Falar sobre meio ambiente é falar sobre qualidade de vida para os brasileiros, é falar em progresso.
Eu era a única brasileira no grupo que visitava o chamado poço de sequestro de carbono da Peugeot, no (des)Mato Grosso. Franceses, belgas, o presidente mundial da montadora e eu chegamos de monomotor em Alta Floresta. Era (e sempre é) época de queimada na Amazônia: os olhos ardiam, o ar era pesado, tamanha a quantidade de fuligem. Em solo, reinava o pium, um inseto danado e resistente, deixando marcas doloridas na pele.
Apesar do nome estranho, o tal poço de sequestro de carbono nada mais era do que uma iniciativa de replantio de floresta nativa. Um antídoto para recuperar a terra devastada pela voracidade e pelo interesse de curto prazo de madeireiros, grileiros, agricultores e criadores de gado irresponsáveis.
Foi uma vergonha do início ao fim. Nas conversas, ora em francês, ora em inglês, jornalistas, empresários e cientistas “gringos” davam um banho. Eles sabiam muito mais do que eu sobre a floresta que concentra um quinto da água doce e a maior diversidade de plantas e animais do planeta.
Discutir meio ambiente, eu aprendi, é discutir progresso civilizatório, é pensar com inovação e conhecimento científico para os problemas que a humanidade enfrenta: mudança climática, contaminação das águas, aridez e erosão do solo, comércio internacional e aumento da produtividade agropastoril…
Jurei para mim mesma que me tornaria uma expert na floresta amazônica. E me dei conta de que o grande mal da Amazônia é que o país mais próximo dela é o Brasil. Basta um olhar histórico: a elite brasileira, seja ela política ou econômica, ainda tem resistência a discutir a regulamentação do trabalho doméstico, o expediente aos domingos, a punição a quem mantém empregados em regime semelhante à escravidão. A lista é longa.
Aprendi em pleno Arco do Desmatamento, que se estende do Mato Grosso em direção ao norte do país, os efeitos práticos da lambança que o dinheiro, o poder e a bala promovem há séculos em nosso país. Sob os olhos complacentes de muitos. Muitos mesmo. A devastação na Mata Atlântica, no Cerrado e nas Araucárias não me deixa mentir.
Falar sobre meio ambiente é falar sobre gente, sobre qualidade de vida para os brasileiros, é falar em progresso.
Sempre fui nerd e não era diferente como editora de Meio Ambiente da segunda maior revista do país. Onde, aliás, me chamavam de “defensora de passarinhos”. Isso porque criei uma saia justa ao questionar os programas de atraso propostos pelos candidatos à Presidência da República, em 2002. José Serra e Garotinho foram os que mais se incomodaram com minhas perguntas sobre seus programas de governo, aliás, semelhantes aos do atual presidente brasileiro, o Inominável.
Conhecido por “mandar demitir” jornalistas que lhe desagradavam, Serra me intimidou em público. Diante do Publisher da editora, do Diretor de Redação e dos meus colegas editores, na roda de entrevistas com presidenciáveis, o candidato tucano tentou me constranger ao perguntar algo do tipo “quem você pensa que é para me perguntar isso?”. Eu respondi: “sou jornalista especializada em ciência e inovação, estudei filosofia, fiz pós em gestão ambiental e sou editora de Meio Ambiente”. Silêncio. Só houve trégua quando Serra soube que eu era palmeirense, como ele. De resto, nos odiamos do início ao fim.
Eu questionava o projeto ambiental tucano, que intitulei de Arrasa Brasil, em uma paródia ao programa de governo de FHC e do PFL, o Avança Brasil. Foi mais ou menos o mesmo com Garotinho. Não entrevistei Lula. Na data da sabatina, eu participava de um rally de combustíveis alternativos entre Heidelberg e Paris. Programas e intenções semelhantes, no entanto, são praticados há décadas pelos caciques do PMDB, do PFL, do DEM, do PT, da oligarquia Sarney, Barbalho, e outros tantos.
Não há segredo sobre como funciona o desmatamento da Amazônia. Manda quem pode, e a impunidade é lei. Sob a complacência das “autoridades” de todas as esferas, de todos os poderes. Cheguei à conclusão de que nosso complexo de vira-lata, como diria Nelson Rodrigues, nos leva a ter vergonha da floresta, do subdesenvolvimento que ela simboliza. Para muitos de nós, brasileiros, progresso é sinônimo de cimento, asfalto, chaminés com fumaça, piscina aquecida e agrotóxicos. Soa familiar?
Voltei outras vezes para reportar aos leitores o que acontecia nos rincões da Amazônia. Não foi a primeira vez que sai com medo dali. Mas isso fica para um próximo capítulo.
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fim
(#Envolverde)