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Investimento em filantropia deveria crescer durante uma crise

Foto: Shutterstock
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Por Andre Degenszajn – 

O Brasil já passou por muitas crises. Inflação a 80% ao mês, apagão de luz – e agora o da água -, dólar a quase R$ 4, desemprego em níveis recordes. Em 2015, um novo abalo econômico bate às portas: a expectativa é que o Produto Interno Bruno brasileiro cresça, se muito, 1,7% neste ano. Em um cenário como este, como ficam os investimentos sociais? Vão sofrer cortes drásticos? A crise também deve atingir as organizações sem fins lucrativos?

Assim como em todo país, a filantropia depende do crescimento da economia e da geração de riqueza. De forma geral, quando a economia vai mal, as condições para essas organizações também ficam menos favoráveis. Mas, por mais difícil que possa parecer, o investimento social não é atingido na mesma proporção e velocidade em que uma crise chega às empresas. A crise no investimento social é sempre mais sutil e demorada para ser percebida. Mas ela chega.

O mais importante durante uma crise é perceber que é durante a instabilidade econômica que o investimento social se faz ainda mais necessário e, portanto, na medida do possível, deveria até crescer. É na crise que as fundações podem ser mobilizadas com agilidade para suprir necessidades.

Vejamos o que aconteceu durante a crise imobiliária de 2008 que atingiu os Estados Unidos. Num primeiro momento, ela acabou afetando também as fundações. Isso porque, diferente do que acontece no Brasil, nos Estados Unidos, as fundações são mantidas por fundos patrimoniais, ou seja: elas recebem investimentos que vêm da rentabilidade do capital, que fica investido no mercado financeiro. O problema foi que, naquele período, alguns fundos chegaram a perder 30% de seu patrimônio.

A filantropia, então, tinha tudo para afundar. Mas os administradores dos fundos pararam um minuto e pensaram. Passar a investir menos em projetos sociais significa que alguns deles terão de ser descontinuados. Se é justamente numa crise que as fundações se mostram mais necessárias, o ideal seria inverter o raciocínio. Foi por isso que os administradores dos fundos patrimoniais decidiram aumentar a verba para as obras assistenciais. Ao invés de investir 5% do patrimônio, passaram a aplicar 7%. Obviamente que esta estratégia não pode se manter por muito tempo, sob o risco de comer boa parte do patrimônio do fundo.

No Brasil poucas fundações têm recursos vindos de fundos patrimoniais. A maioria recebe repasses anuais, em forma de doações de uma empresa mantenedora ou de uma família ou elas mesmas captam doações. De qualquer forma, é a atitude o que importa. Mesmo que a tendência seja de uma queda no investimento, patrocinadores realmente preocupados com o futuro das fundações e, até mais do que isso, patrocinadores de fato revolucionários, que estejam preocupados com o futuro dos projetos que eles financiam, não permitem que o capital investido diminua. É neste momento que o investimento deve aumentar. Mas é preciso ter visão de longo prazo para o investimento social e menos vinculado aos resultados trimestrais, no caso das empresas.

* Andre Degenszajn é bacharel e mestre em relações internacionais e secretário-geral do GIFE, organização que congrega cerca de 130 entidades que investem R$ 2,4 bilhões por ano na área social.