Por João Diego de Souza, de jornalismo EAD Metodista –
Esta matéria faz parte do PEPE (Programa Envolverde de Parcerias Estudantis)
O tráfico de animais ilegal é um crime que consiste na retirada de animais silvestres de seu habitat natural e na sua posterior venda clandestina, para variados fins como laboratórios de pesquisas, colecionadores e até mesmo pet shops. Sua prática é realizada, geralmente por caçadores criminosos, sem escrúpulos, sem consciência ambiental e empatia animal. Visto que, além da prática em si, os cuidados e zelos com a conservação dos animais capturados, praticamente não existem. O transporte e alocação dos animais que são capturados dessa forma são bem precários, sem comida, sem água e muitas vezes, sem ventilação suficiente. Muitos morrem durante o transporte indevido e cruel, em função dessa condição precária de alocação. Que muitas vezes os mutilam, visto que são amontoados uns por cima dos outros, ocasionando lesões e conflitos entre os próprios. Além do mais, para acobertarem o tráfico e terem menor chance de serem descobertos, os traficantes de animais por muitas vezes, amordaçam, entorpecem ou deliberadamente os mutilam para que permaneçam quietos e apáticos.
O Brasil, devido à sua ampla biodiversidade, sempre foi um grande alvo de traficantes em busca de animais silvestres próprios e únicos, de nosso meio. Embora, tenhamos casos de tráficos de animais nativos e entende-se esses como animais próprios de nosso território sendo comprados pela população local, o nosso país sempre foi mais visado pelo tráfico internacional, ou seja, pela exportação de nossos animais mais exóticos e silvestres, para fins de pesquisas e para colecionadores estrangeiros. Cabe aqui, analisarmos esses dois fins de maneiras distintas:
O primeiro caso, sendo ele com finalidade de pesquisa animal, nos leva a questionar a moral e ética de pesquisadores que não se importam ou se comprometem em ter consciência da origem do animal de seu estudo. Pesquisas possuem os mais diferentes objetivos, que incluem, cosméticos, farmacêuticos, biológicos, químicos, dentre outros mais. Objetivos esses que, nos levam a crer, estarem acima da ética desses pesquisadores. A ciência por si só não pode ser sua justificativa. É necessário ter ética científica. O segundo caso, sendo ele com finalidade “colecionável”, se assim podemos classificar, uma vez que, colecionar vidas, por si só já nos demonstra um certo nível de megalomania e nos traz à tona a questão ética dessa prática. É talvez, o que motive e movimente mais, essa indústria de animais exóticos. Assim como bens e objetos de valor, esses animais encontram sua preciosidade também, na sua raridade. E possuir algum desses, na concepção daqueles que os adquirem, muitas vezes, se transforma em uma simbologia de status social, ostentação, poder financeiro e poder por si próprio. O que movimenta e incentiva todo um círculo social, daqueles que, convivem com esses colecionadores, uma vez que, transforma-se em uma espécie de competição por vaidade.
O Brasil, sempre foi um protagonista na exportação ilegal desses animais exóticos, sendo muitas vezes reconhecido como tal, no tráfico de animais internacional. Não obstante, o caso da serpente naja, que veio à tona recentemente, devido à um incidente com o seu traficante veterinário, nos mostra uma outra realidade até então, pouco discutida em nosso país. Deixamos de ser apenas, exportadores de animais, como também, possuímos indivíduos que alimentam esse crime, através de sua aquisição. Não somente em casos de animais nativos, como também em animais não pertencentes à nossa fauna. Estaríamos diante de um quadro novo ou apenas recém descoberto? Não fosse a mídia ter dado o devido enfoque no caso e ter repercutido nacional e até internacionalmente, um caso como esse teria ficado limitado às notícias locais?
Há casos famosos de animais exóticos criados por criminosos e traficantes de drogas, como Pablo Escobar que adquiriu e criou uma manada imensa de hipopótamos na Colômbia. Animais invasores e que não possuem predadores naturais, causando um desequilíbrio ambiental sem precedentes na fauna colombiana, além dos transtornos éticos e legais, na solução desse problema. Aqui no Brasil mesmo, há casos de traficantes que criaram jacarés em seus quintais com finalidades sórdidas de ocultação de homicídios. Há casos diversos de pessoas famosas, vide Mike Tyson que já criou Tigres de Bengala em sua residência. Em uma Live, Tyson relatou como adquiriu seu primeiro Tigre: “Estava na prisão a falar com um amigo a quem comprei um carro. E ele disse-me ‘troco carros por animais’. Perguntei-lhe de que tipo e ele respondeu-me cavalos e outros. O meu pai junta tigres e leões e isso é mais legal do que ter Ferraris’. Então disse-lhe para me arranjar um animal desses. Saí uns meses depois e quando voltei a casa deu-me uma cria.” Na mesma Live, em 28 de Março de 2020, no Instagram, com o Rapper Fat Joe, ele contou o caso do incidente com uma mulher que adentrou sua propriedade e teve sua mão dilacerada pelo animal e deu a seguinte declaração sobre a experiência de criar um tigre: “Eles matam alguém acidentalmente. São demasiado fortes, especialmente quando estamos a lutar (brincadeira) com eles. Atacamos, eles revidam, atacam-nos de volta e nós morremos.”
Como pode-se observar, animais exóticos são traficados pelos mais diversos fins e encontram sua motivação sempre com base em um egocentrismo com pitadas de megalomania, sejam como troféus ou símbolos de status de poder. Animais nativos também, todavia com um pouco menos dessa intensidade motivacional, porém com uma maior frequência quantitativa e cultural. Até quando, a humanidade continuará almejando brincar de Deus, ignorando sua compaixão e seus ensinamentos? A autoridade, dada por Deus à humanidade sobre os animais, possui um caráter de responsabilidade pela sua preservação e zelo. Jamais em caráter de propriedade ou vaidade.
João Diego de Souza -27/08/2020
321717 – Jornalismo EAD –
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