Economia

Os ODS na agenda do setor financeiro

por Guilherme Teixeira e Cristóvão Alves –  

Em 2015, o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) consolidou uma agenda comum com responsabilidades compartilhadas por governos, setor privado e sociedade civil. Após mais de dois anos de seu lançamento, os 17 objetivos, detalhados em 169 metas, vêm sendo usados como métricas de avaliação de impacto e direcionadores de estratégias de empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável. No entanto, o atingimento desses objetivos requer recursos, e é aí que investidores e empresas vêm buscando oportunidades para alinhar suas estratégias de sustentabilidade com produtos e serviços voltados aos ODS.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, o atingimento dos 17 ODS esbarra numa lacuna de investimentos anuais da ordem de US$ 2,5 trilhões, sendo necessário, portanto, um engajamento crescente dos investidores com estas metas. Um ano após a emissão do primeiro título de dívida direcionado a atender aos ODS (SDG bonds, em inglês), pelo Banco Mundial, em março/2017, outros agentes financeiros foram responsáveis por iniciativas semelhantes:

  • O HSBC, em novembro/2017, foi o primeiro banco comercial a realizar uma emissão de SDG bonds, no valor US$ 1 bilhão.
  • O BBVA lançou, em fevereiro/2018, um compromisso (sustainable finance pledge) de alocar EUR 100 bilhões em projetos alinhados aos ODS até 2025. JP Morgan e Citigroup assumiram compromissos similares.

Várias iniciativas vêm sendo desenvolvidas para que os ODS orientem tomadas de decisão de investimento, como o desenvolvimento de frameworks, índices, taxonomias e métricas para avaliação de seus efetivos impactos. Destacam-se a taxonomia criada pelos fundos de pensão holandeses APG e PGGM (Sustainable Development Investments), que classifica 13 dos 17 objetivos como “investíveis”, e a metodologia criada pela gestora de ativos NNIP, para avaliação de investimentos em equity de acordo com seus impactos para os ODS.

O otimismo gerado por estes anúncios no público geral contrasta com certo ceticismo entre os especialistas. Como o conjunto dos ODS é amplo e pode comportar uma diversidade de projetos, há a preocupação de que alguns investidores apenas se apropriem desta terminologia para categorizar e comunicar investimentos que já estão em suas carteiras, sem adicionar novas “lentes” na tomada de decisão que mobilizariam mais recursos para impacto positivo.

De fato, mensurar o progresso das empresas apoiadas e as adicionalidades geradas pelos investimentos alocados para os 17 ODS é desafiador. De acordo com a gestora global de ativos Schroders, menos de 20% dos 169 indicadores para mensuração de progresso dos ODS poderiam ser medidos ao nível da empresa e menos de 8% teriam dados disponíveis atualmente. No Brasil, um levantamento da B3 com 147 empresas abertas apontou que apenas 13% considerou, mesmo que de forma aspiracional, os ODS em seus relatórios anuais de 2016.

Uma avaliação de terceira parte acerca dos frameworks de investimento ou da emissão dos títulos de dívida para os ODS é uma ferramenta para mitigar e superar estes obstáculos. Os “irmãos mais velhos” dos SDG bonds, os green bonds (títulos verdes), devem servir de exemplo. O mercado de títulos verdes, inaugurado há quase dez anos também pelo Banco Mundial, e o de títulos sociais (social bonds) vêm se expandindo, e as avaliações de terceira parte garantem maior transparência, avaliando não só se há benefícios socioambientais claros originados pelos projetos e ativos financiados, bem como a capacidade do emissor para lidar com potenciais impactos negativos associados.

Mesmo para os investidores que não optem inicialmente por desenvolver mecanismos financeiros específicos, os ODS auxiliam na mensuração do impacto de suas carteiras, possibilitando que investidores e empresas utilizem um direcionador comum para suas métricas.

Por terem sido desenvolvidos em um processo global, liderado pelas Nações Unidas, com envolvimento de diferentes grupos de interesse, os ODS conferem maior grau de legitimidade e engajamento a todos os atores envolvidos. Os faróis já estão definidos e está claro o que devemos alcançar. O próximo passo é traduzir isso na alocação dos recursos, para atingirmos um 2030 mais sustentável que 2015.

Guilherme Teixeira é consultor da SITAWI Finanças do Bem

Cristóvão Alves é analista-chefe da SITAWI Finanças do Bem

Fontes:

https://impactalpha.com/world-bank-raises-173-million-with-first-sdg-bond-45b55e7f88f1/

https://www.reuters.com/article/world-bank-issues-first-un-sustainable-d/world-bank-issues-first-un-sustainable-development-bond-idUSL5N1GL61E

https://www.top1000funds.com/analysis/2017/08/17/dutch-pension-funds-embrace-un-goals/