O Jongo Reverendo é uma casa que se dedica à valorização da cultura musical e dos rituais afro-brasileiros. No último sábado foi a vez da Mironga, um baile com força, ritmo, beleza que, nesta edição, recebeu a energia do Maracatu Ouro do Congo.
No salão decorado com atabaques e instrumentos de percussão, a pista foi pequena para tanta vibração. Com mais de uma dezena de integrantes, entre homens e mulheres vestidos a caráter, com suas roupas brancas, colares e adereços, não faltaram um belo estandarte com o rosto de um Preto Velho bordado, o grupo de ritmistas sambando o tempo todo com tremenda desenvoltura, e os puxadores de vozes possantes interpretando cantos que lembravam e reverenciavam as cerimônias de Umbanda.
Naquela atmosfera de magia o público se entregou de corpo e alma às músicas e às danças. Era impossível não se mexer diante de tanta alegria, felicidade, respeito, afeto, e presença. Uma pequena representação das nossas diversidades estava lá: negros, brancos, orientais; jovens de distintas faixas etárias; meninos, moças; namorados e namoradas; solteiros, casados e solitários; exímios dançarinos e os que se contentavam em apenas observar.
Por alguns minutos imaginei que dali para fora o Brasil poderia ser assim: um lugar em que as diversidades são valorizadas, elas se encontram, e convivem respeitosamente. Não por acaso a maioria masculina mais assistiu do que participou. Foram poucos os homens que se arriscaram dançar, balançar as cadeiras, e sambar.
Diante dessa constatação pensei que seria muito bacana se as crianças, desde os primeiros passos, fossem estimuladas a dançar para ganhar flexibilidade, leveza, maior equilíbrio físico e mental, e a ter contato e conhecer diferentes culturas e expressões artísticas e sociais. Adoções universalizadas com esses cuidados para-pedagógicos, poderiam se tornar importantes aprendizados para além das artes, contribuindo para a formação de pessoas mais divertidas, tolerantes, que dançam com desenvoltura para celebrar a vida e os encontros. E viva a Mironga! Por aqui, fico. Até a próxima.
Serviço:
Jongo Reverendo
Rua Inácio Pereira da Rocha, 170, Vila Madalena, São Paulo, SP
Telefone: 11 – 2769-0059
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.