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Se vida fosse uma pintura, qual seria a sua?

Pintura: Ayao Okamoto​, Trilhas II, técnica mista sobre tela, 1994
Pintura: Ayao Okamoto​, Trilhas II, técnica mista sobre tela, 1994

Por Leno F. Silva – 

A vida também pode ser definida como uma pintura, a qual nos permite a utilização de diversas técnicas, materiais, pincéis, tintas, cores e outros artifícios, a fim de torna-la especial, diferente, única e representativa.

O que me atrai nas pinturas são as diversas possibilidades de expressão. Cada artista se entrega ao trabalho criativo com o que de melhor tem para expressar, e ao concluir a obra, se reconhece nela e independente das interpretações do público, sente-se realizado e novamente motivado para reiniciar a labuta.

O que me encanta em cada um de nós é a nossa capacidade desenvolvimento como seres únicos, munidos de racionalidade, sentimento, exercício crítico, discernimento e tantas outras qualidades e imperfeições, as quais nos permitem fazer escolhas para existirmos neste mundo.

Um pintor busca sistematicamente inspirações para as produções dos seus quadros. Trata-se de uma luta incansável no sentido de encontrar as maneiras mais adequadas de expressão, sejam elas abstratas, figurativas, concretas. Há muita transpiração no exercício criativo de dar forma ao que é concebido mentalmente, mas quando o resultado se consolida a satisfação é imensa.

Em tempos de ânimos acirrados numa sociedade em que o individuo não aprendeu a se constituir como artista de sua própria vida falta compreensão interna para aceitar diferenças, respeitar gostos distintos, cores antagônicas, visões de mundo divergentes e jeitos incomuns de convivência.

A soma de todas as nossas vidas faz o Brasil ser o que é. Estamos em processo de redescoberta e de aprimoramento. Talvez um exercício necessário seja cada um ter sempre à mão pelo menos um pincel e um conjunto de tintas e cores para construir, a cada dia, essa pintura imaginária, fruto daquilo que pretendemos ser e que pudesse inspirar o desejo pessoal e coletivo de País, para além das texturas já sabidas, buscando harmonias de cores, de arranjos, e de visões as quais se transformem nas expressões das nossas diversidades, pouco respeitadas e não valorizadas. Por aqui, fico. Até a próxima.

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.