Por Júlio Ottoboni*
O objetivo é minimizar os estragos causados por tempestades.
O Brasil contará já neste verão com um sistema inédito de identificação de tempestades severas. Os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, desenvolveram uma tecnologia inédita para fazer a previsão imediata de tempestades no cenário de extremos climáticos.
A ferramenta fornecerá à população informações sobre a ocorrência de raios, rajadas de vento e chuvas de granizo, incluindo o tamanho das pedras de gelo que assolaram boa parte das regiões Sul e Sudeste nas últimas semanas. Os eventos extremados no clima estão ligados às alterações ocorridas pelo aquecimento global.
O objetivo do Inpe é reduzir o impacto desses eventos sobre as cidades e a consequente queda no número de mortes causadas por deslizamentos encostas e inundações, desabamento de casas e por quedas de árvores, por exemplo.
Também se espera que esses dados sejam aplicados para expandir a agricultura de precisão, diminuindo os prejuízos provocados por eventos extremos. Os equipamentos já foram instalados, e a expectativa dos pesquisadores é que o SOS Chuva entre em operação em novembro deste ano na região de Campinas (SP), onde há um volume de ocorrências severas anormal.
“A previsão é tão precisa, que será possível dizer quando e quanto vai chover em determinado bairro. Vamos saber se haverá granizo e qual o tamanho das pedras. Poderemos orientar a população em detalhes, evitando uma série de acidentes em decorrência de queda de árvores, raios, deslizamentos de terra ou inundações. Isso é nova ciência”, explicou o pesquisador Luiz Augusto Machado, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), órgão do Inpe. Ele coordena a equipe de mais de 50 cientistas brasileiros e estrangeiros que trabalham no SOS Chuva.
As informações coletadas por um radar de dupla polarização, no período de dois anos, possibilitaram o desenvolvimento de um sistema de alerta de tempestades severas. Os pesquisadores usaram também sensores, pluviômetros e novos algoritmos na infraestrutura necessária para que o projeto. Foram precisos 10 anos de estudos para que o SOS Chuva fosse levado a prática.
Com capacidade para cobrir uma área de 100 quilômetros, o radar usado no SOS Chuva custou 600 mil euros, pagos com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que investiu R$ 3 milhões no projeto. Embora o Brasil já disponha de radares desse tipo, o conhecimento ainda é restrito.
Segundo o Inpe, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) possui nove radares de dupla polarização, mas nenhum usado para previsão imediata de chuvas. Entretanto, o órgão tem diversos projetos em andamento para alertas sobre catástrofes naturais em parceria com a Defesa Civil.
Para o pesquisador Luiz Augusto Machado, o projeto foi apresentado para a Defesa Civil, que usará as informações para minimizar os danos provocados pelas chuvas nas áreas de risco. Ele espera que a população interaja com o programa SOS Chuva. Para isso, será desenvolvido um aplicativo para o usuário enviar informações. “A ideia é que daqui a um ano todo mundo tenha o aplicativo para poder se proteger”, disse Machado. (#Envolverde)
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente. É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.