos de orçamento de carbono. “No entanto, como somos menos dependentes das nossas reservas, podemos focar o petróleo mais barato e viável, mantendo o orçamento de carbono alinhado com as metas do país e utilizar parte da receita para investir em fontes renováveis.”
Na véspera da reunião dos acionistas que aprovou o plano de reestruturação da Petrobras, em 28 de abril, o Observatório do Clima enviou uma carta ao presidente da empresa e ao conselho de administração, alertando que “a Petrobras deve buscar maneiras de ultrapassar suas atuais crises de caixa e endividamento com o cuidado necessário para não criar problemas para seu próprio futuro. E os ativos fósseis serão um problema em futuro relativamente próximo”. (#Envolverde)
* Martha San Juan é jornalista freelancer, passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Época, além das revistas Superinteressante, Galileu e Horizonte Geográfico. É doutora em História da Ciência e escreve sobre ciência, saúde, meio ambiente e responsabilidade social.