por Andrea Fernandez *- 

O mapa mundi fica pequeno na hora de escolher onde passar as próximas férias. Nenhuma distância parece demais: tem a incrível cidade de Sevilha, na Espanha, na região ao sul do país, famosa pela dança flamenca e por preservar seu passado mouro. Ou Roma? Com seus 3.000 mil anos de arte, arquitetura e cultura. Que sonho, conhecer o Coliseu; ou melhor ainda, a Cidade do Vaticano! Mas também não dá para resistir à Grécia, suas praias, ilhas e as colunas, esculturas, joias e relíquias da cidade de Atenas.

Antes de fechar o pacote de viagem, é bom saber que a Europa está uma brasa, mora!! Literalmente. O caos climático está instalado por lá, com ondas de calor, incêndios e inundações nos principais destinos turísticos europeus; tendo os governos que alertar aos que embarcam sobre o risco acrescido de mortes e ataques cardíacos. Os problemas estão por todas as partes, em todos os países. Em plena alta do verão europeu, os turistas estão vivendo férias inesquecíveis.

Para ilustrar. Na Grécia, Claire Jones – inglesa de 36 anos em lua de mel com seu novo marido Paul – teve de sair correndo a pé, depois que o hotel onde estavam hospedados pegou fogo. Outro inglês, Chris Elworthy – um agricultor de 42 anos – perdeu  £ 10.000 libras esterlinas depois que suas reservas foram canceladas sem reembolso, pois o hotel informou que não havia seguro com cobertura adicional para desastres naturais. Alguns relatam caminhadas de 16 quilômetros, sob um calor escaldante.

Não parece ser um evento isolado. Alguns estudos apontam que em 25 anos, o clima de Madrid vai ser como Marraquexe, no norte de África, e Londres vai parecer Barcelona. Este seria um duro golpe para a maioria dos países europeus. Em Portugal, por exemplo, o turismo é responsável por 15,8% da economia nacional[1], enquanto na Grécia, 14,9% do dinheiro que entra vem do turismo[2], segundo informações amplamente divulgadas.

O problema não para por aí: a temperatura mais alta tem efeitos sobre a economia, reduz a produtividade dos trabalhadores, ocasiona perdas na colheita agrícola, provoca aumentos nas taxas de mortalidade e disrupção do comércio internacional. Definitivamente, a notícia não é boa para o velho continente, pois a Organização Meteorológica Mundial (OMM) já alertou que as ondas de calor se tornarão cada vez mais frequentes e se estenderão por todas as estações.

Há que se lembrar que as ondas de calor são parte do mesmo pacote do aquecimento global, que vem junto com outros problemas, tais como deslizamentos, ciclones, frio fora de época, inundações, chuvas torrenciais… e, nestes mesmos dias em que a quentura frita, logo ao lado na Suíça, uma violenta tempestade com rajadas de vento a 200 quilómetros por hora causou a morte de um pessoa e feriu outras 15.

O fato é que o calor mudou o mapa do turismo do mundo e a European Travel Commission – órgão da Comunidade Europeia para o turismo – já divulgou que os países mediterrâneos devem receber 10% a menos de turistas até novembro, em comparação ao ano passado.

Se não dá para ir para a Europa, nem para os Estados Unidos – que também vem marcando altas insuspeitáveis, ultrapassando os 50° C, na Califórnia, os turistas do mundo estão vendo o Brasil como um destino atraente. Está acontecendo: até agora o país já recebeu 92% do total de visitantes que vieram no ano passado. A maior parte chega do nosso próprio continente, dos países vizinhos e Estados Unidos também. Segundo o Ministério do Turismo, os turistas estrangeiros injetaram – nesses primeiros meses do ano – US$ 2,721 bilhões de dólares (cerca de R$ 13 bilhões de reais) na economia brasileira[3]. Significativamente 40% a mais do que no ano passado.

Além das estratégias do governo federal, estados e municípios também devem se preparar para a oportunidade de ouro que se apresenta. Mas há uma regra: manter o mato no mato, as águas limpas, e fazer tudo o que for possível para que o país não perca seu carisma magnético de gente alegre e hospitaleira.

[1] Informação publicada em <https://www.publico.pt/2023/07/18/economia/noticia/peso-turismo-economia-devera-ultrapassar-valor-2019-preve-wttc-2057245>. Acesso: 27 jul.2023.
[2] Informação publicada em <https://tnews.pt/turismo-na-grecia-aproxima-se-dos-niveis-pre-pandemicos-revela-wttc/>. Acesso: 27 jul.2023.
[3] Informação publicada em <https://www.gov.br/pt-br/noticias/educacao-e-pesquisa/2023/07/brasil-recebe-mais-de-3-2-milhoes-de-turistas-internacionais-no-primeiro-semestre-de-2023>. Acesso: 27 jul.2023.

*Andréa Ferraz Fernandez é jornalista. Tem doutorado na área da Ergonomia da Informação e pós-doutorado em Comunicação Audiovisual, pela Universidade de Málaga, Espanha. É docente da Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT, lecionando nos Programa de Pós Graduação em Estudos da Cultura Contemporânea (ECCO), no Programa de Pós Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM) e no Curso de graduação de Cinema e Audiovisual.