Por Michel Alcoforado* –
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em seu último relatório sobre a situação ambiental no mundo, sentenciou: Cada vez mais, o Homem detona o meio ambiente e a conta já está cara para o planeta.
Certamente, a maioria dos leitores já terá uma resposta pronta: O imbróglio ambiental que vivemos é resultado de um modelo de sociedade no qual o consumo excessivo de produtos e serviços permeia todas as relações sociais. E mais, também estamos certos de que consumimos não somente pelo prazer individual, mas ao contrário, é na busca torpe pelo status, pela diferenciação e exclusividade que colocamos o destino do planeta em risco. A culpa é dos consumidores.
Há poucos meses, Flávio Gikovate afirmou que o consumismo das elites brasileiras é fruto de um desespero. Diante das angustias cotidianas e de uma vida vazia de sentidos, nos obrigamos a comprar. Sem saber o que é supérfluo ou necessário e na busca pela satisfação dos nossos desejos, colocamos a vida do coletivo (meio ambiente) em risco. Somos todos egoístas e consumistas.
Não é raro observar essa visão negativa sobre o consumo em toda parte. O problema é que os especialistas esquecem que só é possível consumir algo que foi produzido. Esses são fenômenos inseparáveis. Assim, não há como festejar quando a economia bate recordes de produção ou crescimento e protestar quando o consumo das famílias aumenta. São apenas duas pontas do mesmo fato.
Com isso, pergunto aos leitores: Por que insistimos em penalizar os consumidores pela questão ambiental quando sabemos que eles apenas compram o que é produzido? Por colocamos sobre as costas dos indivíduos, todo o peso de um trabalho que deveria estar sendo feito pelos grandes conglomerados industriais? Por que culpamos os cidadãos quando deveria ser o Estado brasileiro o verdadeiro fiscalizador e regulador de linhas produção que agridem o meio ambiente dia e noite? São os consumistas os culpados?
É preciso recuperar o duplo sentido do sufixo grego ismo, de consumismo. Este pode significar tanto uma doença ou patologia quanto trazer consigo a noção de um sistema de ideias, de ideologia. Defendo a segunda posição. Sei que vivemos em um modelo de sociedade cujo o ato de consumir significa muito mais do que uma simples relação de compra e venda, de débito ou crédito. Ao comprar criamos significados, acessamos novos universos, construímos nossa identidade e marcamos nossa diferença.
Apesar disso, concordo com os ambientalistas que nossa sociedade está criando um sério problema ambiental para si. Não há como continuar no mesmo ritmo. Falta Planeta. Mas será que a solução é incentivar a diminuição do consumo, em geral, sempre do Outro? Afinal, como construir um discurso legítimo e eficaz que convença milhares de brasileiros que só agora, depois de séculos, puderam comprar o primeiro carro que o legal é andar de bicicleta?
Enfim, enquanto os culpados foram os Outros, vai faltar brejo para tanta vaca. (#Envolverde)
* Michel Alcoforado é antropólogo e sócio fundador da Consumoteca.