Por Madeleine Penman, da IPS –
México, abril 2017 (IPS) O cenário de uma das fronteiras mais conhecidas no mundo, ao redor de 1000 quilômetros de uma cerca de metal poroso, que divide vidas, esperanças e sonhos entre os Estados Unidos e México é sem dúvida esmagador, mas não do jeito que esperávamos. Mesmo com o discurso da campanha eleitoral dos Estados Unidos no ano passado, o limite que separa estes dois países hoje se apresenta absurdamente “tranquilo”.
Não é possível encontrar homens, mulheres e crianças como Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, esperava que invadissem o local.
Também não tem ninguém trabalhando no poderoso muro que Trump prometeu construir em 3000 quilômetros de fronteira. Nem estão os 5000 agentes que incrementariam a segurança no local.
Mas na fronteira hoje existe uma confusão e pavor gigantes. Segundo os defensores humanitários é a “calma antes da tempestade” nada novo, porém podem se tornar algo muito pior. As promessas de Trump não se materializaram, mas estão em andamento junto a outras práticas nas fronteiras.
O impacto deste controle fronteiriço na vida das pessoas que vivem constantemente o terror de ser deportadas com violência extrema estão começando a ser visíveis, o que pode gerar uma crise de refugiados.
Semear um discurso de ódio e medo
Desde que iniciou sua campanha pela presidência Trump chamou de “delinquentes e estupradores” aos imigrantes e refugiados de México e América Central. No reconheceu o sofrimento dos milhares de homens, mulheres e crianças que vivem e situações de conflito, alguns nos países mais perigosos do mundo como El Salvador e Honduras, onde precisaram fugir para sobreviver.
Elaborar leis confusas sem assessoria sobre sua aplicação
Diversas leis propostas por Trump nos primeiros dias de mandato pretendiam fechar a fronteira para imigrantes e refugiados à procura de um local seguro nos Estados Unidos. Uma normativa de 25 de janeiro tinha por objetivo garantir a expulsão de migrantes e refugiados o mais rápido possível. No entanto dados revelam que as autoridades fronteiriças não fazem ideia de como aplicar os caprichos de Trump.
Enviar as pessoas de volta sem fazer perguntas
Todo ano, milhares de pessoas da América Central e outros países atravessam a fronteira de México e Estados Unidos à procura de segurança e uma vida melhor.
No entanto ao invés de entrarem nos Estados Unidos ganhando refúgio para salvar suas vidas, o serviço de Aduanas e Proteção de Fronteiras nega a entrada delas.
Desde San Diego, Califórnia até McAllen, Texas desde 2015 os agentes das fronteiras são conhecidos por fazer justiça com as próprias mãos, rejeitando solicitações e afirmando que ninguém podem entrar. Esta realidade é imoral e vai contra os princípios jurídicos internacionais e os compromissos assumidos pelos Estados Unidos onde existe o direito de solicitar refúgio.
“Você não sente vergonha de ajudar terroristas? ” Foi assim como uma funcionária de Direitos Humanos em México foi alvo de piada por um agente de fronteira em Arizona quando acompanhava pessoas de Centroamérica para garantir que os respeitassem.
Ignorar as organizações criminosas que aterrorizam os refugiados
Entrar nos Estados Unidos sem documentação é quase um suicídio, as pessoas ficam expostas aos carteis de drogas e os grupos criminosos que controlam a fronteira e que estão dispostos a se aproveitar das pessoas desesperadas.
Desde a eleição de Trump os traficantes de pessoas aumentaram seus valores. O Secretário de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kelly, desde novembro de 2016 a taxa pelo tráfico humano aumento de 3500 dólares a 8000. Mas o secretário não reconhece o risco da vida destas pessoas que fogem dos seus países apesar do controle de Trump. Com o muro os traficantes vão ganhar além de dinheiro, poder.
Externalizar a responsabilidade
Há múltiplos questionamentos sobre os planos dos Estados Unidos de militarizar a fronteira e negar a entrada dos refugiados. Nas últimas semanas o ministro de Relações Exteriores de México, Luis Videgaray anunciou que México não aceitaria que pessoas estrangeiras fossem deportadas dos Estados Unidos por motivo da ordem de 25 de janeiro.
Mas como isso será posto em prática? México se negará a receber imigrantes? Teremos mais campos de refugiados na fronteira México – Estados Unidos? Ou os imigrantes serão presos em centros de detenção?
Segundo Amnistia Internacional em México também não há um plano especifico para receber as pessoas que Estados Unidos rejeita, gerando uma grande confusão. Nesse contexto os imigrantes e refugiados estão expostos a violação dos seus direitos, com medo do governo americano os deter e expulsar e com a incerteza do que espera para eles em solo mexicano com inúmeros abusos. (IPS/#Envolverde)