Promover a educação financeira no país, buscando uma relação mais saudável do brasileiro com o dinheiro, nunca foi tão importante quanto no momento atual. Após uma década de crescimento econômico, que impulsionou milhões de pessoas à classe média, facilitou o acesso ao crédito e fomentou o consumo, o Brasil vive hoje um período de adversidade. O aumento do desemprego e da inflação foi acompanhado pela piora de indicadores socioeconômicos e pela elevação dos níveis de endividamento da população. Órgãos de proteção de crédito calculam que cerca de 40% da população brasileira adulta esteja inadimplente. Dentro desse contexto, torna-se ainda mais urgente avançar em programas e iniciativas voltadas à melhoria da relação das pessoas com produtos financeiros e com o dinheiro.
São os comportamentos individuais que fundamentam o desenvolvimento sustentável de uma sociedade. No âmbito financeiro, é necessário que as pessoas aprendam a gerenciar os limitados recursos privados e coletivos, para não somente atender às necessidades presentes, como também para suprir as necessidades futuras. Isso não ocorre por meio do acesso facilitado que hoje em dia temos a conteúdos e ferramentas que prometem ensinar a controlar um orçamento de forma eficiente. Ocorre, acima de tudo, a partir da motivação de cada um e do puro interesse em aprender. Essa visão de que é necessária uma mudança de atitude vem da compreensão do valor imensurável que a educação financeira traz para a vida das pessoas. Nesse sentido, ela é a chave para empoderar o indivíduo de forma que tome decisões melhores, mais conscientes e bem informadas, favorecendo o bem-estar próprio e de todos à sua volta.
Dentre as iniciativas públicas e privadas para educar financeiramente a população brasileira ganha destaque a evolução da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), estabelecida como política de Estado em 2010 e com o objetivo de mobilizar os diversos setores da sociedade em torno da promoção de ações de educação financeira. Para exemplificar a evolução, cabe destacar que algumas instituições de ensino já vêm destinando maior espaço ao tema, oferecendo as aulas como disciplina complementar ou inserindo o tema transversalmente, e empresas evoluíram seus programas e passaram a participar anualmente da Semana Nacional de Educação Financeira. Esse é um passo importante para que, no médio prazo, possamos criar uma cultura de planejamento e educação financeira.
Para além da questão monetária, a condição financeira comprovadamente gera impactos na saúde e no bem-estar do indivíduo. Dados do Programa SulAmérica Saúde Ativa apontam que problemas com dinheiro são a segunda principal causa de dificuldade de concentração no trabalho, depois da falta de tempo, e que pessoas endividadas têm uma percepção de vida, saúde e produtividade pior do que a média. Vale destacar que a relação entre educação e saúde financeira dialoga com todas as dimensões da vida privada e também da sociedade, eventualmente impactando na saúde pública e na política monetária, entre outras frentes. Fomentar o engajamento dos indivíduos no processo de aprendizado sobre o uso do dinheiro e de produtos financeiros no país, portanto, é um caminho que permite avanços saudáveis para todos.
*Tomás Carmona é superintendente de Sustentabilidade da SulAmérica